A feira, quer se queira, quer não, está connosco, é um “organismo” bem vivo. Sendo a feira um acontecimento inserido no campo da economia, tem de ser analisada nesta perspectiva. Mas, se quisermos, também a podemos inserir no domínio da tradição e da tipicidade. Também lá podemos ir.
Sob o ponto de vista económico, a feira evolui porque evoluíram as condicionantes económicas. Por exemplo as acessibilidades, o tempo e o preço do transporte.
Para vermos a diferença, em tempos vinham algumas camionetas de carga com bancos laterais apinhados de passageiros, em especial mulheres, cada uma com a sua trouxa de retalhos, para não dizer de trapos. Hoje vêm dezenas e dezenas de grandes carrinhas, cada uma com material que daria para encher um estabelecimento de boas dimensões.
Evoluíram também o tipo de mercadorias com interesse para as pessoas. Dos produtos agrícolas passou-se aos produtos industriais. Do artesanato passou-se à manufactura e à automação.
Evoluíram o destino das mercadorias e a natureza da feira. De uma feira de compra e venda passou-se a uma feira praticamente de só compra. De uma feira de permuta passou-se a um mercado de abastecimento.
Antigamente era na feira que os lavradores vendiam quase todo o tipo de produtos agrícolas, excepto o vinho. Só com essa venda os agricultores adquiriam os meios financeiros que lhes permitia comprar aquilo que os feirantes traziam: roupas e utensílios.
Antigamente os feirantes não eram só os que vinham vender. Talvez a maioria vinha mesmo comprar. Muitos dos produtos agrícolas, e em grandes quantidades, eram levados para longe, para fora do concelho, para o país. Há todo o interesse que os feirantes não só tragam mas também levem alguma coisa daqui.
Os locais também vendiam uns aos outros, faziam uma permuta indirecta. Hoje praticamente nada de cá se vende, seja do campo, seja do artesanato.
Hoje os poucos produtos agrícolas vendáveis já não passam pela feira. Quando muito é na feira que se fazem alguns contactos e contractos. Quanto aos produtos dos artesãos já foram substituídos por outros com outras proveniências.
O trabalho que cá se oferece não dá rendimentos a todas as pessoas. A degradada agricultura e a incipiente industria são insuficientes. Há muita gente a trabalhar fora e longe do concelho e que continua a comprar na feira.
O certo é que as pessoas vão tendo alguns rendimentos porque senão os feirantes não vinham para cá. Não tem os rendimentos suficientes ou hábitos exigentes para outros luxos, mas a própria feira se vai adequando à evolução do tipo de procura.
Hoje a feira diversificou-se muito. Qualquer produto vendável que seja cá trazido a preços competitivos é susceptível de ser aceite na feira. Condicionalismos só para os produtos mais degradáveis ou vulneráveis de origem local.
Aqui nós poderíamos entrar no domínio do que é característico ou pitoresco. Mas nós não podemos obrigar as pessoas a comprar cântaros de barro quando elas preferem os de plástico.
A feira consegue andar sempre à frente do comércio local e as pessoas ganham hábitos que dificilmente perdem. Há uns baldes de plástico reciclado, indevidamente usados para produtos comestíveis, que são já há anos comercializados em todo o lado a 1,5 €. Eles também estão à venda nas lojas locais, mas as pessoas continuam a comprá-los preferencialmente na feira.
Uma das características da feira é que as pessoas conseguem encontrar tudo ou quase tudo num espaço relativamente pequeno. É essa também a estratégia dos supermercados e das lojas dos chineses. São desordens organizadas, memorizações que as pessoas fazem, como quem memoriza a Salve-Rainha.
O feirante tem sempre por ambição meter a sua mercadoria pelos olhos dentro dos possíveis compradores. Nas modernas superfícies comerciais só entra para vender quem o seu dono quer e a amostra é organizada. Nas feiras tem que haver quem assuma esse papel moderador e modelador.
Aqui, mais do que os interesses dos feirantes, o interesse nas taxas por eles pagas ou o interesse num pretenso pitoresco, há que zelar pela defesa do espaço, do património, do direito de estabelecimento, pelo incentivo à fixação do comércio, pela promoção do comércio local, pelo apoio à agricultura e à pecuária, pela conciliação dos vários interesses em jogo.
A feira está para a economia local como um eucaliptal para a floresta mediterrânica. Mas é possível conciliar os interesses que confluem ou são afectados pelas feiras. Mas como em tudo, uma conciliação só pode ser o resultado de interesses que se manifestam e que adquirem poder negocial.
Nestas, como noutras questões, detectam-se factores que deveriam ser tomadas em consideração para tomar decisões num ou noutro sentido, mas que, para que tal acontecesse, era necessário que fossem partilhados por alguém.
A inépcia das associações existentes, que deveriam partilhar esses valores, é por demais manifesta. Para não dizer que há uma demissão da responsabilidade de muitos, mas é isso que eu ouço em termos certamente mais sugestivos e agressivos.
