Não é impunemente que nos vimos, embora muitas vezes esporadicamente, durante pelo menos vinte anos. Que se exerce o poder numa comunidade fechada, peculiarmente aberta ao mundo de forma que em cada momento só nos vissem por uma janela estreita e devidamente seleccionada. Isto é, sempre estivemos abertos ao mundo, mas por outras janelas que entretanto se foram fechando e somos agora vistos quase só por uma janela que Daniel Campelo abriu.
Daniel Campelo deixou marcas. Marcas naqueles que encontramos e naqueles que nos visitam e antes de nos verem já o viram a ele à janela. Também deixou marcas na paisagem, mas não tantas. Uma vez um casal passeava na Ponte Medieval e, antes de se me dirigirem, falavam um para o outro na obra que Campelo tinha feito ali mesmo, debaixo dos seus pés. Queriam saber se o rio alguma vez tinha passado naquela ponte, mas eu pedi-lhes desculpa e antes de lhes responder disse que a Ponte tinha mais de 600 anos e até o lajedo era anterior a Campelo. Campelo não tem culpa, mas até equívocos destes se criaram.
Daniel Campelo não criou uma nova comunidade, mas não há dúvida que assumiu o lugar de líder natural da comunidade existente. Marcou mesmo a nossa identidade e até quebrou uma certa resistência urbana à uniformidade. O bem geral é sempre um refúgio que serve aos políticos para se justificarem. Não há no entanto progresso sem ideias pessoais, a não ser que queiramos que elas se desenvolvam apenas lá fora e aqui todos tenhamos que aceitar o unanimismo. Atrevo-me a um abalanço geral mesmo reconhecendo que nem sempre acompanhei o seu desempenho com a mesma atenção.
A nossa relação com o poder nem sempre é fácil. E Daniel Campelo foi durante 16 anos a personalização do poder. Não há nada de acintoso nas críticas políticas que se lhe possam fazer. Se há algo de pessoal tem a ver com o gosto de cada um e também Daniel Campelo, por mais aceites que as suas ideias tenham sido nesta comunidade limiana, não pode exigir que todos gostem do que ele gosta. Assim na nossa relação com ele enquanto poder, houve momentos de euforia e de asfixia, de aproximação e evidente distanciamento.
Daniel Campelo entrou na gestão autárquica pela mão de Fernando Calheiros há vinte anos numa altura em que o cavaquismo estava no seu auge e ambicionava tudo levar à sua frente. Roubada uma vereação quase inteira ao CDS, o PSD lançou-se à conquista de uma Câmara na qual, aliás, sempre tinha estado a partilhar o poder e concitou contra si todas as outras forças políticas que se uniram, prescindindo da sua representação e elegeram o CDS que habilmente continuou a juntar a si uma vasta selecção de apoios de origem multipartidário.
As relações políticas de Daniel Campelo sempre foram melhores com o PS do que com o PSD e levaram aos célebres orçamentos do queijo limiano. Estes deram origem a episódios que, para o bem e para o mal, para o louvor e para o ridículo, levaram a um mediatismo nacional pouco habitual para um autarca. Para mim, maugrado a hipocrisia de muitos políticos, a imagem de Ponte de Lima ficou diminuída, afunilada. Só dirigindo os holofotes de imediato para jardins e velhos monumentos e esquecendo o restante, é que esta questão foi sendo esquecida.
Cada um sabe dos seus sentimentos pessoais mas eu sou amigo do mundo rural. Esquecendo a desgraçada vida dos antigos lavradores, agradava-me o antigo equilíbrio aqui existente. No entanto defender o ruralismo como Daniel Campelo o faz é um absurdo, de um conservadorismo atroz. A autarquia poderia ter feito muito mais para obviar aos aspectos negativos que o impacto do progresso alheio na nossa estrutura secular teve. Não chega fazer da defesa dos despojos uma teoria, o ruralismo. Até porque a nossa identidade já não é rural, embora tenha algo de rústico. Já só estamos plantados no ambiente rural.
A fábrica do queijo lutou para cá sobreviver mesmo sem leite, tal a incúria de todas as autoridades e o crime do corporativismo salazarista. A vida rural que assentava na pequena produção leiteira já havia levado a machadada definitiva por motivos de monopólio primeiro e depois económicos, higiénicos, de organização. Daniel Campelo apareceu como o defensor de um mundo rural já moribundo. Acho que foi a primeira mentira que fez pensar a Campelo que as mentiras também podem ser aproveitadas para obter efeitos políticos.
Melhor teria feito Daniel Campelo se tivesse comprado uma quinta e com pouco custo mantê-la a produzir segundo as práticas seculares. Era uma forma de preservar para a gente nova uma visão idílica do passado. Antes comprou quintas e quintas e manteve umas ao abandono, outras plantou-lhes jardins e subverteu todo e qualquer princípio de defesa da tradição. A capa de defensor do mundo rural não corresponde ao conteúdo.
Mas a defesa do ruralismo teve decerto outros intuitos de carácter político. Convém que se mantenha uma certa subserviência que está associada à ruralidade. Neste meio deste povoamento disperso e deste individualismo extremo, as exigências das pessoas são poucas e postas com moderação. Até os próprios autarcas se deixam contagiar por este ambiente pouco exigente. Mas há uma correspondência efectiva e um elogio a fazer em termos de exigência no que se refere à gestão financeira e patrimonial a partir de uma segura gestão corrente.
Permita-se-me um conselho: Quando se vê que muitos autarcas do Norte são chamados a exercer funções no Governo e pouco depois regressam ficamos apreensivos. Será que a gestão autárquica lhes fecha os horizontes, não estão preparados para verem além do seu quintal, da sua paróquia. Andará por aqui provincianismo, parolice, que pecado é este? Tendo Daniel Campelo a ambição de exercer um cargo com uma influência mais vasta, será que seguiria estes exemplos se a oportunidade lhe surgir? Esperemos que não. Um abraço amigo! Até sempre!
