sexta-feira, 18 de abril de 2008

Um plano estratégico incoerente e inconsequente

A Valimar apresentou um estranho plano estratégico de desenvolvimento, que de desenvolvimento pouco tem, seja qual for o prisma por que se queira ver. Idealiza uma combinação da escala amigável dos seus principais centros urbanos com a valia da sustentabilidade e da excelência ambiental do território, beneficiando este último dos níveis mais baixos de densidade demográfica e industrial. Quer dizer que, quando se quer sol na eira e chuva no nabal não se tem uma coisa nem outra.
O que de positivo este plano tem é que no estudo que lhe serve de base se identificaram alguns pontos negros e limitações, embora alguns sejam interpretados em sentido contrário ao correcto. Reconhece ser uma forte limitação a pequenez da base urbana que organiza o território na emergência de atmosferas propícias ao desenvolvimento. O plano faz de Porto, Vivo e Braga-Guimarães os locais com forte potencial de crescimento e atractividade e só nos atribui condições privilegiadas para o lazer e actividades marginais.
O plano resigna-se a repetir velhos axiomas propondo a sustentabilidade ambiental como critério de regulação e factor de promoção de serviços e de novas actividades no sentido da manutenção da “galinha dos ovos de ouro”, afinal ovos que de tão guardados parece já estarem por demais chocos, sem fruto. Afinal aponta como principal debilidade endógena do território a incapacidade de empreendimento e iniciativa privada e colectiva.
Mesmo quanto às políticas de intervenção de iniciativa municipal ou inter-municipal as propostas apresentadas não saem do já tentado. Quanto à iniciativa privada diz-se que o défice actual da sua iniciativa não subsidiada constitui uma importante limitação. Nesta perspectiva este plano parece não ter validade sequer para o período até 2013, em que ainda haverá subsídios, porque os subestima. E deixa a obscuridade para além dessa data.
Na sua pequenez este plano privilegia nitidamente a orla marítima Esposende-Viana-Caminha, sendo mesmo contra uma forte ligação Braga-Ponte da Barca-Arcos-Monção reforçada com a melhoria dessa acessibilidade. A configuração transversal do território da Valimar leva-os a cair no erro de privilegiar uma penetração no mesmo sentido em Espanha até Orense, como a querer que esta cidade transfira o seu contacto marítimo de Vigo para Viana, o que é de mais.
Sem deixar de ser aconselhável reforçar essa ligação será sempre muita secundária para a centralidade de Orense e o nosso território tem que continuar a privilegiar as ligações Norte-Sul e fazer com que, na sua limitação geográfica, não seja somente um local de passagem. Nesta perspectiva o plano aponta e bem que as nossas balizas são constituídas pela dotação logística e infraestrutural e o potencial de crescimento do triângulo Porto, Vigo e Braga-Guimarães.
Este estudo, perante a incapacidade estrutural de fixar serviços avançados e instituições com potencial de produção de conhecimento para a valorização de recursos locais, aponta como solução um projecto de envergadura com instituições universitárias e potencialmente produtores de serviços e de conhecimento relevante que envolvesse um Centro de Formação Contínua e Workshops científicos. Parece envergadura de mais para a estreiteza do nosso território.
Ninguém duvidará que o desenvolvimento rural, além de corresponder às características de ruralidade predominantes, seria um instrumento de coesão territorial. Alguma importância do sector agro-florestal, principalmente como fonte de rendimentos complementares, e o peso dos agregados familiares agrícolas não escondem o declínio e são uma resistência à mudança.
A solução apontada para o privilégio por uma visão multifuncional do espaço rural parece corresponder somente à tentativa frustrada que todos fazemos para não perdermos de todo a imagem tradicional que transportamos desde a infância. Neste, como noutros aspectos, a tradição é um entrave ao progresso.
O plano bate certo ao propor a destradicionalização dos discursos e das práticas consistindo em sujeitar anteriores valores, significados e acções a uma nova lógica interpretativa e de intervenção. E aponta para a não instrumentalização da arte e da cultura, para a necessidade de inovação e abertura à modernidade com o abandono do discurso nostálgico e práticas folclóricas do passado.
Inesperadamente, perante o assumir de um conjunto de insuficiências que bloqueiam o salto qualitativo, cai-se no discurso super-optimista para um desempenho de excelência na elevação da atractividade da região. Mas, não fora apelar este plano às intervenções de reabilitação e recuperação para a actividade de lazer e convívio urbano das suas frentes ribeirinhas, e deixaria tudo para os outros fazerem, os que de fora deste território o vejam de modo diferente de uma reserva integral.
Este estranho plano foi conjecturado de modo a satisfazer interesses bem alicerçados. O eixo litoral é claramente o foco principal do plano, o turismo de casas particulares, apático e irrelevante para a grande maioria dos habitantes, é manifestamente favorecido. Deixa alguns dados para não tirar conclusões coerentes. Perante apostas já perdidas à muito, oportunidades não aproveitadas, insiste em velhos slogans e superficialidades.