A igualdade de oportunidades é a primeira das igualdades e talvez seja a igualdade suficiente para garantir as outras. Há no entanto quem pense que a dificuldade da efectivação de uma séria igualdade de oportunidades deve levar em que se pense como, através de outras igualdades, se pode compensar essa falha e corrigir as desigualdades assim criadas.
Outros dirão ainda que a falta de igualdade não é de agora, tem gerações, e continuamente se agrava. Terá havido um momento primeiro em que todos foram iguais. Depois agrupamo-nos, organizamo-nos em tribos e clãs, em cidades e nações e voluntariamente ou não fomos perdendo igualdade, foram-se definindo funções, foram-se herdando estatutos, foi-se criando um passado colectivo e inveja social.
O Estado Moderno é uma tentativa de repor um certa igualdade à nascença e de contribuir para a não criação de diferenças radicais. Este modelo está longe de ser globalmente seguido embora seja bastante aceite. E cada Estado tem, como as pessoas, um passado representado por sucessivos gerações que confluíram, se sedimentaram e organizaram.
Do nosso passado colectivo se vai deixando um rasto, uma linha de rumo, alguma característica que pode até já já pouco dizer no presente, mas ainda representa uma reminiscência que é levada em conta em momentos decisivos, pronta a desempenhar o seu papel de influência sobre os comportamentos individuais.
Os portugueses são tidos como um povo de conquistadores. Motivo de orgulho para um povo pequeno, vivendo num território pobre e marginal. Mas nunca o senti, nunca participei, nunca me atribui esse rótulo. E se principalmente no tempo da guerra colonial me apercebi que havia quem se sentisse como tal, quem se sentisse vestindo a pele dos velhos conquistadores que um pouco à sorte deambularam por esses mares além.
No tempo da guerra colonial eu aceitava o passado, não renegava as gerações anteriores, mas sentia-me ultrapassado pelos propósitos de então, não me reconhecia neles. Era como se eu sempre tivesse colaborado, participado nas conquistas que haviam sido feitas mas, chegado aqui, tinham feito de mim um conquistado como aqueles que em gerações passadas “eu” ajudara a submeter.
Os benefícios da conquista haviam sido só para uns que permaneceram para sempre conquistadores e não para a maioria que se dispersou misturada com os conquistados. Mas ainda por cima esse pensamento de conquistador sobreponha-se à minha solidariedade para os efectivamente conquistados, o que era a pior lástima para mim.
Esta sensação de estar cá com o coração e lá com o intelecto, de não poder deixar de estar com os meus, com o meu exército, e dar razão àqueles que estão do outro lado é dilacerador para a alma lusitana. Uma nação de conquistadores é uma nação desigual, mas quando persiste no erro para além do razoável perde identidade. Uma nação que não consegue ainda estripar da sua alma essa fonte de desigualdade que a noção de conquista transporta não consegue estar de bem consigo própria.
Estar de bem passa por compreender a razoabilidade das coisas no contexto histórico em que se desenrolaram e a sua reversibilidade natural. Por não darmos aos outros as mesmas oportunidades nossas, eles conquistaram-nas, libertando-se da ignomínia. Também individualmente não estamos prisioneiros de todos os factos que ocorreram na nossa existência. Podemos compreendê-los, ultrapassá-los na medida em que constituíram entraves à realização das boas oportunidades ou tê-los em conta quando favorecem os nossos sucessos.
Só tendo a noção do nosso próprio valor saberemos se aproveitamos bem as oportunidades que a vida nos deu ou se os obstáculos intransponíveis as tornaram impossíveis. E temos de estar permanentemente disponíveis, não obcecados, para corresponder a novas oportunidades. Aquilo que nos faz andar angustiados toda a vida é procurarmos compensar no futuro aquilo que a vida nos não deu no passado. Na nossa conta corrente temos sempre um crédito imenso a cobrar não sabemos a quem.
Atribuímos culpas ao desbarato com a ideia peregrina que alguém se poderá dispor a pagar algum dos créditos que temos à cobrança. Como esta atitude não é nada compensatória, embora nós nos não preocupemos que o justo pague pelo pecador, raramente nos livramos desta esquizofrenia colectiva de que todos somos culpados e vitimas. Porque razões não bastamos nós, as nossas dificuldades e ainda temos que suportar este passado normalmente pesado no seu deficit?
Oportunidades perdidas todos tivemos, mas oportunidades que não nos foram dados foram muito mais e para muitos mais. Oportunidades únicas, irrepetíveis são poucas e os que delas beneficiaram são normalmente egoístas e mesmo gananciosos. Mas é destas que nós pensamos quando falamos de igualdades de oportunidades.
Porquê não termos sido nós a ter uma dessas oportunidades? Porquê não a podermos ainda ter no futuro? Podemos pensar assim se não cairmos na inveja social. Efectivamente esta tem nas mesmas oportunidades o seu campo predilecto mesmo que se não fique por aí. Criadas virtualmente pela inveja social imensas oportunidades ficam por surgir e as que aparecem são avidamente procuradas.
Perante a impossibilidades de todas as oportunidades estarem ao dispor de todos, só nos resta combater a inveja social e estabelecer um limite máximo para as imensas compensações que as tais oportunidades únicas podem proporcionar. Os recursos da humanidade são escassos e só têm que ser aproveitados no proveito de todos, afastando-se o egoísmo, a ganância exacerbada e o parasitismo social.
