Neste País tão cheio de gente nostálgica falar de nostalgia é terapêutico, se a análise for minimamente consistente. É normal que a pessoas guardem na memória e lhes sirva de referência aquilo que de bom ocorreu no seu passado. Só que o seu cultivo pode ser excessivo e assumir contornos de endeusamento, de modo a fazer que o próprio se esqueça de outros momentos importantes e, o que é pior, o leva a fechar os olhos àquilo que se vive hoje e é diferente.
A nostalgia dos bons momentos pode levar à rejeição ou aversão daquilo que no passado ou no presente está em contradição com esses momentos mais felizes. Nem sempre estamos preparados para aceitar o menos bom. Outras vezes colocamos mesmo no nosso tempo interior e em referência a um dado período um buraco negro atroz. Mas seria para nós benéfico se investigarmos a razão porque encontramos no nosso passado ocasiões em que vivemos situações medíocres ou mesmo desprezíveis.
Também o tempo colectivo nos deixa a nostalgia daqueles momentos de que nos deram conhecimento no tempo da escolaridade ou na propaganda do antigo regime. A própria forma como obtivemos notícia desse passado levou muitos de nós a renegá-lo agora ou pelo mesmo a desvalorizá-lo significativamente. E nada mais importante para a nossa própria higiene mental do que saber com a exactidão possível o real valor dum passado que tanta influência exerce sobre o nosso presente.
O facto de nos terem pintado um dado cenário edílico leva-nos a ter uma nostalgia dum tempo que afinal não vivemos, mas de que sentimos necessidade. Até porque o mesmo acontece com quem ganhou aversão a esse passado, que o apresenta como a justificação para todas as nossas carências actuais, para a nossa baixeza e mesquinhez, para a forma reles com que nos tratamos uns aos outros, para a nossa incapacidade de separamos o trigo do joio.
Já quanto ao tempo colectivo em que nós próprios participamos, que coincide com o nosso tempo individual, a ideia que sobre ele temos depende muito da valoração que damos à nossa própria acção. A abstracção com que conseguimos ver esse tempo colectivo depende muito de nós, da nossa formação, das nossas intenções, mas temos que se aceitar como perfeitamente humano que interpretemos o colectivo confundindo-o com o pessoal. Só que não é intelectualmente honesto.
A nostalgia reforça qualquer afirmação porque dá um cariz pessoal mesmo ao colectivo com a força que isso implica numa sociedade em que o individualismo prevalece. Esta visão do colectivo como uma emanação do pessoal é um grande erro se cultivada por preguiça intelectual, por economia sentimental. O facto de este tipo de vivência nos limitar a atenção ao presente e nos estreitar o caminho do futuro é subalternizado.
A nostalgia é um sentimento que aprisiona, que se reforça com a passividade, que aumenta com a desilusão, que elimina o voluntarismo, que corrói silenciosamente as energias necessárias a uma atitude positiva perante o futuro. Quando recordamos um momento passado, e quantas vezes o fazemos para obter informação que nos ajuda a perceber o presente, e a memória nos traz um sentimento é uma simplificação confrangedora. Se for a nostalgia é uma limitação comprometedora.
A nostalgia deixa-nos sem argumentos lógicos. É o resultado de uma apreciação subjectiva, perfeitamente datada e localizada em que o distanciamento entre nós e a realidade colectiva possivelmente não é o mesmo de agora. Havia muito menos poderes e salvo o da polícia política eram menos obsessivos. Porém os casos de nostalgia pessoal normalmente só são compreensíveis num determinado contexto. Aliás todos nós percebemos isto e temos períodos da nossa vida que apreciamos mais.
Para agravar esta maneira de ter memória do passado somos levados a definir nele períodos que requerem uma certa consolidação. O mais normal é aceitarmos a divisão culturalmente instalada com infância, adolescência, juventude, maioridade e outras subdivisões menores. Já quanto à memória do colectivo temos de aceitar as grandes divisões que a história nos impõe.
Há imensa gente a falar de uma qualquer nostalgia que sente de um poder particularmente benévolo com que conviveu ou cuja memória lhe enaltecem. E no geral não é por terem ficado mais pobres, por serem mais infelizes, por terem menos poder. Quem não viveu directamente pode ser vítima de efabulação mas não se pode ignorar que há pessoas que têm consciência de uma realidade vivida.
A nostalgia complica em muito a nossa relação com o poder porque este se dispersou, tem muitas mais fontes e exercesse em muitos mais domínios do que no passado. O poder como que nos persegue e imiscui-se em cada vez mais aspectos da nossa vida, em geral com as desculpas que nos quer defender, que não será decerto de extraterrestres, será dos outros que somos afinal nós mesmos. Caso evidente é o uso cinto de segurança.
