Há dados psicológicos, entidades espirituais de que só temos consciência da sua existência quando notamos a sua falta e consequentemente avaliamos a sua importância. Certificamo-nos que existem Ideais quando verificamos que já os tivemos, os não temos agora e adquirimos a noção de que tudo se torna mais nebuloso e mesmo obscuro com a sua ausência. Falta-nos esperar que algum Ideal consiga emergir da sociedade.
A alternativa seria caminhar no sentido de contribuir para a construção de algum Ideal partilhável. Decerto que não podemos ter à partida a preocupação de saber quem vai ser o elemento catalizador, mas o normal será que ele se encontre entre um número muito limitado de pessoas. O Ideal faria então o seu caminho próprio e alargando o seu espaço de confiança.
A maioria de nós desespera. A primeira via não parece exequível nos tempos mais próximos. A maioria de nós sente-se impotente para contribuir positivamente para o bem colectivo, mesmo que o reduzamos ao bem pátrio. Todo o esforço em ser positivo é sujeito a sabotagem política. Porém o problema maior é que a conflitualidade social é geral, embora todos a tentem remeter só para a área política porque é lá que se encontram os mais salientes actores sociais. Perante o manobrismo destes, não se vê hipótese de que saia da sociedade um Ideal que conduza a um acordo social duradouro.
A segunda via para um Ideal é demasiado custosa para as nossas poucas forças individuais. Vencer o egoísmo pessoal que pudesse levar a uma aproximação eficaz com o próximo é uma impossibilidade que a intermediação só disfarça. Os grupos sociais, as entidades colectivas têm lógicas próprias e acabam por ser um obstáculo suplementar. Todas as organizações sociais impõem fidelidades e condicionam os indivíduos, retirando-lhes iniciativa e liberdade.
Perante a crescente exposição pública a que as pessoas estão sujeitas, estas utilizam muito as organizações para se encobrirem. Do mesmo modo os comportamentos tornam-se cada vez mais hipócritas. Se agimos durante séculos na base de um lugar sólido que cada qual ocupava na organização social e criticávamos esse facto atribuindo-o ao corporativismo e à hereditariedade, hoje fazemo-lo deliberadamente.
Em contrapartida os limites da privacidade são cada vez mais estreitos. Por um lado porque a maioria não tem essa cultura. Depois porque os outros associaram sempre privacidade a poder. Sabia-se o que esperar dos poderosos. Hoje há necessidades defensivas que levam a comportamentos dúbios. A desconfiança está instalada, não havendo condições para exigir sinceridade, permitindo que cada atitude tenha uma série de segundos sentidos.
Neste ambiente é difícil florescerem Ideais, quando o máximo que se pode oferecer e solicitar é um acordo temporário que possa limitar e enquadrar num espaço de tempo e num domínio específico o nosso comportamento dando-lhe alguma previsibilidade. Um Ideal realiza-se se provocar uma estimulação suficientemente ampla. Hoje as pessoas não estão viradas para Ideais e neste aspecto resta-nos perguntar se neste campo não teremos chegado ao fim da história.
Se não acordamos na regra a solução parece estar na procura do máximo de versatilidade. Temos no colectivo a sensação de já termos explorado tudo, o positivo e o negativo, de termos levado o próximo a aceitar o que o não prejudica, mas era colocado sob a vara da moral. Desligamos o futuro individual do colectivo naquilo que antes eram superstições e crenças. Hoje o problema é a dificuldade de escolha. Para fugirmos a ela adoptamos como objectivo a adaptabilidade a situações e circunstâncias diversas, e favorecemos a nossa própria atractividade, o que diga-se não exige grande esforço intelectual.
Os Ideais são hoje vistos como estorvos, uma carga que se transporta e que dificulta a vivência do que está para vir. Além dessa incomodidade ainda nos sujeitamos à critica, ao ridículo, ao desdém, quando não ao desprezo. Ninguém hoje acredita que seja possível conciliar um Ideal de vida com a vida concreta, não porque esta tenha qualquer aspecto imoral acrescido, mas porque a visibilidade dos factos que induzem esse sentimento é muito superior e o apelo ao desregramento é muito forte.
Um Ideal não se pode confundir com ascetismo, salvo se este o integra como parte do seu corpo de ideias. Um Ideal é um hino à vida, aceitando-a com o máximo de naturalidade, sem hipocrisias e sem promiscuidade. Um Ideal não pode ser negócio, o aproveitamento de oportunidades, a procura exclusiva de ensejos. Ou poderá se precisamente isto, desde que claramente assumido, conscientemente colocado em prática, sem falsos intuitos judiciosos. Mas uns e outros facilmente concluímos que nos falta um Ideal.
