Há uns largos anos atrás havia a ideia de que a grande maioria dos velhos antes queria viver e morrer com as privações de sempre na sua terra do que viver e morrer rodeado de todas as benesses deste mundo em qualquer outro local. E, efectivamente, isso correspondia à verdade.
Nos anos mais recentes, paulatinamente, tudo se alterou. O desenraizamento, que antes atribuíamos aos jovens, como um mal de que as novas gerações eram vítimas, atingiu também a idade mais madura. Todos os lugares são bons desde que aí uma pessoa se sinta bem é agora o lema.
Claro que até isto é difícil de encontrar porque se pretende generalizar a ideia, já não estranha ao pensamento das pessoas, de que os velhos são um fardo, de que são um encargo excessivo para o Estado, de que são um peso morto para a exaltação do hedonismo que se quer prevalecente na sociedade.
Se a economia não é de todo estranha a esta ideia, surgem cada vez mais jovens repentinamente alcandorados a posições relevantes na máquina do Estado e na comunicação social, patrocinados pelo lobbying exercido pelos bancos e até por instituições que deveriam ter carácter social, a denegrir a imagem da velhice.
Claro que há também quem procure inserir os velhos naquela visão mais hedonística da sociedade, com algum benefício colateral, mas descurando outros valores colocados em evidente declínio.
O Estado utiliza aquele discurso em seu favor, já que o seu objectivo deixou de ser contribuir para a harmonia social e para o bem-estar da sociedade tal qual ela existe e passou a ser a diminuição do investimento não reprodutivo, a diminuição dos custos, a subversão dos valores de modo a fazer prevalecer aqueles que implicam um menor custo.
É claro que há muitos factores a contribuir para a alteração da situação, como seja o aumento da esperança de vida, o aumento das exigências de conforto e condições de vida, a alteração nos relacionamentos económicos e sociais entre as pessoas.
E necessariamente o Estado é chamado a intervir na estruturação das redes que têm por objectivo o apoio à velhice, alterando-as e implementando novas redes. Ora o Estado é por natureza centralista e é minimalista quanto à extensão das suas redes. O Estado está pouco presente nos meios rurais.
O Estado é cada vez mais representado por gente urbana e cada vez mais por gente que no seu carácter urbano não incorpora valores que eram subjacentes a modos de vida rurais. A pacatez da entreajuda deu lugar à competitividade mais frenética.
Os jovens fogem cada vez mais novos do campo. Fogem pela televisão, pela Internet, pela escolarização, pela busca de trabalho. Se até há alguns anos fugiam sem especiais qualificações, hoje fogem para encontrar utilidade para as suas habilitações. A competitividade já aí chegou.
Hoje a riqueza já não está ligada à posse da terra arável. Esta é um bem transaccionado como qualquer outro e cujo rendimento se tornou muito contingente. No nosso meio só 20% da terra proporcionará rendimento efectivo. O restante terá que ser valorizado a nível da contemplação.
Mas, se os novos fogem do campo, porque os velhos vão ficar a contemplá-lo?
Se, em tempos, os velhos se agarravam aos seus bens e domínios era porque a eles sempre se tinham agarrado como garantia da sua sobrevivência. O amor à terra era o amor à vida. Quem tinha algo de seu era de igual modo respeitado na velhice.
Os pobres também tinham amor à terra porque sabiam que haviam valores de boa vizinhança e solidariedade que eram compartilhados de modo mais ou menos sincero e assumido pelas pessoas. E o seu mundo era a sua terra.
Os pobre velhos, ou melhor dizendo, os velhos pobres eram mais desprezados fora da sua terra. Aí vinham ao de cima os sentimentos mais egoístas e mais primários. As pessoas desresponsabilizavam-se pelo que não sentiam como seu, as suas obrigações tinham limites.
Os velhos ricos, se tinham necessidade ou gosto nisso, trabalhavam enquanto podiam e não podiam, mas tinham a garantia de que as suas terras iriam continuar a ser trabalhadas pelos seus filhos e pelos seus, tanto quanto era possível perscrutar no futuro.
Hoje os filhos têm outras ocupações mais rentáveis e não têm disponibilidade de tempo e muitos já não estão perto para dar continuidade a um trabalho milenar. As terras ficam cada vez mais abandonadas. Os velhos já não conseguem trabalhar os seus bens. Os novos estruturam a sua vida doutra maneira.
Ao desenraizamento dos filhos sucedeu-se o desapego dos pais. Perante a desvalorização das terras, com a utilização que sempre lhes foi dada, perante a alterações dos modos de vida e das relações sociais por si geradas, perante os apelos permanentes e generalizados a novas exigências, já nada os liga à terra.
Os velhos seguem o caminho dos novos, vão para a sua vivenda de jardim ou para o seu caixote na urbe, ou ainda para o asilo onde o colocam sem pejo. Seja pobre ou rico, já nada tendo para dar, com relações sociais destroçadas, resta reinventar a vida se ainda há vida para isso.
