Há uns anos a esta parte, em especial depois da queda do muro de Berlim, o capitalismo, não tendo mais que temer, lançou-se à reconquista do pouco que havia perdido e, para nossa desgraça, levou à corrosão do pensamento social-democrata, vulgo socialista. De cedência em cedência a perspectiva baseada no papel do trabalhador, em que por princípio assentaram as ideias de esquerda, foi sendo abandonada. A luta contra a pobreza virou choradinho intragável.
Resistiram os comunistas, enquistados na defesa de declarações de fé já há muito desligadas da realidade e que só fazem sentido dentro dum universo discursivo fechado, já não mais que património arqueológico dessa esquerda fundamentalista que no terreno se implodiu há vinte anos. Hoje essa esquerda em Portugal entretêm-se na ajuda à manipulação de índices, uma atitude pretensamente científica que pretende reduzir cada homem a um número.
A vida política de hoje resume-se às tentativas dos seus profissionais e de algumas figuras ávidas do palanque do “faz de conta que sou político” para fazer tudo para que os sentimentos das pessoas se coloquem numa empatia consigo mesmos, de certo modo à sua disposição. Essas tentativas passaram já por outros domínios em que se pretendia a manipulação directa de sentimentos, mas estão hoje mais viradas para os tais índices, criando linhas viciadas de raciocínio que conduzam às pretendidas conclusões.
Os índices mais utilizados são aqueles que se referem às pessoas, querendo com eles dar uma visão da evolução que terá ocorrido de modo a sair mais favorável em relação às épocas em que as forças políticas que defendem tenham tido mais poder ou tenham estado mais próximas dele. Porém qualquer índice só pode ser utilizado na perspectiva em que se fundamente, na qual foi construído. Ora os tais índices foram construídos noutras perspectivas e não numa perspectiva pessoal, nem sequer numa perspectiva do trabalhador.
Todos aqueles índices que se referem à realidade económica são construídos numa perspectiva do capital, do empresariado, da estrutura liderante da sociedade. Isto também assim acontece porque se invoca como razão a utilização de uma visão pretensamente independente e equidistante, mas também porque a esquerda fundamentalista que sobreviveu à queda do muro de Berlim tem um único sonho que se resume a um retorno ao capitalismo de Estado, useiro e vezeiro na mesma manipulação.
Um caso aberrante é o do índice de pobreza que é utilizado com intuitos que revelam o cinismo de quem o usa. É necessário ter em atenção que no sistema capitalista o homem não é a medida de todas as coisas, antes o homem é, como todas as outras coisas, avaliado em termos das disponibilidades financeiras que pode proporcionar. A medida é o valor que as coisas assumem em termos de troca. Por isso se querem liberalizar os despedimentos, que o mesmo é dizer, trocar um trabalhador por outro sem que isso implique custos.
Para compensar uma manutenção mais cara do que a duma máquina, o empregador não quer suportar custos de aquisição. Por este andar o trabalhador terá que adquirir um posto de trabalho pagando-o. Porém não é este o caminho que me interessa agora seguir. Fiquemos tão só pela pobreza que existe e é necessário combater. Mas não noutra perspectiva senão numa perspectiva humana, à medida do homem e dum padrão de dignidade que lhe devemos atribuir de início, antes da ocorrência de todos os outros factos e inclusive do direito ao trabalho no sistema capitalista.
Os economistas, que hoje já não são mais do que econometristas, colocam o índice de pobreza em valores monetários com que se presume que as suas condições mínimas de existência como trabalhadores seriam satisfeitas. Este critério teria a sua lógica só que é impossível a sua aplicação universal. Parte daquilo que seria necessário num local pode ser dispensável noutro. Depois na economia não monetária, de troca directa, que números aplicar para calcular o índice de pobreza? Os valores que podem ser atribuídos ao produto do trabalho e ao consumo mínimo num sector económico não mercantilista são impossíveis de calcular.
Este tipo de índices são ainda menos ilegíveis, isto é, não traduzem uma visão imparcial e séria, quando aplicados a períodos históricos diferentes para fazer a comparação entre épocas distantes umas das outras. Em primeiro lugar porque não podemos definir para um tempo passado as mesmas necessidades que sentimos hoje e com um custo idêntico para uma satisfação igual. Depois porque há uma grande subjectividade na forma de apreciar até as mesmas necessidades de hoje e do passado.
O tipo de vida, o ambiente social, o contexto que envolve a vivência de cada ser humano ontem e hoje, mesmo tratando-se da mesma pessoa, determinam diferentes graus de satisfação com diferentes motivos e prioridades. A subjectividade do fenómeno da pobreza leva à dificuldade da luta contra ela. Há quem diga que o que é necessário é que se fale dela para que não esqueça e se possa lutar contra ela. No entanto é aberrante que se fale em novos pobres e se metam no mesmo saco aqueles que, com aquisições impensadas de bens e património, se endividaram em excesso. Na minha opinião em qualquer plano a primeira etapa é definir com clareza o objecto da nossa luta, sem o que tudo é vago, impreciso e ineficaz.
É mais fácil definir um objectivo como a atenuação das desigualdades gritantes, bem como o seria a eliminação da fome, se ainda fosse caso disso. Nesta sociedade que se quer atribuir alguma qualidade, qualquer manifestação de fome tem que ser seriamente combatida. Mas não haverão dúvidas que o maior problema de hoje é constituído pela desigualdade que se acentua. Tanta desigualdade traz a pobreza mas não só e combatendo-a eliminaremos também outros efeitos tão gravosos como a pobreza.
