sexta-feira, 11 de abril de 2008

Como preparar a escola do futuro

O debate não se abre quando se decreta, generaliza-se e motiva as pessoas quando há acontecimentos centrais, colaterais ou simplesmente laterais, mas à volta de uma questão cuja gravidade é capaz de desencadear o mesmo.
Andava tudo de certo modo sossegado, discutindo academicamente se os professores deviam ser avaliados ou não, se os alunos deviam ser recuperados ou não, se a gestão devia ser unipessoal ou colectiva, essas coisas bonitas de que sindicatos e partidos se fazem propriedade para dizerem que têm alguma coisa para discutir, quando o governo tem ideias e mandato para as pôr em prática.
Eis que uma simples amarradela numa escola em pleno centro urbano do Porto e que não teria consequências absolutamente nenhumas, não fora um outro aluno mais atrevido ter tido a imprudência de não defender e proteger a escola pública, expondo-a de modo que não interessa nem convém a nenhum agente educativo, dá origem a uma confusão tremenda entre indisciplina e violência.
Afinal a comunicação social não aceitou informar somente o excelente trabalho que se faz nas escolas e aproveitou para denegrir ainda mais a já fraca imagem da escola pública, no que se refere em especial ao ensino obrigatório. Mas não foram os defeitos que os jornalistas possam ter que determinaram que houvesse uma clara implosão de comentários e preocupações
Também várias personagens, indevidamente talvez, procuraram tirar aproveitamento desta ocorrência, tentando isolá-la neste momento preciso, empolando as envolventes circunstanciais, remetendo este caso para o palco do debate político. É uma visão limitada que só diz da qualidade desses políticos.
O assunto que nos preocupa já não é este caso em particular, mas o alargado, de âmbito genérico, o do ensino na sua plenitude. É do interesse geral que seja bem discutido, bem analisado, sendo que se esteja a pensar previamente nas consequências de quaisquer conclusões a nível de processos de gestão, recuperação de alunos e avaliação de professores.
Ideias feitas todos vamos tendo, rejeições assumidas também, no geral sabemos mais daquilo que não queremos do que daquilo que queremos efectivamente. Caminhamos normalmente entre a rejeição ou aceitação do real, do que existe e a atractividade ou repulsão por modelos idealizados e utópicos.
Uma discussão sobre o valor actual da escola, daquilo que a tenha beneficiado ou prejudicado nos últimos tempos é a preocupação dos políticos de vistas curtas que querem tirar partido de uma análise próxima feita com ideias preconcebidas. A escola tem muito valor porque sem ela seria o caos mas não tem o valor que podia, todos reconhecem.
A escola tem que ser um organismo mais versátil, mais adaptável às exigências, mais atento à evolução, mais disposta a viver a contingência, mais perto da vida. Mas o drama é que a nossa escola tem atrasos que têm de ser vencidos de uma só vez, há desenquadramentos com o meio que têm que ser removidos, tem estruturas internas que têm que ser mexidas para que, entrando num certo caminho evolutivo, se possa repensar e reposicionar continuamente.
A escola tem os olhos bem abertos para a sociedade, mas da maneira como está informada, tem muito mais propensão para captar os aspectos caricatos vistos directamente ou captados pelos meios de comunicação que agora absorvem a quase totalidade do tempo dos alunos. Claro que os adultos, mesmo os da escola não se deixam envolver com a mesma simplicidade dos jovens.
A sociedade também tem que ter os olhos bem abertos para a escola, convencendo-se que esta já não vê só aquilo que a sociedade lhe quer transmitir. A sociedade tem que ser esclarecida sobre o que se passa na escola, os pais sobre o que podem fazer para a escola não constituir tão grande factor de desigualdade como é hoje, para que seja qual for o sucesso dos seus filhos não seja a escola a passar-lhes um atestado de marginalização e para que encontrem um lugar digno na sociedade.
Hoje exige-se mais do que a ausência de violência através de medidas de repressão externas à escola, a solução dos problemas de indisciplina lançando um cobertor para cima deles e deixando que eles se resolvam só na escola. Se não tivéssemos consciência do que tanta coisa está mal, um problema como o que surgiu não mereceria a repercussão que teve.
Os professores sozinhos não resolverão os seus problemas de ganhar a atenção dos alunos, os pais sozinhos não motivarão com benesses os seus filhos, os alunos por si sós não encontrarão motivos para se interessarem por assuntos insípidos. Há professores preparados, famílias estáveis, alunos atenciosos, mas a melhoria só se consegue com várias outras forças a convergir nesse objectivo.
Assim não chegam manifestações de solidariedade com professores, alunos, pais, com todos para resolver o fundo da questão, não chega isolar a escola para a tratar de hipotética peste, não chega dizer que somos os melhores. È necessário dar conforto a quem está no caminho certo, inserir a escola na vida prática, não nos iludirmos com elogios só por virem de quem vem