Meio século atrás quase tudo na sociedade, profissões, comportamentos, amigos, festas, nos era “imposto”. Porém no seu dia a dia a sociedade assumia uma naturalidade bastante consistente que nos levava a uma atitude de aceitação, de vivência das situações com uma certa autenticidade. Hoje andamos ao sabor das circunstâncias, nem sempre aproveitando a liberdade que temos. Ao menos não percamos aquilo que um dia vivemos.
A festa do Natal, inserida num contexto religioso que genericamente não era posto em causa, enquadrava-se dentro daquilo que na nossa vida há de mais genuíno e reunificador. Efectivamente em nenhuma outra ocasião do ano nos sentimos tão próximos das origens, tão impelidos para um regresso. E quase todas as pessoas se sentem mais próximas do seu íntimo, mais despidos de preconceitos, de papéis sociais, de vaidades.
A liberdade não é motivo para rejeitarmos esta herança do passado. Esta é das boas, porque tudo que nos leve a pensar na nossa situação e a reforçar os nossos sentimentos de solidariedade, é benéfico para nós e para a sociedade. É verdade que, por reforçar os laços de família, para quem a não tem e não fez a devida conversão, pode levar a estados indesejados de solidão. Mas também esses podem aceder a uma transcendência que nos deve acompanhar.
Uma Festa, por tão abrangente e virada para o recolhimento, até podia ser entendida como não possível sem imposição. Não ocorreria só com a nossa vontade individual mas mercê de uma ambiente colectivo criado. Sentíamos como que uma obrigação de ir à terra, de nos aproximarmos da família mais chegada, de visitarmos os amigos e conhecidos. A liberdade porém não nos fez esquecer esses sentimentos e muitas vezes até ajudou a reforçá-los.
Todos os movimentos colectivos, mesmo os mais autênticos, transportam porém em si alguma ambiguidade, podem suscitar sentimentos contraditórios. E em certas franjas sociais podem criar sentimentos de alguma rejeição, por exemplo quando uma outra franja qualquer se tenta apropriar da Festa para si. Felizmente o Natal é de todos e contrariamente a outras festas há um esforço para que continue.
O Natal é a época de preferência de reencontro. E digamos a mais apropriada para isso. Os reencontros de Verão são doutra natureza e leva mesmo a interrogar-me-nos sobre a forma como a época é vivida no hemisfério sul. Mas também se o frio, a neve, os dias pequenos e longas noites ajudam, somos nós que criamos a oportunidade para o intimismo da Festa.
O espírito natalício está tão arreigado que a maioria das pessoas sofrem quando se vêm impedidas de dar satisfação a este apelo de se juntar à família, de revisitar pessoas e locais de infância, de reviver referências e momentos que foram marcantes, embora e talvez por isso, muitas vezes já só a imaginação nos leve aos tempos recuados em que tudo tinha uma significado mais sincero.
O problema é que este espírito se pode perder, por não ser transmitido aos jovens de hoje. O consumismo tem aqui uma culpa determinante., a voracidade do comércio encaminha as mentes para se mostrarem enroupadas pelas prendas em vez de embelezadas por sentimentos e actos de generosidade e boa convivência. É a materialidade a inquinar a espiritualidade.
Quando tão mal se diz dos jovens convém pensar no triste espectáculo dos adultos que afinal são as únicas referências que eles têm. O desgoverno dos jovens é tão natural nas condições actuais como o anarquismo mental que tomou conta do pensamento mais em voga. É tão grave os adultos tentarem impor uma doutrina determinada, como só ter a vacuidade para dar.
Se podemos nos não identificar com o Menino Que Nasceu Para Nos Salvar, podemos e devemos identificar-nos com o Menino que nasceu para encontrar um mundo desorientado, dominado por forças incomensuráveis e cujas hipóteses de ser devorado por ele são imensas.
O meu Menino é incógnito, inlocalizável, sem idade e destino determinado. Encontra-se algures no meio duma calamidade, duma peste, duma guerra, subnutrido, ao frio ou ao calor, incapaz de avançar, de recuar ou simplesmente de alertar o mundo para a sua condição indigna e abjecta. O meu Menino não é vaidoso nem egoísta, não se veste de seda, provavelmente anda despido.