Resistiram os comunistas, enquistados na defesa de declarações de fé já há muito desligadas da realidade e que só fazem sentido dentro dum universo discursivo fechado, já não mais que património arqueológico dessa esquerda fundamentalista que no terreno se implodiu há vinte anos. Hoje essa esquerda em Portugal entretêm-se na ajuda à manipulação de índices, uma atitude pretensamente científica que pretende reduzir cada homem a um número.
A vida política de hoje resume-se às tentativas dos seus profissionais e de algumas figuras ávidas do palanque do “faz de conta que sou político” para fazer tudo para que os sentimentos das pessoas se coloquem numa empatia consigo mesmos, de certo modo à sua disposição. Essas tentativas passaram já por outros domínios em que se pretendia a manipulação directa de sentimentos, mas estão hoje mais viradas para os tais índices, criando linhas viciadas de raciocínio que conduzam às pretendidas conclusões.
Os índices mais utilizados são aqueles que se referem às pessoas, querendo com eles dar uma visão da evolução que terá ocorrido de modo a sair mais favorável em relação às épocas em que as forças políticas que defendem tenham tido mais poder ou tenham estado mais próximas dele. Porém qualquer índice só pode ser utilizado na perspectiva em que se fundamente, na qual foi construído. Ora os tais índices foram construídos noutras perspectivas e não numa perspectiva pessoal, nem sequer numa perspectiva do trabalhador.
Todos aqueles índices que se referem à realidade económica são construídos numa perspectiva do capital, do empresariado, da estrutura liderante da sociedade. Isto também assim acontece porque se invoca como razão a utilização de uma visão pretensamente independente e equidistante, mas também porque a esquerda fundamentalista que sobreviveu à queda do muro de Berlim tem um único sonho que se resume a um retorno ao capitalismo de Estado, useiro e vezeiro na mesma manipulação.
Um caso aberrante é o do índice de pobreza que é utilizado com intuitos que revelam o cinismo de quem o usa. É necessário ter em atenção que no sistema capitalista o homem não é a medida de todas as coisas, antes o homem é, como todas as outras coisas, avaliado em termos das disponibilidades financeiras que pode proporcionar. A medida é o valor que as coisas assumem em termos de troca. Por isso se querem liberalizar os despedimentos, que o mesmo é dizer, trocar um trabalhador por outro sem que isso implique custos.
Para compensar uma manutenção mais cara do que a duma máquina, o empregador não quer suportar custos de aquisição. Por este andar o trabalhador terá que adquirir um posto de trabalho pagando-o. Porém não é este o caminho que me interessa agora seguir. Fiquemos tão só pela pobreza que existe e é necessário combater. Mas não noutra perspectiva senão numa perspectiva humana, à medida do homem e dum padrão de dignidade que lhe devemos atribuir de início, antes da ocorrência de todos os outros factos e inclusive do direito ao trabalho no sistema capitalista.
Os economistas, que hoje já não são mais do que econometristas, colocam o índice de pobreza em valores monetários com que se presume que as suas condições mínimas de existência como trabalhadores seriam satisfeitas. Este critério teria a sua lógica só que é impossível a sua aplicação universal. Parte daquilo que seria necessário num local pode ser dispensável noutro. Depois na economia não monetária, de troca directa, que números aplicar para calcular o índice de pobreza? Os valores que podem ser atribuídos ao produto do trabalho e ao consumo mínimo num sector económico não mercantilista são impossíveis de calcular.
Este tipo de índices são ainda menos ilegíveis, isto é, não traduzem uma visão imparcial e séria, quando aplicados a períodos históricos diferentes para fazer a comparação entre épocas distantes umas das outras. Em primeiro lugar porque não podemos definir para um tempo passado as mesmas necessidades que sentimos hoje e com um custo idêntico para uma satisfação igual. Depois porque há uma grande subjectividade na forma de apreciar até as mesmas necessidades de hoje e do passado.
O tipo de vida, o ambiente social, o contexto que envolve a vivência de cada ser humano ontem e hoje, mesmo tratando-se da mesma pessoa, determinam diferentes graus de satisfação com diferentes motivos e prioridades. A subjectividade do fenómeno da pobreza leva à dificuldade da luta contra ela. Há quem diga que o que é necessário é que se fale dela para que não esqueça e se possa lutar contra ela. No entanto é aberrante que se fale em novos pobres e se metam no mesmo saco aqueles que, com aquisições impensadas de bens e património, se endividaram em excesso. Na minha opinião em qualquer plano a primeira etapa é definir com clareza o objecto da nossa luta, sem o que tudo é vago, impreciso e ineficaz.
É mais fácil definir um objectivo como a atenuação das desigualdades gritantes, bem como o seria a eliminação da fome, se ainda fosse caso disso. Nesta sociedade que se quer atribuir alguma qualidade, qualquer manifestação de fome tem que ser seriamente combatida. Mas não haverão dúvidas que o maior problema de hoje é constituído pela desigualdade que se acentua. Tanta desigualdade traz a pobreza mas não só e combatendo-a eliminaremos também outros efeitos tão gravosos como a pobreza.
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