A ir e ir quanto mais cedo melhor, parece ser agora o lema. Os meios rurais, com a sua concepção tradicional, têm cada vez menos a dar aos novos e já nada a dar aos mais velhos.
Nos anos mais recentes, paulatinamente, tudo se alterou. O desenraizamento, que antes atribuíamos aos jovens, como um mal de que as novas gerações eram vítimas, atingiu também a idade mais madura. Todos os lugares são bons desde que aí uma pessoa se sinta bem é agora o lema.
Claro que até isto é difícil de encontrar porque se pretende generalizar a ideia, já não estranha ao pensamento das pessoas, de que os velhos são um fardo, de que são um encargo excessivo para o Estado, de que são um peso morto para a exaltação do hedonismo que se quer prevalecente na sociedade.
Se a economia não é de todo estranha a esta ideia, surgem cada vez mais jovens repentinamente alcandorados a posições relevantes na máquina do Estado e na comunicação social, patrocinados pelo lobbying exercido pelos bancos e até por instituições que deveriam ter carácter social, a denegrir a imagem da velhice.
Claro que há também quem procure inserir os velhos naquela visão mais hedonística da sociedade, com algum benefício colateral, mas descurando outros valores colocados em evidente declínio.
O Estado utiliza aquele discurso em seu favor, já que o seu objectivo deixou de ser contribuir para a harmonia social e para o bem-estar da sociedade tal qual ela existe e passou a ser a diminuição do investimento não reprodutivo, a diminuição dos custos, a subversão dos valores de modo a fazer prevalecer aqueles que implicam um menor custo.
É claro que há muitos factores a contribuir para a alteração da situação, como seja o aumento da esperança de vida, o aumento das exigências de conforto e condições de vida, a alteração nos relacionamentos económicos e sociais entre as pessoas.
E necessariamente o Estado é chamado a intervir na estruturação das redes que têm por objectivo o apoio à velhice, alterando-as e implementando novas redes. Ora o Estado é por natureza centralista e é minimalista quanto à extensão das suas redes. O Estado está pouco presente nos meios rurais.
O Estado é cada vez mais representado por gente urbana e cada vez mais por gente que no seu carácter urbano não incorpora valores que eram subjacentes a modos de vida rurais. A pacatez da entreajuda deu lugar à competitividade mais frenética.
Os jovens fogem cada vez mais novos do campo. Fogem pela televisão, pela Internet, pela escolarização, pela busca de trabalho. Se até há alguns anos fugiam sem especiais qualificações, hoje fogem para encontrar utilidade para as suas habilitações. A competitividade já aí chegou.
Hoje a riqueza já não está ligada à posse da terra arável. Esta é um bem transaccionado como qualquer outro e cujo rendimento se tornou muito contingente. No nosso meio só 20% da terra proporcionará rendimento efectivo. O restante terá que ser valorizado a nível da contemplação.
Mas, se os novos fogem do campo, porque os velhos vão ficar a contemplá-lo?
Se, em tempos, os velhos se agarravam aos seus bens e domínios era porque a eles sempre se tinham agarrado como garantia da sua sobrevivência. O amor à terra era o amor à vida. Quem tinha algo de seu era de igual modo respeitado na velhice.
Os pobres também tinham amor à terra porque sabiam que haviam valores de boa vizinhança e solidariedade que eram compartilhados de modo mais ou menos sincero e assumido pelas pessoas. E o seu mundo era a sua terra.
Os pobre velhos, ou melhor dizendo, os velhos pobres eram mais desprezados fora da sua terra. Aí vinham ao de cima os sentimentos mais egoístas e mais primários. As pessoas desresponsabilizavam-se pelo que não sentiam como seu, as suas obrigações tinham limites.
Os velhos ricos, se tinham necessidade ou gosto nisso, trabalhavam enquanto podiam e não podiam, mas tinham a garantia de que as suas terras iriam continuar a ser trabalhadas pelos seus filhos e pelos seus, tanto quanto era possível perscrutar no futuro.
Hoje os filhos têm outras ocupações mais rentáveis e não têm disponibilidade de tempo e muitos já não estão perto para dar continuidade a um trabalho milenar. As terras ficam cada vez mais abandonadas. Os velhos já não conseguem trabalhar os seus bens. Os novos estruturam a sua vida doutra maneira.
Ao desenraizamento dos filhos sucedeu-se o desapego dos pais. Perante a desvalorização das terras, com a utilização que sempre lhes foi dada, perante a alterações dos modos de vida e das relações sociais por si geradas, perante os apelos permanentes e generalizados a novas exigências, já nada os liga à terra.
Os velhos seguem o caminho dos novos, vão para a sua vivenda de jardim ou para o seu caixote na urbe, ou ainda para o asilo onde o colocam sem pejo. Seja pobre ou rico, já nada tendo para dar, com relações sociais destroçadas, resta reinventar a vida se ainda há vida para isso.
A ir e ir quanto mais cedo melhor, parece ser agora o lema. Os meios rurais, com a sua concepção tradicional, têm cada vez menos a dar aos novos e já nada a dar aos mais velhos.