sexta-feira, 5 de março de 2010

Fracos no País, fortes numa Europa sem Ideal

Somos um País que acredita pouco na escola como local de formação de cidadãos. No entanto havia necessidade de cursos de formação específicos para políticos que, com base numa escola de formação administrativa e de gestão, tivesse essa variante entre as suas opções finais. Mesmo que a sua qualidade não fosse muito além da das escolas actuais, que, diz-se, não primam pela qualidade, haveria decerto um acréscimo de qualidade em relação à dos actuais políticos.
Quem forma os políticos da nossa praça? Na política não se pode vedar o cesso a ninguém. Se na política são necessários ideias elas adquirem-se em qualquer lugar e em parte alguma especificamente. No entanto, se os nossos políticos tivessem passado por escolas daquele tipo, não brandiriam ideias de modo tão leviano como o fazem, tão reprodutoras de modelos antigos. As boas escolas de hoje incutiriam ao menos uma preocupação de não se copiar apenas o passado.
Os partidos existentes têm tido a tarefa de preparar os seus próprios elementos. Os que se arrogam a propriedade de certas ideias mais consolidadas pelo tempo são os que reproduzem melhor os modelos antigos. Nos discursos desses políticos as adaptações são mínimas e as que ocorrem são mais por uma questão de audiência do que por uma mudança significativa de convicções. A linguagem é igualmente acintosa e incisiva.
Outros partidos dedicam-se às Universidades de Verão e outras iniciativas do género, que sirvam para os velhos pavonearem vaidades e os novos experimentarem o seu loock. Umas ideias sempre se vão adquirindo, se não for aqui nos jornais de referência, ideais estão postos de lado, o que há a apurar é o olhar e a visão causada, a impressão que se consegue provocar na audiência. Hoje são estes os aspectos em que se tem que apostar desde a juventude.
Até por uma questão de facilidade e democraticidade de acesso, uma formação universitária própria para políticos permitiria aos partidos políticos uma escolha mais ampla e menos condicionada. Por outro lado não obrigaria os jovens a escolhas precipitadas, teriam tempo para adicionar a militância a uma aprendizagem mais descomprometida e mais sólida. Assim se ganharia pelo menos no aspecto formal, no clima em que a luta política se processa, mas também na ligação à população que os políticos têm por objectivo atingir e servir.
Nas actuais condições não vamos além da reprodução da mediania, não se promove a melhoria e a inovação. Vemos políticos jovens com uma postura e usando uma terminologia de velhos ancilosados. Limitam-se a vestir a pele de políticos doutros tempos e nem se dão ao trabalho de vestir outra roupagem para disfarçar. Quando se diz que faltam estadistas no momento presente quer-se dizer que faltam múmias para ocupar o lugar doutros idos. Só que já não há lugares, já não há cargos equivalentes aos de outrora.
Claro que uma escola moderna não pressupõe destes professores. A formação não se pode reduzir à cópia, à reprodução fac-similada de estereótipos de compêndio. Mas também não pode passar por tomar como modelos todas as contestações. Porque isso é o que temos. Hoje temos na política filhos de várias contestações, gerações que permaneceram paralisadas no tempo, outras que se foram adaptando, refazendo a sua postural radical.
Há contestações à direita e à esquerda, cada qual sabe o que quer, só que às vezes a confusão é tanta que as pessoas se sentem sem orientação, também elas vivendo ainda com referências a outros tempos e outros modelos. O vocabulário dos políticos é outro, mas o sentido da linguagem é o mesmo. Só que só as girândolas que os mais criativos lançam conseguem sobressair no ruído do desacerto reinante. Porém a criatividade neste ambiente não é garantia de bons frutos, é apenas uma resposta eficaz à adversidade.
Aparentemente as análises pessimistas do nosso panorama político são contraditadas pela Europa. Esta acena-nos com uns lugares e lá vamos nós ufanos pela importância que nos é dada, vaidosos por sermos eleitos sem sufrágio universal. O que fica para trás é de pouca conta, afinal somos pouco mais de um por cento do PIB europeu e põem-nos a fama de sermos malandros e subservientes. Isto é, para nós trabalhamos pouco, mas empenhamo-nos em sermos laboriosos quando se trata de trabalhar para os outros.
Cumprimos diligentemente as regras, não deitamos areia na engrenagem, gostamos que nos enalteçam o brio. Por isso os nossos políticos são bons na Europa, melhores decerto que cá. Só não são bons para encarnar qualquer ideal europeu. Limitam-se a ser peões na mão dos poderosos da Europa. Vão para lá com a mesma postura dos nossos emigrantes de há cinquenta anos. Para ganhar uns cobres, ambas as levas o fazem com dignidade, ressalte-se.
Nos outros países também não haverá políticos com ideais. Fosse o ideal de seguir um caminho próprio, tal como o fizemos há mais de quinhentos anos. Sendo, na minha opinião, este impossível proponha antes um Ideal Europeu a construir com todos os outros países com quem temos um passado comum. A Europa não pode ficar reduzida a um mercado, por mais benefícios que dele possamos tirar. Os nossos políticos, que não têm atrás de si um poder forte a representar, não podem ser simples funcionários a gerir os mínimos em interesses comuns.
Uma escola de políticos não pode hoje formar somente políticos para este cantinho ajardinado da Europa. Tem de formar políticos com ideal europeu, capazes de o partilhar com a população europeia. Precisamos urgentemente de nos livrar dessa miudagem que utiliza o palanque europeu para nos denegrir. O nosso papel na Europa, não sendo grande em euros, tem que ser relevante em ideias e se possível em ideal, porque este não se resume a uma amálgama de ideias, mas a uma sincronia de pensamentos positivos.

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