Daniel Campelo deixou marcas. Marcas naqueles que encontramos e naqueles que nos visitam e antes de nos verem já o viram a ele à janela. Também deixou marcas na paisagem, mas não tantas. Uma vez um casal passeava na Ponte Medieval e, antes de se me dirigirem, falavam um para o outro na obra que Campelo tinha feito ali mesmo, debaixo dos seus pés. Queriam saber se o rio alguma vez tinha passado naquela ponte, mas eu pedi-lhes desculpa e antes de lhes responder disse que a Ponte tinha mais de 600 anos e até o lajedo era anterior a Campelo. Campelo não tem culpa, mas até equívocos destes se criaram.
Daniel Campelo não criou uma nova comunidade, mas não há dúvida que assumiu o lugar de líder natural da comunidade existente. Marcou mesmo a nossa identidade e até quebrou uma certa resistência urbana à uniformidade. O bem geral é sempre um refúgio que serve aos políticos para se justificarem. Não há no entanto progresso sem ideias pessoais, a não ser que queiramos que elas se desenvolvam apenas lá fora e aqui todos tenhamos que aceitar o unanimismo. Atrevo-me a um abalanço geral mesmo reconhecendo que nem sempre acompanhei o seu desempenho com a mesma atenção.
A nossa relação com o poder nem sempre é fácil. E Daniel Campelo foi durante 16 anos a personalização do poder. Não há nada de acintoso nas críticas políticas que se lhe possam fazer. Se há algo de pessoal tem a ver com o gosto de cada um e também Daniel Campelo, por mais aceites que as suas ideias tenham sido nesta comunidade limiana, não pode exigir que todos gostem do que ele gosta. Assim na nossa relação com ele enquanto poder, houve momentos de euforia e de asfixia, de aproximação e evidente distanciamento.
Daniel Campelo entrou na gestão autárquica pela mão de Fernando Calheiros há vinte anos numa altura em que o cavaquismo estava no seu auge e ambicionava tudo levar à sua frente. Roubada uma vereação quase inteira ao CDS, o PSD lançou-se à conquista de uma Câmara na qual, aliás, sempre tinha estado a partilhar o poder e concitou contra si todas as outras forças políticas que se uniram, prescindindo da sua representação e elegeram o CDS que habilmente continuou a juntar a si uma vasta selecção de apoios de origem multipartidário.
As relações políticas de Daniel Campelo sempre foram melhores com o PS do que com o PSD e levaram aos célebres orçamentos do queijo limiano. Estes deram origem a episódios que, para o bem e para o mal, para o louvor e para o ridículo, levaram a um mediatismo nacional pouco habitual para um autarca. Para mim, maugrado a hipocrisia de muitos políticos, a imagem de Ponte de Lima ficou diminuída, afunilada. Só dirigindo os holofotes de imediato para jardins e velhos monumentos e esquecendo o restante, é que esta questão foi sendo esquecida.
Cada um sabe dos seus sentimentos pessoais mas eu sou amigo do mundo rural. Esquecendo a desgraçada vida dos antigos lavradores, agradava-me o antigo equilíbrio aqui existente. No entanto defender o ruralismo como Daniel Campelo o faz é um absurdo, de um conservadorismo atroz. A autarquia poderia ter feito muito mais para obviar aos aspectos negativos que o impacto do progresso alheio na nossa estrutura secular teve. Não chega fazer da defesa dos despojos uma teoria, o ruralismo. Até porque a nossa identidade já não é rural, embora tenha algo de rústico. Já só estamos plantados no ambiente rural.
A fábrica do queijo lutou para cá sobreviver mesmo sem leite, tal a incúria de todas as autoridades e o crime do corporativismo salazarista. A vida rural que assentava na pequena produção leiteira já havia levado a machadada definitiva por motivos de monopólio primeiro e depois económicos, higiénicos, de organização. Daniel Campelo apareceu como o defensor de um mundo rural já moribundo. Acho que foi a primeira mentira que fez pensar a Campelo que as mentiras também podem ser aproveitadas para obter efeitos políticos.
Melhor teria feito Daniel Campelo se tivesse comprado uma quinta e com pouco custo mantê-la a produzir segundo as práticas seculares. Era uma forma de preservar para a gente nova uma visão idílica do passado. Antes comprou quintas e quintas e manteve umas ao abandono, outras plantou-lhes jardins e subverteu todo e qualquer princípio de defesa da tradição. A capa de defensor do mundo rural não corresponde ao conteúdo.
Mas a defesa do ruralismo teve decerto outros intuitos de carácter político. Convém que se mantenha uma certa subserviência que está associada à ruralidade. Neste meio deste povoamento disperso e deste individualismo extremo, as exigências das pessoas são poucas e postas com moderação. Até os próprios autarcas se deixam contagiar por este ambiente pouco exigente. Mas há uma correspondência efectiva e um elogio a fazer em termos de exigência no que se refere à gestão financeira e patrimonial a partir de uma segura gestão corrente.
Permita-se-me um conselho: Quando se vê que muitos autarcas do Norte são chamados a exercer funções no Governo e pouco depois regressam ficamos apreensivos. Será que a gestão autárquica lhes fecha os horizontes, não estão preparados para verem além do seu quintal, da sua paróquia. Andará por aqui provincianismo, parolice, que pecado é este? Tendo Daniel Campelo a ambição de exercer um cargo com uma influência mais vasta, será que seguiria estes exemplos se a oportunidade lhe surgir? Esperemos que não. Um abraço amigo! Até sempre!
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