“Ideias precisam-se”, proclamou há pouco tempo um partido político para que alguém contribuísse com o seu trabalho intelectual para ajudar a colmatar o buraco de quinhentos milhões de euros que provocou no orçamento de Estado. Nós já estamos habituados a que o Governo reclamasse ideias à Oposição e que esta as exigisse do Governo. Mas um apelo assim aos anónimos fregueses desta Pátria já aflita com tantos outros problemas é inédito.
Pegando a moda vai passar a solicitar-se à população em geral ideias para tudo, seja para pagar dívidas, seja para aumentar as exportações, seja para produzir bens que substituam os produtos importados. Até se pedem ideias para resolver o problema geral da economia e por arrasto das finanças públicas. Ter-se-á inventado uma nova forma de democracia directa? Estaremos nós dispostos a fornecer aos políticos ideias que deveriam ser eles a procurar? E em muitos casos não estarão os políticos em imiscuir-se em assuntos foram da sua esfera de influência?
Não falta hoje quem proclame a falta de ideias. Parece que basta dizer isto para que passemos perante os outros como pessoas inteligentes. Pois eu acho que não revela inteligência quem faz esse tipo de afirmações, nem quem debita ideias em catadupa, sem se preocupar com a sua exequibilidade. Há ideias de sobra, umas válidas, mas a que não temos acesso, porque não temos que o ter ou não estão suficientemente maduras e também outras menos válidas, que não terão a estrutura necessário para que sejam ideias passíveis de pôr em prática. A produção desenfreada de ideias sem regras, sem objectivo e destino definidos, só lança a confusão.
Estamos num mundo em que tudo tem uma valor monetário e as pessoas capazes de ter ideias novas neste domínio da economia sabem-no antes de quaisquer outras. Quem tem ideias nos domínios em que podem ser esperados dividendos reserva-as para os momentos próprios. Pagou-se há uns anos ao americano Porter uma fortuna para que ele descobrisse aí uns clusters e que se saiba ele não achou coisa que se veja. Seria caso para perguntar se também, estando nós neste mundo em que as ideias se pagam, os partidos políticos terão dinheiro para o fazer?
Se estiverem no poder ainda poderão arranjar para aí um tacho, mas acho que não o farão para pessoas que dêem ideias na praça pública ou na comunicação social, que tal daria muito nas vistas. Esses tachos devem estar reservados para outro tipo de gente, mais calada e experiente, que saiba onde põem os pés. Mas haverá sempre quem queira dar um ar da sua graça e vá deitando para aí umas ideias de borla. Não sei se tais pessoas se valem do seu sentido de humor ou se estarão a falar a sério, mas pelo ar de alguns até parece que o fazem.
Uma ideia que sobressai pela sua vastidão é o aproveitamento económico do mar. No mar fizemos o nosso maior feito, as descobertas, do mar colhemos a nossa mais vibrante poesia, não resistimos ao encanto da sua vastidão. No entanto quando se trata de saber a quantos portugueses esse mar era capaz de dar trabalho a produção de ideias revela-se estéril.
A pesca é um problema complexo com as suas limitações, o seu escoamento, o seu preço. O petróleo tarda a surgir na quantidade que baste para ser viável a sua exploração. Os portos exigem ligações que não temos, fluxos que não controlamos. Acima de tudo já não nos viramos para o mar com o destemor doutros tempos, nele já só procuramos as gaivotas da desilusão de uns tantos. Afinal não queiramos resolver tudo com uma só ideia porque, quando pretendemos tal, podemos estar a desacreditar uma ideia com algum mérito. E o mar é nosso amigo mas não nos vai cá trazer algo numa bandeja. O mar exige mais trabalho que o simples amanho da terra.
O nosso problema é que nós precisamos com urgência de dinheiro e parece que só agora descobrimos que o Estado é pobre, os nossos vizinhos são tão pobres como nós e se não vem dinheiro das Chinas ou das Arábias estamos perdidos. Tínhamos respeito pelo Estado quando o julgávamos rico, agora que o vemos pobre, que não tem arcaboiço para nos ajudar, antes temos que ser nós a pagar as suas dívidas, desprezamo-lo. O problema agrava-se mais porque também nós individualmente estamos endividados.
Ora cá está uma ideia que talvez devesse merecer a nossa atenção. Não contraiamos novas dívidas enquanto não pagarmos as que temos, é um bom conselho. A verdade é que isso seria um travão demasiado brusco que traria imensos problemas. Bastar-nos-ia a consciência que temos que travar e ir travando efectivamente mas infelizmente aquela consciência custa a interiorizar e acima de tudo pensamos que o esforço dos outros talvez chegue e não precisamos nós de fazer sacrifícios. Esta sim era boa ideia.
Com tantos advogados e economistas prontos a vender as suas ideias não nos devíamos preocupar com a sua falta. Ainda há uns contabilistas e outros curiosos a contribuir para a explosão de ideias a título gratuito. O que é politico está ao dispor de todos e todos temos o direito, e porque não o dever, de nos pronunciarmos. O Estado, mesmo pobre, também é nosso sem o ser. Só que para a capacidade da maioria de nós é suficiente o proferir sentenças sobre a culpabilidade, o apontar de erros, a denúncia de incoerências. Ideias sobre o futuro que se vejam, porque esperamos que ele nos dê razão, são antiquadas.
