Depois das legislativas as eleições autárquicas serão subestimadas, dirão pouco a muitos, só alguns as relevarão, a esses dirão muito mais. O apelo interior ao voto, que cada um de nós sente nestes momentos, será nas autárquicas menor, sem dúvida, o apelo exterior com que a toda a hora nos acometem será nas autárquicas quase sempre maior, a proximidade produz os seus efeitos. O mais relevante do que se espera será que em muitos sítios as opções sejam outras.
São outras as funções a cumprir pelos eleitos autárquicos, outras são as qualidades exigidas, as expectativas criadas são doutra natureza e são estes factores que teremos que analisar e avaliar de modo a tomarmos uma decisão, porque ela nos é imposta. Mas levantar-se-á sempre o problema de como é possível que uns partidos não consigam pessoas de qualidade, disponíveis e empenhadas em exercer funções autárquicas “a tempo inteiro” e para outros parece sobrarem as pessoas e o seu problema é a escolha.
Como é possível que uns que até têm bastantes votos nas legislativas se desunhem para arranjar candidatos que concorram sob a sua bandeira e não os conseguem, senão à última hora, e outros agreguem a si com tanta facilidade pessoas de diferentes origens, prontas a desfilar sob bandeira alheia? Como é possível que uns nem com a preocupação de qualidade consigam as boas graças do eleitorado e outros nem precisem de preocupar com ela porque alberguem sob o seu manto gente de qualidade muito díspar e conseguem o apoio popular?
Essencialmente porque uns aparecem esporadicamente nas campanhas eleitorais, antes delas votam os eleitores ao desdém, depois do desastre enterram a cabeça na areia à espera que o flagelo passe. Para que é que eu me meti nisto, dizem os mais desiludidos pela sua fraca prestação. Má hora a que não resisti à vaidade de aparecer numa lista, dizem aqueles que nunca se deveriam ter metido, por não terem a humildade bastante.
E porque há outros que já ocuparam quase todo o espaço, que conseguem dar a ideia de que há falta de necessidade de haver no terreno outras organizações além das que os próprios controlam, que procuram convencer os outros de que são capazes de conciliar o interesse de todos. Para esses quem surge de forma meteórica não está interessado em defender os interesses de ninguém a não ser de si próprio. Quem procede desta maneira e é portador de tal estado de espírito não vai a lado algum. Vai passar o resto do tempo a olhar para si.
Então será que “ Os dados já estão lançados”? No geral nas autarquias os dados são mais antigos e os votos mais previsíveis. Quase tudo se passa como se o processo de decisão já esteja concluído há muito e como se tudo o que ocorreu depois não seja suficiente para abalar a decisão já tomada. As eleições são periódicas e, sejam quais forem os resultados esperados, deveriam obrigar-nos a uma reflexão mais ou menos longa. Porém a nossa preguiça mental não nos leva a tal, muito menos a reconsiderar votos feitos.
Se formos benevolentes é sempre tempo de dizermos que podemos fazer escolhas, que nem tudo está previamente decidido, que se não nos deixamos condicionar pelos outros também não nos devemos deixar condicionar por nós mesmos, que escolhas antes feitas nos não devem condicionar agora, que tanto nos podemos ter enganado então, como podemos estar enganados hoje. Sermos capazes de recolocar a indecisão e avançar a partir dai para as decisões é uma qualidade e não falta de coerência, como por vezes se diz.
. Quer dizer que o importante é sabermos como tomar as decisões. E neste aspecto o mais importante ainda é o sabermos que o que foi importante, o que pesou há anos pode-se revelar hoje perfeitamente irrisório, assim como podemos estar seguros de que o que nos parece importante hoje se pode revelar amanhã como um conjunto de pormenores ridículos que só foram levados em conta devido ao nosso “agrado” de momento.
Se nós adoptarmos um bom método de tomada de decisões podemos enganar-nos mas não temos razões para nos sentirmos diminuídos. Mas será que nos podemos decidir correctamente se a toda a hora nos surgem novos candidatos, novas caras ou então pessoas que nós conhecemos com outra roupagem? Será legitimo que nós nos deixemos levar por aqueles que já conhecemos há muito, que de algum modo nos acompanham, que de alguma maneira nos ajudam a superar este sentimento ambíguo de orfandade? Ou será melhor entregarmo-nos a um desconhecido, por mais méritos com que o cubram, e por mais convencido que ele esteja que nós o conhecemos?
Ninguém toma decisões sem “pensar”. Se muitas vezes não usamos todo o capital intelectual e tomamos reacções rápidas é porque o ritmo de vida adoptado nos convida a não gastarmos muito tempo a pensar e às tantas convencemo-nos mesmo que já sabemos tudo e decidimos pelo gosto de momento, pelo agrado, pelo mimo que nos é feito. Para os intelectuais o valor das nossas decisões depende da leviandade com que as tomamos, isto é, da maneira como nos deixamos impressionar por leves sentimentos ou por simples emoções de agrado.
Qualquer acusação de manipulação social não tem fundamento. É tão legítimo lutar pela manutenção de um ascendente já conseguido pelo apelo constante àquelas impressões leves, como o é o apelo a sentimentos fortes e cujo deslocamento até é muitas vezes mais do que evidente. Assim as nossas decisões não devem ser contestadas pelo seu valor, mas são os políticos que devem ser realistas e criar os laços que possam ser mais fortes do que os do adversário.
Se nas autarquias um partido tem uma votação interior à votação nas legislativas é porque os seus candidatos locais não têm o valor correspondente ao dos nacionais. Ou tão só não têm a persistência, não se querem submeter à exposição a que todos os políticos estão obrigados. Não se queira que a população veja da mesma forma um meteoro e um satélite geostacionário. Alguns laços ou pelo menos a disponibilidade para os estabelecer são elementos essenciais nas eleições locais. Não chega passar, olhar, andar por aí, nem chega sequer ter boas ideias, é preciso estar de alma e coração cá, com a gente de cá.