Outros dirão ainda que a falta de igualdade não é de agora, tem gerações, e continuamente se agrava. Terá havido um momento primeiro em que todos foram iguais. Depois agrupamo-nos, organizamo-nos em tribos e clãs, em cidades e nações e voluntariamente ou não fomos perdendo igualdade, foram-se definindo funções, foram-se herdando estatutos, foi-se criando um passado colectivo e inveja social.
O Estado Moderno é uma tentativa de repor um certa igualdade à nascença e de contribuir para a não criação de diferenças radicais. Este modelo está longe de ser globalmente seguido embora seja bastante aceite. E cada Estado tem, como as pessoas, um passado representado por sucessivos gerações que confluíram, se sedimentaram e organizaram.
Do nosso passado colectivo se vai deixando um rasto, uma linha de rumo, alguma característica que pode até já já pouco dizer no presente, mas ainda representa uma reminiscência que é levada em conta em momentos decisivos, pronta a desempenhar o seu papel de influência sobre os comportamentos individuais.
Os portugueses são tidos como um povo de conquistadores. Motivo de orgulho para um povo pequeno, vivendo num território pobre e marginal. Mas nunca o senti, nunca participei, nunca me atribui esse rótulo. E se principalmente no tempo da guerra colonial me apercebi que havia quem se sentisse como tal, quem se sentisse vestindo a pele dos velhos conquistadores que um pouco à sorte deambularam por esses mares além.
No tempo da guerra colonial eu aceitava o passado, não renegava as gerações anteriores, mas sentia-me ultrapassado pelos propósitos de então, não me reconhecia neles. Era como se eu sempre tivesse colaborado, participado nas conquistas que haviam sido feitas mas, chegado aqui, tinham feito de mim um conquistado como aqueles que em gerações passadas “eu” ajudara a submeter.
Os benefícios da conquista haviam sido só para uns que permaneceram para sempre conquistadores e não para a maioria que se dispersou misturada com os conquistados. Mas ainda por cima esse pensamento de conquistador sobreponha-se à minha solidariedade para os efectivamente conquistados, o que era a pior lástima para mim.
Esta sensação de estar cá com o coração e lá com o intelecto, de não poder deixar de estar com os meus, com o meu exército, e dar razão àqueles que estão do outro lado é dilacerador para a alma lusitana. Uma nação de conquistadores é uma nação desigual, mas quando persiste no erro para além do razoável perde identidade. Uma nação que não consegue ainda estripar da sua alma essa fonte de desigualdade que a noção de conquista transporta não consegue estar de bem consigo própria.
Estar de bem passa por compreender a razoabilidade das coisas no contexto histórico em que se desenrolaram e a sua reversibilidade natural. Por não darmos aos outros as mesmas oportunidades nossas, eles conquistaram-nas, libertando-se da ignomínia. Também individualmente não estamos prisioneiros de todos os factos que ocorreram na nossa existência. Podemos compreendê-los, ultrapassá-los na medida em que constituíram entraves à realização das boas oportunidades ou tê-los em conta quando favorecem os nossos sucessos.
Só tendo a noção do nosso próprio valor saberemos se aproveitamos bem as oportunidades que a vida nos deu ou se os obstáculos intransponíveis as tornaram impossíveis. E temos de estar permanentemente disponíveis, não obcecados, para corresponder a novas oportunidades. Aquilo que nos faz andar angustiados toda a vida é procurarmos compensar no futuro aquilo que a vida nos não deu no passado. Na nossa conta corrente temos sempre um crédito imenso a cobrar não sabemos a quem.
Atribuímos culpas ao desbarato com a ideia peregrina que alguém se poderá dispor a pagar algum dos créditos que temos à cobrança. Como esta atitude não é nada compensatória, embora nós nos não preocupemos que o justo pague pelo pecador, raramente nos livramos desta esquizofrenia colectiva de que todos somos culpados e vitimas. Porque razões não bastamos nós, as nossas dificuldades e ainda temos que suportar este passado normalmente pesado no seu deficit?
Oportunidades perdidas todos tivemos, mas oportunidades que não nos foram dados foram muito mais e para muitos mais. Oportunidades únicas, irrepetíveis são poucas e os que delas beneficiaram são normalmente egoístas e mesmo gananciosos. Mas é destas que nós pensamos quando falamos de igualdades de oportunidades.
Porquê não termos sido nós a ter uma dessas oportunidades? Porquê não a podermos ainda ter no futuro? Podemos pensar assim se não cairmos na inveja social. Efectivamente esta tem nas mesmas oportunidades o seu campo predilecto mesmo que se não fique por aí. Criadas virtualmente pela inveja social imensas oportunidades ficam por surgir e as que aparecem são avidamente procuradas.
Perante a impossibilidades de todas as oportunidades estarem ao dispor de todos, só nos resta combater a inveja social e estabelecer um limite máximo para as imensas compensações que as tais oportunidades únicas podem proporcionar. Os recursos da humanidade são escassos e só têm que ser aproveitados no proveito de todos, afastando-se o egoísmo, a ganância exacerbada e o parasitismo social.
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