A nostalgia dos bons momentos pode levar à rejeição ou aversão daquilo que no passado ou no presente está em contradição com esses momentos mais felizes. Nem sempre estamos preparados para aceitar o menos bom. Outras vezes colocamos mesmo no nosso tempo interior e em referência a um dado período um buraco negro atroz. Mas seria para nós benéfico se investigarmos a razão porque encontramos no nosso passado ocasiões em que vivemos situações medíocres ou mesmo desprezíveis.
Também o tempo colectivo nos deixa a nostalgia daqueles momentos de que nos deram conhecimento no tempo da escolaridade ou na propaganda do antigo regime. A própria forma como obtivemos notícia desse passado levou muitos de nós a renegá-lo agora ou pelo mesmo a desvalorizá-lo significativamente. E nada mais importante para a nossa própria higiene mental do que saber com a exactidão possível o real valor dum passado que tanta influência exerce sobre o nosso presente.
O facto de nos terem pintado um dado cenário edílico leva-nos a ter uma nostalgia dum tempo que afinal não vivemos, mas de que sentimos necessidade. Até porque o mesmo acontece com quem ganhou aversão a esse passado, que o apresenta como a justificação para todas as nossas carências actuais, para a nossa baixeza e mesquinhez, para a forma reles com que nos tratamos uns aos outros, para a nossa incapacidade de separamos o trigo do joio.
Já quanto ao tempo colectivo em que nós próprios participamos, que coincide com o nosso tempo individual, a ideia que sobre ele temos depende muito da valoração que damos à nossa própria acção. A abstracção com que conseguimos ver esse tempo colectivo depende muito de nós, da nossa formação, das nossas intenções, mas temos que se aceitar como perfeitamente humano que interpretemos o colectivo confundindo-o com o pessoal. Só que não é intelectualmente honesto.
A nostalgia reforça qualquer afirmação porque dá um cariz pessoal mesmo ao colectivo com a força que isso implica numa sociedade em que o individualismo prevalece. Esta visão do colectivo como uma emanação do pessoal é um grande erro se cultivada por preguiça intelectual, por economia sentimental. O facto de este tipo de vivência nos limitar a atenção ao presente e nos estreitar o caminho do futuro é subalternizado.
A nostalgia é um sentimento que aprisiona, que se reforça com a passividade, que aumenta com a desilusão, que elimina o voluntarismo, que corrói silenciosamente as energias necessárias a uma atitude positiva perante o futuro. Quando recordamos um momento passado, e quantas vezes o fazemos para obter informação que nos ajuda a perceber o presente, e a memória nos traz um sentimento é uma simplificação confrangedora. Se for a nostalgia é uma limitação comprometedora.
A nostalgia deixa-nos sem argumentos lógicos. É o resultado de uma apreciação subjectiva, perfeitamente datada e localizada em que o distanciamento entre nós e a realidade colectiva possivelmente não é o mesmo de agora. Havia muito menos poderes e salvo o da polícia política eram menos obsessivos. Porém os casos de nostalgia pessoal normalmente só são compreensíveis num determinado contexto. Aliás todos nós percebemos isto e temos períodos da nossa vida que apreciamos mais.
Para agravar esta maneira de ter memória do passado somos levados a definir nele períodos que requerem uma certa consolidação. O mais normal é aceitarmos a divisão culturalmente instalada com infância, adolescência, juventude, maioridade e outras subdivisões menores. Já quanto à memória do colectivo temos de aceitar as grandes divisões que a história nos impõe.
Há imensa gente a falar de uma qualquer nostalgia que sente de um poder particularmente benévolo com que conviveu ou cuja memória lhe enaltecem. E no geral não é por terem ficado mais pobres, por serem mais infelizes, por terem menos poder. Quem não viveu directamente pode ser vítima de efabulação mas não se pode ignorar que há pessoas que têm consciência de uma realidade vivida.
A nostalgia complica em muito a nossa relação com o poder porque este se dispersou, tem muitas mais fontes e exercesse em muitos mais domínios do que no passado. O poder como que nos persegue e imiscui-se em cada vez mais aspectos da nossa vida, em geral com as desculpas que nos quer defender, que não será decerto de extraterrestres, será dos outros que somos afinal nós mesmos. Caso evidente é o uso cinto de segurança.
Por muito que às vezes possamos entender que ambicionamos regressar a um poder paternal ou maternal, hábil em tornar ténues os poderes paralelos que outrora se exerciam, por mais poderes que nos vamos apercebendo que existem, o poder do dinheiro, das corporações, dos marginais, dos homossexuais, das seitas secretas e nem tanto, dos políticos, dos intermediários, do comércio por grosso, dos financeiros, de lobbies de toda a ordem, não nos podemos assustar e fugir à luta.
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