São outras as funções a cumprir pelos eleitos autárquicos, outras são as qualidades exigidas, as expectativas criadas são doutra natureza e são estes factores que teremos que analisar e avaliar de modo a tomarmos uma decisão, porque ela nos é imposta. Mas levantar-se-á sempre o problema de como é possível que uns partidos não consigam pessoas de qualidade, disponíveis e empenhadas em exercer funções autárquicas “a tempo inteiro” e para outros parece sobrarem as pessoas e o seu problema é a escolha.
Como é possível que uns que até têm bastantes votos nas legislativas se desunhem para arranjar candidatos que concorram sob a sua bandeira e não os conseguem, senão à última hora, e outros agreguem a si com tanta facilidade pessoas de diferentes origens, prontas a desfilar sob bandeira alheia? Como é possível que uns nem com a preocupação de qualidade consigam as boas graças do eleitorado e outros nem precisem de preocupar com ela porque alberguem sob o seu manto gente de qualidade muito díspar e conseguem o apoio popular?
Essencialmente porque uns aparecem esporadicamente nas campanhas eleitorais, antes delas votam os eleitores ao desdém, depois do desastre enterram a cabeça na areia à espera que o flagelo passe. Para que é que eu me meti nisto, dizem os mais desiludidos pela sua fraca prestação. Má hora a que não resisti à vaidade de aparecer numa lista, dizem aqueles que nunca se deveriam ter metido, por não terem a humildade bastante.
E porque há outros que já ocuparam quase todo o espaço, que conseguem dar a ideia de que há falta de necessidade de haver no terreno outras organizações além das que os próprios controlam, que procuram convencer os outros de que são capazes de conciliar o interesse de todos. Para esses quem surge de forma meteórica não está interessado em defender os interesses de ninguém a não ser de si próprio. Quem procede desta maneira e é portador de tal estado de espírito não vai a lado algum. Vai passar o resto do tempo a olhar para si.
Então será que “ Os dados já estão lançados”? No geral nas autarquias os dados são mais antigos e os votos mais previsíveis. Quase tudo se passa como se o processo de decisão já esteja concluído há muito e como se tudo o que ocorreu depois não seja suficiente para abalar a decisão já tomada. As eleições são periódicas e, sejam quais forem os resultados esperados, deveriam obrigar-nos a uma reflexão mais ou menos longa. Porém a nossa preguiça mental não nos leva a tal, muito menos a reconsiderar votos feitos.
Se formos benevolentes é sempre tempo de dizermos que podemos fazer escolhas, que nem tudo está previamente decidido, que se não nos deixamos condicionar pelos outros também não nos devemos deixar condicionar por nós mesmos, que escolhas antes feitas nos não devem condicionar agora, que tanto nos podemos ter enganado então, como podemos estar enganados hoje. Sermos capazes de recolocar a indecisão e avançar a partir dai para as decisões é uma qualidade e não falta de coerência, como por vezes se diz.
. Quer dizer que o importante é sabermos como tomar as decisões. E neste aspecto o mais importante ainda é o sabermos que o que foi importante, o que pesou há anos pode-se revelar hoje perfeitamente irrisório, assim como podemos estar seguros de que o que nos parece importante hoje se pode revelar amanhã como um conjunto de pormenores ridículos que só foram levados em conta devido ao nosso “agrado” de momento.
Se nós adoptarmos um bom método de tomada de decisões podemos enganar-nos mas não temos razões para nos sentirmos diminuídos. Mas será que nos podemos decidir correctamente se a toda a hora nos surgem novos candidatos, novas caras ou então pessoas que nós conhecemos com outra roupagem? Será legitimo que nós nos deixemos levar por aqueles que já conhecemos há muito, que de algum modo nos acompanham, que de alguma maneira nos ajudam a superar este sentimento ambíguo de orfandade? Ou será melhor entregarmo-nos a um desconhecido, por mais méritos com que o cubram, e por mais convencido que ele esteja que nós o conhecemos?
Ninguém toma decisões sem “pensar”. Se muitas vezes não usamos todo o capital intelectual e tomamos reacções rápidas é porque o ritmo de vida adoptado nos convida a não gastarmos muito tempo a pensar e às tantas convencemo-nos mesmo que já sabemos tudo e decidimos pelo gosto de momento, pelo agrado, pelo mimo que nos é feito. Para os intelectuais o valor das nossas decisões depende da leviandade com que as tomamos, isto é, da maneira como nos deixamos impressionar por leves sentimentos ou por simples emoções de agrado.
Qualquer acusação de manipulação social não tem fundamento. É tão legítimo lutar pela manutenção de um ascendente já conseguido pelo apelo constante àquelas impressões leves, como o é o apelo a sentimentos fortes e cujo deslocamento até é muitas vezes mais do que evidente. Assim as nossas decisões não devem ser contestadas pelo seu valor, mas são os políticos que devem ser realistas e criar os laços que possam ser mais fortes do que os do adversário.
Se nas autarquias um partido tem uma votação interior à votação nas legislativas é porque os seus candidatos locais não têm o valor correspondente ao dos nacionais. Ou tão só não têm a persistência, não se querem submeter à exposição a que todos os políticos estão obrigados. Não se queira que a população veja da mesma forma um meteoro e um satélite geostacionário. Alguns laços ou pelo menos a disponibilidade para os estabelecer são elementos essenciais nas eleições locais. Não chega passar, olhar, andar por aí, nem chega sequer ter boas ideias, é preciso estar de alma e coração cá, com a gente de cá.
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