Decerto que esse Menino se identifica com todos os meninos que um dia sonharam salvar o mundo, que tudo fizeram para contribuir para isso, que, em reconhecimento de terem chegado a grandes, aplicaram muitos dos seus esforços na procura do entendimento e no reforço da paz. E decerto com esse Menino cujo nascimento no Natal se celebra.
A festa do Natal, inserida num contexto religioso que genericamente não era posto em causa, enquadrava-se dentro daquilo que na nossa vida há de mais genuíno e reunificador. Efectivamente em nenhuma outra ocasião do ano nos sentimos tão próximos das origens, tão impelidos para um regresso. E quase todas as pessoas se sentem mais próximas do seu íntimo, mais despidos de preconceitos, de papéis sociais, de vaidades.
A liberdade não é motivo para rejeitarmos esta herança do passado. Esta é das boas, porque tudo que nos leve a pensar na nossa situação e a reforçar os nossos sentimentos de solidariedade, é benéfico para nós e para a sociedade. É verdade que, por reforçar os laços de família, para quem a não tem e não fez a devida conversão, pode levar a estados indesejados de solidão. Mas também esses podem aceder a uma transcendência que nos deve acompanhar.
Uma Festa, por tão abrangente e virada para o recolhimento, até podia ser entendida como não possível sem imposição. Não ocorreria só com a nossa vontade individual mas mercê de uma ambiente colectivo criado. Sentíamos como que uma obrigação de ir à terra, de nos aproximarmos da família mais chegada, de visitarmos os amigos e conhecidos. A liberdade porém não nos fez esquecer esses sentimentos e muitas vezes até ajudou a reforçá-los.
Todos os movimentos colectivos, mesmo os mais autênticos, transportam porém em si alguma ambiguidade, podem suscitar sentimentos contraditórios. E em certas franjas sociais podem criar sentimentos de alguma rejeição, por exemplo quando uma outra franja qualquer se tenta apropriar da Festa para si. Felizmente o Natal é de todos e contrariamente a outras festas há um esforço para que continue.
O Natal é a época de preferência de reencontro. E digamos a mais apropriada para isso. Os reencontros de Verão são doutra natureza e leva mesmo a interrogar-me-nos sobre a forma como a época é vivida no hemisfério sul. Mas também se o frio, a neve, os dias pequenos e longas noites ajudam, somos nós que criamos a oportunidade para o intimismo da Festa.
O espírito natalício está tão arreigado que a maioria das pessoas sofrem quando se vêm impedidas de dar satisfação a este apelo de se juntar à família, de revisitar pessoas e locais de infância, de reviver referências e momentos que foram marcantes, embora e talvez por isso, muitas vezes já só a imaginação nos leve aos tempos recuados em que tudo tinha uma significado mais sincero.
O problema é que este espírito se pode perder, por não ser transmitido aos jovens de hoje. O consumismo tem aqui uma culpa determinante., a voracidade do comércio encaminha as mentes para se mostrarem enroupadas pelas prendas em vez de embelezadas por sentimentos e actos de generosidade e boa convivência. É a materialidade a inquinar a espiritualidade.
Quando tão mal se diz dos jovens convém pensar no triste espectáculo dos adultos que afinal são as únicas referências que eles têm. O desgoverno dos jovens é tão natural nas condições actuais como o anarquismo mental que tomou conta do pensamento mais em voga. É tão grave os adultos tentarem impor uma doutrina determinada, como só ter a vacuidade para dar.
Se podemos nos não identificar com o Menino Que Nasceu Para Nos Salvar, podemos e devemos identificar-nos com o Menino que nasceu para encontrar um mundo desorientado, dominado por forças incomensuráveis e cujas hipóteses de ser devorado por ele são imensas.
O meu Menino é incógnito, inlocalizável, sem idade e destino determinado. Encontra-se algures no meio duma calamidade, duma peste, duma guerra, subnutrido, ao frio ou ao calor, incapaz de avançar, de recuar ou simplesmente de alertar o mundo para a sua condição indigna e abjecta. O meu Menino não é vaidoso nem egoísta, não se veste de seda, provavelmente anda despido.
Decerto que esse Menino se identifica com todos os meninos que um dia sonharam salvar o mundo, que tudo fizeram para contribuir para isso, que, em reconhecimento de terem chegado a grandes, aplicaram muitos dos seus esforços na procura do entendimento e no reforço da paz. E decerto com esse Menino cujo nascimento no Natal se celebra.