Um Ideal para muitos de nós só faz sentido num ambiente de democracia, de igualdade de oportunidades e se tiver por objectivo contribuir para a manutenção desses valores, permanentemente em risco. Embora se não possa exigir que um Ideal inclua factores politicamente activos não há dúvida que no momento presente parece que ninguém se consegue abstrair desse aspecto.
A alternativa seria caminhar no sentido de contribuir para a construção de algum Ideal partilhável. Decerto que não podemos ter à partida a preocupação de saber quem vai ser o elemento catalizador, mas o normal será que ele se encontre entre um número muito limitado de pessoas. O Ideal faria então o seu caminho próprio e alargando o seu espaço de confiança.
A maioria de nós desespera. A primeira via não parece exequível nos tempos mais próximos. A maioria de nós sente-se impotente para contribuir positivamente para o bem colectivo, mesmo que o reduzamos ao bem pátrio. Todo o esforço em ser positivo é sujeito a sabotagem política. Porém o problema maior é que a conflitualidade social é geral, embora todos a tentem remeter só para a área política porque é lá que se encontram os mais salientes actores sociais. Perante o manobrismo destes, não se vê hipótese de que saia da sociedade um Ideal que conduza a um acordo social duradouro.
A segunda via para um Ideal é demasiado custosa para as nossas poucas forças individuais. Vencer o egoísmo pessoal que pudesse levar a uma aproximação eficaz com o próximo é uma impossibilidade que a intermediação só disfarça. Os grupos sociais, as entidades colectivas têm lógicas próprias e acabam por ser um obstáculo suplementar. Todas as organizações sociais impõem fidelidades e condicionam os indivíduos, retirando-lhes iniciativa e liberdade.
Perante a crescente exposição pública a que as pessoas estão sujeitas, estas utilizam muito as organizações para se encobrirem. Do mesmo modo os comportamentos tornam-se cada vez mais hipócritas. Se agimos durante séculos na base de um lugar sólido que cada qual ocupava na organização social e criticávamos esse facto atribuindo-o ao corporativismo e à hereditariedade, hoje fazemo-lo deliberadamente.
Em contrapartida os limites da privacidade são cada vez mais estreitos. Por um lado porque a maioria não tem essa cultura. Depois porque os outros associaram sempre privacidade a poder. Sabia-se o que esperar dos poderosos. Hoje há necessidades defensivas que levam a comportamentos dúbios. A desconfiança está instalada, não havendo condições para exigir sinceridade, permitindo que cada atitude tenha uma série de segundos sentidos.
Neste ambiente é difícil florescerem Ideais, quando o máximo que se pode oferecer e solicitar é um acordo temporário que possa limitar e enquadrar num espaço de tempo e num domínio específico o nosso comportamento dando-lhe alguma previsibilidade. Um Ideal realiza-se se provocar uma estimulação suficientemente ampla. Hoje as pessoas não estão viradas para Ideais e neste aspecto resta-nos perguntar se neste campo não teremos chegado ao fim da história.
Se não acordamos na regra a solução parece estar na procura do máximo de versatilidade. Temos no colectivo a sensação de já termos explorado tudo, o positivo e o negativo, de termos levado o próximo a aceitar o que o não prejudica, mas era colocado sob a vara da moral. Desligamos o futuro individual do colectivo naquilo que antes eram superstições e crenças. Hoje o problema é a dificuldade de escolha. Para fugirmos a ela adoptamos como objectivo a adaptabilidade a situações e circunstâncias diversas, e favorecemos a nossa própria atractividade, o que diga-se não exige grande esforço intelectual.
Os Ideais são hoje vistos como estorvos, uma carga que se transporta e que dificulta a vivência do que está para vir. Além dessa incomodidade ainda nos sujeitamos à critica, ao ridículo, ao desdém, quando não ao desprezo. Ninguém hoje acredita que seja possível conciliar um Ideal de vida com a vida concreta, não porque esta tenha qualquer aspecto imoral acrescido, mas porque a visibilidade dos factos que induzem esse sentimento é muito superior e o apelo ao desregramento é muito forte.
Um Ideal não se pode confundir com ascetismo, salvo se este o integra como parte do seu corpo de ideias. Um Ideal é um hino à vida, aceitando-a com o máximo de naturalidade, sem hipocrisias e sem promiscuidade. Um Ideal não pode ser negócio, o aproveitamento de oportunidades, a procura exclusiva de ensejos. Ou poderá se precisamente isto, desde que claramente assumido, conscientemente colocado em prática, sem falsos intuitos judiciosos. Mas uns e outros facilmente concluímos que nos falta um Ideal.
Um Ideal para muitos de nós só faz sentido num ambiente de democracia, de igualdade de oportunidades e se tiver por objectivo contribuir para a manutenção desses valores, permanentemente em risco. Embora se não possa exigir que um Ideal inclua factores politicamente activos não há dúvida que no momento presente parece que ninguém se consegue abstrair desse aspecto.
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