Em tempos havia uma excessiva preocupação com o que as pessoas diziam, não fossem elas ser inconvenientes. O meio condicionava o nível de linguagem e em princípio, quanto mais letrado fosse o meio em que nós estamos integrados, mais elevado teria que ser o nível, mais aprimorada a linguagem. Mas em qualquer meio ter-se-ia que respeitar o nível mais elevado de linguagem de quem estava presente, a cujo nível intelectual se associava o nível moral.
Hoje será muito mais difícil a alguém impor um nível de linguagem quando está em minoria num determinado grupo. Em muitos meios se admite uma largueza de linguagem muito grande e há uma maior permissividade a falar do que se não gosta. Também, quando há uma grande confrontação de ideias, cada uma das partes usa um nível de linguagem inferior à linguagem coloquial. Quando na televisão produz-se uma uniformização por baixo que a todos contamina. È o resultado de uma competição pelas audiências que visa agradar a um extracto social que se presume dominante.
O sector mais activo da sociedade ainda vem do tempo da ditadura, na qual havia a imposição de uma linguagem artificial e reverencial que nos dias de hoje não é aceite. Após essa infeliz experiência muitos de nós nunca chegamos a encontrar o tom certo, a terminologia adequada, a linguagem mais próxima da verdade, mas em contrapartida tornamo-nos mais irreverentes, mais inconformistas e desagrada-nos a linguagem formal. Encenamos linguagens que não são nossas.
Podemos analisar a linguagem pelo aspecto da proximidade entre a ideia e a realidade que pretende retratar, mas também pelo lado de uma condenação moral que se pretenda transmitir. Muitas vezes é com o tom utilizado, com a seriedade ou o riso com que se acompanha aquilo que se diz que se pretende conseguir uma adesão imediata das pessoas a uma dada interpretação dos acontecimentos. E muitas vezes só se procede desta maneira para se não ser diferente.
Normalmente alguém serve de referência e ninguém quer destoar. Hoje, mesmo em grandes meios de comunicação, facilmente se conseguem apresentar histórias falsas, calamidades que não nos atingem, verdadeiras blasfémias, autênticos sacrilégios, que ninguém se atreve a desmentir, mesmo quando tem conhecimento directo da mentira que se está a montar.
Se queremos enganar as outras pessoas, deveríamos ter vergonha de sermos tão falsos. Mas isso já não funciona. O princípio da lealdade seria o mais aplicável, mas é de difícil aquisição. Ser leal é afinal uma condição que nos compromete com os outros. A lealdade implica o respeito pelos outros como seres humanos que também devem ter por nós um sentimento recíproco. É necessário ter presente que a lealdade não é fidelidade porque esta só tem um sentido.
Não somos leais com a sociedade se manifestamos uma falsa pobreza ou percas imprevistas para obter ganhos indevidos. A expressão “se não choras não mamas” é um autêntico relaxante da moral pública. Mas é a televisão, esse extraordinário veículo de transmissão, o maior instrumento desse relaxamento moral. Na televisão há um sentimento de impunidade absoluta.
Na nossa televisão prevalece o mediano, que, no caso português, se caracteriza pelo choradinho nacional no domínio informativo e por outros aspectos tornados folclóricos nas vertentes do entretenimento. Mas também há muito do domínio do péssimo. A linguagem usada na TV foi-se tornando cada vez mais alarve, como se houvesse uma competição sobre quem é mais agressivo, mais justiceiro. Ninguém está livre de ser violentamente agredido nesta TV.
A proliferação dos espectáculos miserabilistas não corresponde, nem de perto nem de longe, ao que se vive nos dias de hoje, mas sim ao que se viveu durante séculos e séculos e está na memória colectiva. É como se quisemos revolver tudo, trazer à superfície séculos e séculos de injustiças acumuladas que afectaram quase todos. Perante essas, as injustiças de hoje são bem pequenas.
Surge então um problema quando a realidade é mais séria do que se estava à espera. Habituados a gritar pelos ladrões, quando eles aparecem ninguém nos acode. As pessoas, agora que a crise está aí, escancarada perante todos os olhos, perante tantas dificuldades, parece levarem menos a sério o que é sério do que quando se falava em fantasias. De qualquer modo, se alguma personalização é necessária para sensibilizar as pessoas, quando ela é excessiva, isso torna-se doloroso e até mesmo cruel.
Nos meios de comunicação deveria falar-se sério, com um tom de voz apropriado, com uma gravidade de discurso autêntica. A entoação de grito ou de canto, os tons propositadamente condenatórios não se adequam a dar informações sobre factos que devem ser deixados à interpretação de quem vê, lê ou ouve. A gravidade da crise deve obrigar à gravidade do discurso. O sentimento pessoal é legitimamente expresso no enquadramento de comentário não no de informação.
No passado já se difundiu a ideia que o governo manipulava sempre os canais públicos de televisão. Mas, se na maioria dos países há uma orientação estrita em especial no conteúdo da informação, Portugal foge a essa lógica. Somos levados a pensar que muitas vezes a nossa televisão pública não é seguidista em relação ao governo, antes tem essa atitude para com aqueles que mais barulho faz.
Dar notícia das questões graves é uma obrigação, mas adoptar a linguagem de uma das partes do problema ou adoptar uma linguagem condenatória, justiceira, é quase sempre uma precipitação deplorável. Adoptar uma maneira crítica de ver as coisas, adaptável a todas as situações, pode ser aceitável para quem segue legitimamente uma dada orientação política. Mas dar o patrocínio a uma visão única e tendenciosa por parte de quem tem obrigação de ser imparcial é condenável.