Pegando a moda vai passar a solicitar-se à população em geral ideias para tudo, seja para pagar dívidas, seja para aumentar as exportações, seja para produzir bens que substituam os produtos importados. Até se pedem ideias para resolver o problema geral da economia e por arrasto das finanças públicas. Ter-se-á inventado uma nova forma de democracia directa? Estaremos nós dispostos a fornecer aos políticos ideias que deveriam ser eles a procurar? E em muitos casos não estarão os políticos em imiscuir-se em assuntos foram da sua esfera de influência?
Não falta hoje quem proclame a falta de ideias. Parece que basta dizer isto para que passemos perante os outros como pessoas inteligentes. Pois eu acho que não revela inteligência quem faz esse tipo de afirmações, nem quem debita ideias em catadupa, sem se preocupar com a sua exequibilidade. Há ideias de sobra, umas válidas, mas a que não temos acesso, porque não temos que o ter ou não estão suficientemente maduras e também outras menos válidas, que não terão a estrutura necessário para que sejam ideias passíveis de pôr em prática. A produção desenfreada de ideias sem regras, sem objectivo e destino definidos, só lança a confusão.
Estamos num mundo em que tudo tem uma valor monetário e as pessoas capazes de ter ideias novas neste domínio da economia sabem-no antes de quaisquer outras. Quem tem ideias nos domínios em que podem ser esperados dividendos reserva-as para os momentos próprios. Pagou-se há uns anos ao americano Porter uma fortuna para que ele descobrisse aí uns clusters e que se saiba ele não achou coisa que se veja. Seria caso para perguntar se também, estando nós neste mundo em que as ideias se pagam, os partidos políticos terão dinheiro para o fazer?
Se estiverem no poder ainda poderão arranjar para aí um tacho, mas acho que não o farão para pessoas que dêem ideias na praça pública ou na comunicação social, que tal daria muito nas vistas. Esses tachos devem estar reservados para outro tipo de gente, mais calada e experiente, que saiba onde põem os pés. Mas haverá sempre quem queira dar um ar da sua graça e vá deitando para aí umas ideias de borla. Não sei se tais pessoas se valem do seu sentido de humor ou se estarão a falar a sério, mas pelo ar de alguns até parece que o fazem.
Uma ideia que sobressai pela sua vastidão é o aproveitamento económico do mar. No mar fizemos o nosso maior feito, as descobertas, do mar colhemos a nossa mais vibrante poesia, não resistimos ao encanto da sua vastidão. No entanto quando se trata de saber a quantos portugueses esse mar era capaz de dar trabalho a produção de ideias revela-se estéril.
A pesca é um problema complexo com as suas limitações, o seu escoamento, o seu preço. O petróleo tarda a surgir na quantidade que baste para ser viável a sua exploração. Os portos exigem ligações que não temos, fluxos que não controlamos. Acima de tudo já não nos viramos para o mar com o destemor doutros tempos, nele já só procuramos as gaivotas da desilusão de uns tantos. Afinal não queiramos resolver tudo com uma só ideia porque, quando pretendemos tal, podemos estar a desacreditar uma ideia com algum mérito. E o mar é nosso amigo mas não nos vai cá trazer algo numa bandeja. O mar exige mais trabalho que o simples amanho da terra.
O nosso problema é que nós precisamos com urgência de dinheiro e parece que só agora descobrimos que o Estado é pobre, os nossos vizinhos são tão pobres como nós e se não vem dinheiro das Chinas ou das Arábias estamos perdidos. Tínhamos respeito pelo Estado quando o julgávamos rico, agora que o vemos pobre, que não tem arcaboiço para nos ajudar, antes temos que ser nós a pagar as suas dívidas, desprezamo-lo. O problema agrava-se mais porque também nós individualmente estamos endividados.
Ora cá está uma ideia que talvez devesse merecer a nossa atenção. Não contraiamos novas dívidas enquanto não pagarmos as que temos, é um bom conselho. A verdade é que isso seria um travão demasiado brusco que traria imensos problemas. Bastar-nos-ia a consciência que temos que travar e ir travando efectivamente mas infelizmente aquela consciência custa a interiorizar e acima de tudo pensamos que o esforço dos outros talvez chegue e não precisamos nós de fazer sacrifícios. Esta sim era boa ideia.
Com tantos advogados e economistas prontos a vender as suas ideias não nos devíamos preocupar com a sua falta. Ainda há uns contabilistas e outros curiosos a contribuir para a explosão de ideias a título gratuito. O que é politico está ao dispor de todos e todos temos o direito, e porque não o dever, de nos pronunciarmos. O Estado, mesmo pobre, também é nosso sem o ser. Só que para a capacidade da maioria de nós é suficiente o proferir sentenças sobre a culpabilidade, o apontar de erros, a denúncia de incoerências. Ideias sobre o futuro que se vejam, porque esperamos que ele nos dê razão, são antiquadas.
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