Veio à luz do dia uma ideia controversa sobre a existência de caciquismo, fenómeno que não é decerto exclusivo nosso, mas que, segundo alguns, adquire em Portugal uma dimensão desmedida. Essa ideia, só pela sua originalidade de referenciar o caciquismo na Madeira, nos Açores e no restante Pais e por excluir Ponte de Lima desse cenário, é uma injustiça que nos leva a abordar este assunto.
O caciquismo provém dos primórdios da política em Portugal quando se digladiavam progressistas e regeneradores em plena Monarquia, continuou com republicanos e democratas na Primeira República, teve um interregno de 48 anos com a ditadura, em que foi substituído pelo controle institucionalizado, e refloresceu com a democracia de Abril, talvez porque os excessos extremistas levaram ao extremar de dois campos, que entretanto se foram movendo e recentrando continuamente.
O caciquismo que existe em Ponte de Lima só se particulariza porque é válido em termos de eleições autárquicas e não tem a mesma expressão nas eleições de âmbito nacional. Casos semelhantes poderão existir noutro local, mas não é a regra genérica no País. O facto de cá haver um tão grande deslocamento de votos só pode resultar de um caciquismo particularmente egoísta, agressivo e persistente. Só o caciquismo pode manter uma tal hegemonia política, consegue impedir a alternância
Aqui não se trata de uma caciquismo global, absorvente, idêntico ao existente na Madeira porque aí é válido para todas as eleições e abrange mesmo outros aspectos não directamente políticos, afecta a vida corrente e todo o relacionamento social. Em Ponte de Lima não vamos tão longe, embora o panorama existente logo após o 25 de Abril não fosse muito distinto daquele que ainda existe na Madeira.
Houve em Ponte de Lima uma evolução que tentou acompanhar aquilo que se desenrolava a nível geral do País. Não está garantido que tenhamos evoluído menos do que os outros. Efectivamente os outros, aqueles que estão afastados de Ponte de Lima há muito ou os que sempre estiveram, têm quando vêm a Ponte de Lima, quando cá se instalam ou mesmo só quando a Ponte de Lima se referem o mesmo comportamento, a mesma forma de estar, as mesmas ideias que cá se propagam.
Então será que estas pessoas também são vítimas do caciquismo, que este tem um braço gigante? E que portanto o caciquismo já hoje se não exerce sorrateiramente, no “porta a porta”, no convívio desportivo, cultural, familiar, no caso extremo no confessionário? Pois teremos concluído que o caciquismo de hoje não prescinde dos velhos métodos, mas tem novos contornos, é uma influência de diferente natureza, exerce-se de forma indirecta, pela comunicação social, pelo acesso aos meios de informação.
Classicamente o caciquismo era exercido por duas forças que se digladiavam no terreno com altos e baixos mas com um certo equilíbrio a prazo. Esse caciquismo clássico não tinha substância intelectual, era uma influência exercida sem convencimento. Era um caciquismo primário que se desenvolvia pelo ascendente adquirido à base do poder económico, com dádivas, apoio e protecção e ponha em confronto dois “senhores”.
Hoje não há tanta ostentação do poder económico, obtém-se aquele ascendente através da ostentação do poder político, do poder de influência, dos bons relacionamentos. Os senhores da autarquia estão sempre presentes e espalham a sua influência, criam a sua rede de ligações. Porém nada mais legítimo se não fora este sistema ser baseado no uso e abuso do poder autárquico o que leva ao fim de um certo tempo a que uma só força política possa exercer o caciquismo, consiga arranjar pessoas que no terreno dêem a cara, exerçam a influência e controlem a situação.
O cacique de hoje tem que intervir no apaziguamento dos conflitos, no encaminhamento das energias dispersas, na criação de um clima de suficiência e satisfação para que se crie a onda, para que a comunicação social a tenha que levar ao seu destino. Este caciquismo moderno pode prescindir do existente na Madeira onde o regime é de maior constrangimento, mesmo de coacção institucional.
Aqui como lá o caciquismo está em permanente actividade, aproveita todas as oportunidades para dizer que existe, mas reconheçamos que cá só aparece para cobrar o pagamento devido nos períodos eleitorais, tem algum pudor em se exercer institucionalmente. A comunicação social facilita a sua vida, encarrega-se de manter viva a chama, mas o caciquismo sabe que não é seguro confiar nela e aqui é que pode haver coação ilegítima.
Se no geral o caciquismo intervém a todos os níveis e em todos os terrenos, mas fundamentalmente ao nível mais básico, actua logo na primeira instância do relacionamento social e aproveita toda e qualquer dependência que possa existir entre as pessoas. Se estas pressões podem ser imorais, só serão ilegítimas se exercidas sobre os meios, como a comunicação social, que devem estar disponíveis a todos os sectores sociais e políticos. De qualquer forma o caciquismo é condenável.