Hoje será muito mais difícil a alguém impor um nível de linguagem quando está em minoria num determinado grupo. Em muitos meios se admite uma largueza de linguagem muito grande e há uma maior permissividade a falar do que se não gosta. Também, quando há uma grande confrontação de ideias, cada uma das partes usa um nível de linguagem inferior à linguagem coloquial. Quando na televisão produz-se uma uniformização por baixo que a todos contamina. È o resultado de uma competição pelas audiências que visa agradar a um extracto social que se presume dominante.
O sector mais activo da sociedade ainda vem do tempo da ditadura, na qual havia a imposição de uma linguagem artificial e reverencial que nos dias de hoje não é aceite. Após essa infeliz experiência muitos de nós nunca chegamos a encontrar o tom certo, a terminologia adequada, a linguagem mais próxima da verdade, mas em contrapartida tornamo-nos mais irreverentes, mais inconformistas e desagrada-nos a linguagem formal. Encenamos linguagens que não são nossas.
Podemos analisar a linguagem pelo aspecto da proximidade entre a ideia e a realidade que pretende retratar, mas também pelo lado de uma condenação moral que se pretenda transmitir. Muitas vezes é com o tom utilizado, com a seriedade ou o riso com que se acompanha aquilo que se diz que se pretende conseguir uma adesão imediata das pessoas a uma dada interpretação dos acontecimentos. E muitas vezes só se procede desta maneira para se não ser diferente.
Normalmente alguém serve de referência e ninguém quer destoar. Hoje, mesmo em grandes meios de comunicação, facilmente se conseguem apresentar histórias falsas, calamidades que não nos atingem, verdadeiras blasfémias, autênticos sacrilégios, que ninguém se atreve a desmentir, mesmo quando tem conhecimento directo da mentira que se está a montar.
Se queremos enganar as outras pessoas, deveríamos ter vergonha de sermos tão falsos. Mas isso já não funciona. O princípio da lealdade seria o mais aplicável, mas é de difícil aquisição. Ser leal é afinal uma condição que nos compromete com os outros. A lealdade implica o respeito pelos outros como seres humanos que também devem ter por nós um sentimento recíproco. É necessário ter presente que a lealdade não é fidelidade porque esta só tem um sentido.
Não somos leais com a sociedade se manifestamos uma falsa pobreza ou percas imprevistas para obter ganhos indevidos. A expressão “se não choras não mamas” é um autêntico relaxante da moral pública. Mas é a televisão, esse extraordinário veículo de transmissão, o maior instrumento desse relaxamento moral. Na televisão há um sentimento de impunidade absoluta.
Na nossa televisão prevalece o mediano, que, no caso português, se caracteriza pelo choradinho nacional no domínio informativo e por outros aspectos tornados folclóricos nas vertentes do entretenimento. Mas também há muito do domínio do péssimo. A linguagem usada na TV foi-se tornando cada vez mais alarve, como se houvesse uma competição sobre quem é mais agressivo, mais justiceiro. Ninguém está livre de ser violentamente agredido nesta TV.
A proliferação dos espectáculos miserabilistas não corresponde, nem de perto nem de longe, ao que se vive nos dias de hoje, mas sim ao que se viveu durante séculos e séculos e está na memória colectiva. É como se quisemos revolver tudo, trazer à superfície séculos e séculos de injustiças acumuladas que afectaram quase todos. Perante essas, as injustiças de hoje são bem pequenas.
Surge então um problema quando a realidade é mais séria do que se estava à espera. Habituados a gritar pelos ladrões, quando eles aparecem ninguém nos acode. As pessoas, agora que a crise está aí, escancarada perante todos os olhos, perante tantas dificuldades, parece levarem menos a sério o que é sério do que quando se falava em fantasias. De qualquer modo, se alguma personalização é necessária para sensibilizar as pessoas, quando ela é excessiva, isso torna-se doloroso e até mesmo cruel.
Nos meios de comunicação deveria falar-se sério, com um tom de voz apropriado, com uma gravidade de discurso autêntica. A entoação de grito ou de canto, os tons propositadamente condenatórios não se adequam a dar informações sobre factos que devem ser deixados à interpretação de quem vê, lê ou ouve. A gravidade da crise deve obrigar à gravidade do discurso. O sentimento pessoal é legitimamente expresso no enquadramento de comentário não no de informação.
No passado já se difundiu a ideia que o governo manipulava sempre os canais públicos de televisão. Mas, se na maioria dos países há uma orientação estrita em especial no conteúdo da informação, Portugal foge a essa lógica. Somos levados a pensar que muitas vezes a nossa televisão pública não é seguidista em relação ao governo, antes tem essa atitude para com aqueles que mais barulho faz.
Dar notícia das questões graves é uma obrigação, mas adoptar a linguagem de uma das partes do problema ou adoptar uma linguagem condenatória, justiceira, é quase sempre uma precipitação deplorável. Adoptar uma maneira crítica de ver as coisas, adaptável a todas as situações, pode ser aceitável para quem segue legitimamente uma dada orientação política. Mas dar o patrocínio a uma visão única e tendenciosa por parte de quem tem obrigação de ser imparcial é condenável.
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