Parece que todos estão à espera que, para esse fim específico, venha dinheiro da Europa, entretidos que estamos, salvo seja, a dar caminho ao dinheiro que vai vindo.
Sob o ponto de vista económico, a feira evolui porque evoluíram as condicionantes económicas. Por exemplo as acessibilidades, o tempo e o preço do transporte.
Para vermos a diferença, em tempos vinham algumas camionetas de carga com bancos laterais apinhados de passageiros, em especial mulheres, cada uma com a sua trouxa de retalhos, para não dizer de trapos. Hoje vêm dezenas e dezenas de grandes carrinhas, cada uma com material que daria para encher um estabelecimento de boas dimensões.
Evoluíram também o tipo de mercadorias com interesse para as pessoas. Dos produtos agrícolas passou-se aos produtos industriais. Do artesanato passou-se à manufactura e à automação.
Evoluíram o destino das mercadorias e a natureza da feira. De uma feira de compra e venda passou-se a uma feira praticamente de só compra. De uma feira de permuta passou-se a um mercado de abastecimento.
Antigamente era na feira que os lavradores vendiam quase todo o tipo de produtos agrícolas, excepto o vinho. Só com essa venda os agricultores adquiriam os meios financeiros que lhes permitia comprar aquilo que os feirantes traziam: roupas e utensílios.
Antigamente os feirantes não eram só os que vinham vender. Talvez a maioria vinha mesmo comprar. Muitos dos produtos agrícolas, e em grandes quantidades, eram levados para longe, para fora do concelho, para o país. Há todo o interesse que os feirantes não só tragam mas também levem alguma coisa daqui.
Os locais também vendiam uns aos outros, faziam uma permuta indirecta. Hoje praticamente nada de cá se vende, seja do campo, seja do artesanato.
Hoje os poucos produtos agrícolas vendáveis já não passam pela feira. Quando muito é na feira que se fazem alguns contactos e contractos. Quanto aos produtos dos artesãos já foram substituídos por outros com outras proveniências.
O trabalho que cá se oferece não dá rendimentos a todas as pessoas. A degradada agricultura e a incipiente industria são insuficientes. Há muita gente a trabalhar fora e longe do concelho e que continua a comprar na feira.
O certo é que as pessoas vão tendo alguns rendimentos porque senão os feirantes não vinham para cá. Não tem os rendimentos suficientes ou hábitos exigentes para outros luxos, mas a própria feira se vai adequando à evolução do tipo de procura.
Hoje a feira diversificou-se muito. Qualquer produto vendável que seja cá trazido a preços competitivos é susceptível de ser aceite na feira. Condicionalismos só para os produtos mais degradáveis ou vulneráveis de origem local.
Aqui nós poderíamos entrar no domínio do que é característico ou pitoresco. Mas nós não podemos obrigar as pessoas a comprar cântaros de barro quando elas preferem os de plástico.
A feira consegue andar sempre à frente do comércio local e as pessoas ganham hábitos que dificilmente perdem. Há uns baldes de plástico reciclado, indevidamente usados para produtos comestíveis, que são já há anos comercializados em todo o lado a 1,5 €. Eles também estão à venda nas lojas locais, mas as pessoas continuam a comprá-los preferencialmente na feira.
Uma das características da feira é que as pessoas conseguem encontrar tudo ou quase tudo num espaço relativamente pequeno. É essa também a estratégia dos supermercados e das lojas dos chineses. São desordens organizadas, memorizações que as pessoas fazem, como quem memoriza a Salve-Rainha.
O feirante tem sempre por ambição meter a sua mercadoria pelos olhos dentro dos possíveis compradores. Nas modernas superfícies comerciais só entra para vender quem o seu dono quer e a amostra é organizada. Nas feiras tem que haver quem assuma esse papel moderador e modelador.
Aqui, mais do que os interesses dos feirantes, o interesse nas taxas por eles pagas ou o interesse num pretenso pitoresco, há que zelar pela defesa do espaço, do património, do direito de estabelecimento, pelo incentivo à fixação do comércio, pela promoção do comércio local, pelo apoio à agricultura e à pecuária, pela conciliação dos vários interesses em jogo.
A feira está para a economia local como um eucaliptal para a floresta mediterrânica. Mas é possível conciliar os interesses que confluem ou são afectados pelas feiras. Mas como em tudo, uma conciliação só pode ser o resultado de interesses que se manifestam e que adquirem poder negocial.
Nestas, como noutras questões, detectam-se factores que deveriam ser tomadas em consideração para tomar decisões num ou noutro sentido, mas que, para que tal acontecesse, era necessário que fossem partilhados por alguém.
A inépcia das associações existentes, que deveriam partilhar esses valores, é por demais manifesta. Para não dizer que há uma demissão da responsabilidade de muitos, mas é isso que eu ouço em termos certamente mais sugestivos e agressivos.
Parece que todos estão à espera que, para esse fim específico, venha dinheiro da Europa, entretidos que estamos, salvo seja, a dar caminho ao dinheiro que vai vindo.