O caciquismo provém dos primórdios da política em Portugal quando se digladiavam progressistas e regeneradores em plena Monarquia, continuou com republicanos e democratas na Primeira República, teve um interregno de 48 anos com a ditadura, em que foi substituído pelo controle institucionalizado, e refloresceu com a democracia de Abril, talvez porque os excessos extremistas levaram ao extremar de dois campos, que entretanto se foram movendo e recentrando continuamente.
O caciquismo que existe em Ponte de Lima só se particulariza porque é válido em termos de eleições autárquicas e não tem a mesma expressão nas eleições de âmbito nacional. Casos semelhantes poderão existir noutro local, mas não é a regra genérica no País. O facto de cá haver um tão grande deslocamento de votos só pode resultar de um caciquismo particularmente egoísta, agressivo e persistente. Só o caciquismo pode manter uma tal hegemonia política, consegue impedir a alternância
Aqui não se trata de uma caciquismo global, absorvente, idêntico ao existente na Madeira porque aí é válido para todas as eleições e abrange mesmo outros aspectos não directamente políticos, afecta a vida corrente e todo o relacionamento social. Em Ponte de Lima não vamos tão longe, embora o panorama existente logo após o 25 de Abril não fosse muito distinto daquele que ainda existe na Madeira.
Houve em Ponte de Lima uma evolução que tentou acompanhar aquilo que se desenrolava a nível geral do País. Não está garantido que tenhamos evoluído menos do que os outros. Efectivamente os outros, aqueles que estão afastados de Ponte de Lima há muito ou os que sempre estiveram, têm quando vêm a Ponte de Lima, quando cá se instalam ou mesmo só quando a Ponte de Lima se referem o mesmo comportamento, a mesma forma de estar, as mesmas ideias que cá se propagam.
Então será que estas pessoas também são vítimas do caciquismo, que este tem um braço gigante? E que portanto o caciquismo já hoje se não exerce sorrateiramente, no “porta a porta”, no convívio desportivo, cultural, familiar, no caso extremo no confessionário? Pois teremos concluído que o caciquismo de hoje não prescinde dos velhos métodos, mas tem novos contornos, é uma influência de diferente natureza, exerce-se de forma indirecta, pela comunicação social, pelo acesso aos meios de informação.
Classicamente o caciquismo era exercido por duas forças que se digladiavam no terreno com altos e baixos mas com um certo equilíbrio a prazo. Esse caciquismo clássico não tinha substância intelectual, era uma influência exercida sem convencimento. Era um caciquismo primário que se desenvolvia pelo ascendente adquirido à base do poder económico, com dádivas, apoio e protecção e ponha em confronto dois “senhores”.
Hoje não há tanta ostentação do poder económico, obtém-se aquele ascendente através da ostentação do poder político, do poder de influência, dos bons relacionamentos. Os senhores da autarquia estão sempre presentes e espalham a sua influência, criam a sua rede de ligações. Porém nada mais legítimo se não fora este sistema ser baseado no uso e abuso do poder autárquico o que leva ao fim de um certo tempo a que uma só força política possa exercer o caciquismo, consiga arranjar pessoas que no terreno dêem a cara, exerçam a influência e controlem a situação.
O cacique de hoje tem que intervir no apaziguamento dos conflitos, no encaminhamento das energias dispersas, na criação de um clima de suficiência e satisfação para que se crie a onda, para que a comunicação social a tenha que levar ao seu destino. Este caciquismo moderno pode prescindir do existente na Madeira onde o regime é de maior constrangimento, mesmo de coacção institucional.
Aqui como lá o caciquismo está em permanente actividade, aproveita todas as oportunidades para dizer que existe, mas reconheçamos que cá só aparece para cobrar o pagamento devido nos períodos eleitorais, tem algum pudor em se exercer institucionalmente. A comunicação social facilita a sua vida, encarrega-se de manter viva a chama, mas o caciquismo sabe que não é seguro confiar nela e aqui é que pode haver coação ilegítima.
Se no geral o caciquismo intervém a todos os níveis e em todos os terrenos, mas fundamentalmente ao nível mais básico, actua logo na primeira instância do relacionamento social e aproveita toda e qualquer dependência que possa existir entre as pessoas. Se estas pressões podem ser imorais, só serão ilegítimas se exercidas sobre os meios, como a comunicação social, que devem estar disponíveis a todos os sectores sociais e políticos. De qualquer forma o caciquismo é condenável.
O caciquismo imiscui-se até nos relacionamentos familiares, mas não promove directamente a exclusão a não ser em casos extremos. O caciquismo lava as mãos sobre os efeitos dessa intromissão, não se preocupa que as pessoas, na sua vulnerabilidade, ponham em causa valores que deveriam defender dentro da família, dentro do grupo, na sociedade. Por isso não haverá evolução enquanto na política se não defender a promoção da liberdade, independência, da solidariedade, da partilha.
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