Todos nós já tivemos esta impressão, estou convicto. Esta impressão é mais suave se derivar da ideia de que não nos deram tempo para expressarmos a nossa opinião, espaço para falar, atenção para ouvir. Mas esta impressão é mais acentuada se, permitindo-nos tempo, espaço e atenção, há mesmo assim a humilhação, desprezo ou simples usurpação da nossa voz. Então três atitudes básicas podemos tomar, conforme a circunstância.
Mesmo considerando que não devemos prescindir da nossa voz, podemos, sendo isso bem claro, dar o assentimento em que alguém fale por nós. Se pertencemos a um grupo mesmo informal e alguém expressa o consenso que nele se obtém ou se presume que nele aja, não vale a pena estarmos a acrescentar nada. No entanto há sempre alguém que queira acrescer algo, que nem tudo foi dito. Muitas vezes é puro preciosismo, porque, se o porta-voz é bom, terá dito o suficiente e possivelmente até terá acertado na essência da questão. Com essa atitude por vezes baralha-se ao querer acrescentar uma vírgula.
Não se coloca aqui a questão do reforço da voz que nos representa. Essa é outra questão que tem a ver com o poder de intervenção social da pessoa ou do grupo social em que nos integramos. Porque, se não for assim, teremos que analisar também em que medida esse reforço de intervenção corresponderá ao abafar de outras vozes, à omissão de outras opiniões. E esta análise é feita no pressuposto de que queremos que todos tenham voz.
Uma outra atitude será de dúvida. Num inquérito podemos pôr sempre a dúvida se a nossa opinião está lá expressa. Ou porque não fomos ouvidos, mas também porque nem todos o podíamos ser, ou porque, se o fomos, entendemos que, propositadamente ou não, ouviram mais pessoas com opiniões contrárias à nossa do que com opinião igual. Ou ainda estes últimos se revelaram menos motivados para ir votar, para responder ou para clicar em qualquer botão de uma qualquer janela da Internet. Ganham os mais activos.
Em última instância podemos dizer que o inquérito estava mal feito e não permitia expressar convenientemente as várias opiniões possíveis, confundia as pessoas, seria até despropositado na ocasião em que foi feito. A escolha das questões tem que ser criteriosa, feita de modo a obter uma resposta para a pergunta essencial que o inquérito consubstancia. Em simultâneo as questões têm que ser colocadas de forma clara e acessível ao máximo das pessoas e no momento adequado.
Num inquérito a maneira como é feita uma pergunta é uma condicionante não desprezível. Se um inquérito se não destina ao universo das pessoas, isso tem que ser salientado na sua divulgação. Também num inquérito não podem surgir perguntas que já têm resposta objectiva, a não ser que se queira saber o nível de conhecimento das pessoas e não a sua opinião, como é pressuposto. Num inquérito nunca pode estar em causa a inteligência, a cultura, a actualização das pessoas, a não ser que esse seja o objectivo expresso.
Outra atitude que podemos tomar perante a circulação das opiniões é a rejeição do seu aspecto, é a negação de que a nossa opinião esteja de algum modo expressa, como que se alguém se negasse também a ouvir-nos. No caso extremo é o surgimento do vazio, dum espaço em que as nossas ondas se não propagam, duma opacidade às nossas imagens, aos nossos argumentos, aos nossos alertas. Essa barreira por omissão de meio de divulgação é a mais comum. Não é por respondermos a muitos inquérito que somos mais ouvidos.
Quem está do lado de lá dirá que o nosso som é pouco audível, que há uma expressão mínima da nossa opinião e que se ela não é mais avantajada é porque não “calha” no meio social em que se insere. Esta explicação satisfará algumas pessoas que até se comprazem em ser vincadamente diferentes e estar isoladas. Mas muitas mais pessoas pressentirão que essa omissão é propositada e não é dada expressão suficiente às ideias com que mais se identificam.
Num inquérito muitas vezes as perguntas são escolhidas conforme as respostas que se querem obter e quando muito deixar-se-á um escape para as outras respostas que não cabem nos seus propósitos e podem portanto estar misturadas, agrupadas, indefinidas. As outras opiniões são aquela escapadela que permite que se diga que todo o universo se pode ver reflectido num inquérito, mas, se isso serve para uns propósitos generalistas, não serve para propósitos mais minuciosos.
Mas, em termos de opinião pública, todas as opiniões são válidas e devem ver reflectido o seu peso relativo. O que quererá dizer que todas as opiniões devem ser tidas em conta sem que necessariamente qualquer delas tenha que ser seguida. A opinião pública é um espelho em que nos devemos reconhecer. Sem termos a pretensão de traçar uma bissectriz que defina o sentido da acção, podemos mesmo assim concluir que nem todas as correntes têm na opinião pública a repercussão correspondente ao seu volume, já para não falar do seu valor.
Quando alguém verifica que pertence a uma corrente que não está a passar em lado nenhum, será normal ficar apreensivo. O pior que pode acontecer é ela nem oposição suscitar, porque isso é mesmo sinal de que está a ser escondida. No fundo todos nós desejamos ter voz para que ela também influencie os outros, mas se estamos à espera de uma repercussão directa positiva ou negativa, podemos ter que esperar sem sucesso.
Podemos fazer alguma coisa para que ao menos ninguém fale por nós, deturpe a nossa voz? Podemos falar claro e evitar opiniões intriguistas. De resto toda a influência que nós possamos exercer na sociedade é de longo prazo, mas para todos, para aqueles que da Lei da Morte se vão libertando e para aqueles que nunca constarão de compêndios e extractos. A inteligência passa pelo mundo e deixará sempre algum efeito no seu rasto, desanuviará o ambiente, mas as dificuldades são o hábito e a apatia.
Mesmo considerando que não devemos prescindir da nossa voz, podemos, sendo isso bem claro, dar o assentimento em que alguém fale por nós. Se pertencemos a um grupo mesmo informal e alguém expressa o consenso que nele se obtém ou se presume que nele aja, não vale a pena estarmos a acrescentar nada. No entanto há sempre alguém que queira acrescer algo, que nem tudo foi dito. Muitas vezes é puro preciosismo, porque, se o porta-voz é bom, terá dito o suficiente e possivelmente até terá acertado na essência da questão. Com essa atitude por vezes baralha-se ao querer acrescentar uma vírgula.
Não se coloca aqui a questão do reforço da voz que nos representa. Essa é outra questão que tem a ver com o poder de intervenção social da pessoa ou do grupo social em que nos integramos. Porque, se não for assim, teremos que analisar também em que medida esse reforço de intervenção corresponderá ao abafar de outras vozes, à omissão de outras opiniões. E esta análise é feita no pressuposto de que queremos que todos tenham voz.
Uma outra atitude será de dúvida. Num inquérito podemos pôr sempre a dúvida se a nossa opinião está lá expressa. Ou porque não fomos ouvidos, mas também porque nem todos o podíamos ser, ou porque, se o fomos, entendemos que, propositadamente ou não, ouviram mais pessoas com opiniões contrárias à nossa do que com opinião igual. Ou ainda estes últimos se revelaram menos motivados para ir votar, para responder ou para clicar em qualquer botão de uma qualquer janela da Internet. Ganham os mais activos.
Em última instância podemos dizer que o inquérito estava mal feito e não permitia expressar convenientemente as várias opiniões possíveis, confundia as pessoas, seria até despropositado na ocasião em que foi feito. A escolha das questões tem que ser criteriosa, feita de modo a obter uma resposta para a pergunta essencial que o inquérito consubstancia. Em simultâneo as questões têm que ser colocadas de forma clara e acessível ao máximo das pessoas e no momento adequado.
Num inquérito a maneira como é feita uma pergunta é uma condicionante não desprezível. Se um inquérito se não destina ao universo das pessoas, isso tem que ser salientado na sua divulgação. Também num inquérito não podem surgir perguntas que já têm resposta objectiva, a não ser que se queira saber o nível de conhecimento das pessoas e não a sua opinião, como é pressuposto. Num inquérito nunca pode estar em causa a inteligência, a cultura, a actualização das pessoas, a não ser que esse seja o objectivo expresso.
Outra atitude que podemos tomar perante a circulação das opiniões é a rejeição do seu aspecto, é a negação de que a nossa opinião esteja de algum modo expressa, como que se alguém se negasse também a ouvir-nos. No caso extremo é o surgimento do vazio, dum espaço em que as nossas ondas se não propagam, duma opacidade às nossas imagens, aos nossos argumentos, aos nossos alertas. Essa barreira por omissão de meio de divulgação é a mais comum. Não é por respondermos a muitos inquérito que somos mais ouvidos.
Quem está do lado de lá dirá que o nosso som é pouco audível, que há uma expressão mínima da nossa opinião e que se ela não é mais avantajada é porque não “calha” no meio social em que se insere. Esta explicação satisfará algumas pessoas que até se comprazem em ser vincadamente diferentes e estar isoladas. Mas muitas mais pessoas pressentirão que essa omissão é propositada e não é dada expressão suficiente às ideias com que mais se identificam.
Num inquérito muitas vezes as perguntas são escolhidas conforme as respostas que se querem obter e quando muito deixar-se-á um escape para as outras respostas que não cabem nos seus propósitos e podem portanto estar misturadas, agrupadas, indefinidas. As outras opiniões são aquela escapadela que permite que se diga que todo o universo se pode ver reflectido num inquérito, mas, se isso serve para uns propósitos generalistas, não serve para propósitos mais minuciosos.
Mas, em termos de opinião pública, todas as opiniões são válidas e devem ver reflectido o seu peso relativo. O que quererá dizer que todas as opiniões devem ser tidas em conta sem que necessariamente qualquer delas tenha que ser seguida. A opinião pública é um espelho em que nos devemos reconhecer. Sem termos a pretensão de traçar uma bissectriz que defina o sentido da acção, podemos mesmo assim concluir que nem todas as correntes têm na opinião pública a repercussão correspondente ao seu volume, já para não falar do seu valor.
Quando alguém verifica que pertence a uma corrente que não está a passar em lado nenhum, será normal ficar apreensivo. O pior que pode acontecer é ela nem oposição suscitar, porque isso é mesmo sinal de que está a ser escondida. No fundo todos nós desejamos ter voz para que ela também influencie os outros, mas se estamos à espera de uma repercussão directa positiva ou negativa, podemos ter que esperar sem sucesso.
Podemos fazer alguma coisa para que ao menos ninguém fale por nós, deturpe a nossa voz? Podemos falar claro e evitar opiniões intriguistas. De resto toda a influência que nós possamos exercer na sociedade é de longo prazo, mas para todos, para aqueles que da Lei da Morte se vão libertando e para aqueles que nunca constarão de compêndios e extractos. A inteligência passa pelo mundo e deixará sempre algum efeito no seu rasto, desanuviará o ambiente, mas as dificuldades são o hábito e a apatia.
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