Nos dias de hoje o fogo posto tornou-se um dos crimes mais vulgares. A crer na afirmação das pessoas mais envolvidas no seu combate, a origem da grande maioria dos incêndios florestais está nas mãos criminosas. Não podendo nós acreditar haver assim tantas pessoas capazes de arcar com esse epíteto de incendiários, só podemos concluir que esse crime já tem muitas atenuantes na consciência social. E quando assim é temos que rever o que sabemos sobre a matéria.
Para os que acreditam que o problema está no homem, que terá entrado numa fase descendente de consciência social, já só existe uma solução que será colocar atrás de cada homem um outro a fiscalizá-lo permanentemente. No entanto esta pretensa solução só agravaria a questão. Com efeito, independentemente de qual deles é o bom e o mau, o que assumisse a tarefa de tomar conta do outro, com alguma probabilidade, seria tentado a cometer um duplo crime de cometer o crime original e o de o atribuir ao outro para dele se livrar.
A solução tem que ser outra e tem que obedecer a uma economia de meios. Então policiemo-nos a nós próprios em vez de sermos os polícias dos outros. Em primeiro lugar cada um de nós tem que admitir a possibilidade de que lhe passe pela cabeça a tentação de cometer um crime desta natureza porque a maioria de nós está longe de viver em perfeita harmonia consigo mesmo e com os outros. Já ninguém ousa pensar em ter um mundo harmonioso só para si. No entanto é a essa parte que ainda é capaz de harmonia a que nós nos agarramos.
Nós importamos para dentro de nós a desarmonia reinante. A nossa força passa por conseguirmos não exportar ainda mais desarmonia para o meio ambiente. É por nossa iniciativa que se instalou o desequilíbrio que se vê na natureza porque em nós se instalou um sentimento de desprezo que as simples palavras de boas intenções não escondem. Na mentalidade suburbana que prolifera na maioria de nós encontraremos as causas civilizacionais que determinaram esta mudança de atitude.
O que brilha para nós é o ouro, não as pedras rústicas das nossas serras e aldeias. Veneramos a cidade que tem em si a riqueza e desprezamos a ruralidade pobre, atractiva só para devaneios esporádicos. A harmonia outrora existente no meio rural, o perfeito enquadramento do homem com a natureza, levava a que todas as intervenções do homem na natureza tivessem uma naturalidade e uma sustentabilidade adequadas.
Cortava-se o mato, apanhavam-se o garaveto, podava-se a rama, eliminavam-se os infestantes porque tudo tinha utilidade e a monte era necessário para mandar para lá o gado nos meses em que havia culturas em desenvolvimento. Também se faziam queimadas, mas selectivas e nas zonas não arborizadas. Nenhum palmo de terreno era deixado ao abandono. O Estado encarregava-se das suas próprias florestas e espaços.
Em suma, a actividade económica fazia a gestão integral do espaço, encontrando utilização e retirando proveito de todos os materiais naturais e daqueles que ia introduzindo por via da cultura dos terrenos. Além da procura de novas formas de gestão e da introdução de novas culturas não se terem revelado frutíferas, a gestão dos resíduos florestais e o seu aproveitamento como bio-massa tem sido um caminho já sugerido, mas que economicamente ainda se não tornou viável.
Podemos dizer que no nosso País tudo mudou a partir dos finais dos anos sessenta. Tornaram-se vulgares os grandes incêndios, mesmo às portas das grandes cidades. As matas do Estado também começaram a arder. O Estado demitiu-se, não soube ou não pude intervir de forma eficaz. Tentar virar tudo para a acção policial também seria suicidário, porque seria ineficaz com os meios de que poderia dispor. O aumento da mobilidade das pessoas e a perca das relações de proximidade tornou impossível às populações locais o controlo do seu próprio território.
O fulcro da actividade económica deslocou-se, reduzindo o produto agrícola a proveito marginal e retirando grande parte da população dos campos e das matas. O próprio Estado se retirou da actividade florestal, também aí de certo modo expulso como o foi, em especial depois do 25 de Abril, de outras actividades económicas ligadas à agricultura com a extinção dos organismos corporativos de gestão, muitos deles transformados em associações geridas por particulares. O comércio invadiu e de certo modo alterou e destruiu muita actividade rural.
Muitas das mudanças verificadas são irreversíveis. A redistribuição da população, se a houver, não é de molde a satisfazer o interesse da defesa do equilíbrio entre o homem e a natureza. Também os poderes locais não se mostram interessados em gerir este problema, porque não tem meios financeiros para tal e porque os meios que reivindica ao poder central têm, por norma, outros destinos. Os interesses empresariais não encontram forma de se satisfazerem se tiverem que corresponder a determinadas exigências legais.
Todo o espaço territorial tem valor, mas a sua rentabilidade não justifica os cuidados que seriam necessários para o sustentar. A simples imposição de obrigações legais aos proprietários de terra é de duvidosa justeza e eficácia até porque o maior proprietário continua a ser o Estado. Depois, na consciência social está instalada a ideia de que há mesmo situações que só se resolvem com o fogo. A única forma de resolver a questão é em muitos casos a feitura de fogos controlados em época segura, se é que ainda a há.
Felizmente que se vai cumprindo a obrigatoriedade de limpar os cinquenta metros em redor das habitações. No entanto a ligeireza com que se analisa esta questão, tirando uns dois ou três meses no Verão, ajuda a que na consciência social se não instale uma ideia da perigosidade dos incêndios e de defesa do ambiente, ideia que tem sido tão mal tratada. Não será com fundamentalismos nesta área, que só isola defensores do ambiente, que se defende este, mas com a criação de uma maior proximidade do homem, de todos, com a natureza.
Para os que acreditam que o problema está no homem, que terá entrado numa fase descendente de consciência social, já só existe uma solução que será colocar atrás de cada homem um outro a fiscalizá-lo permanentemente. No entanto esta pretensa solução só agravaria a questão. Com efeito, independentemente de qual deles é o bom e o mau, o que assumisse a tarefa de tomar conta do outro, com alguma probabilidade, seria tentado a cometer um duplo crime de cometer o crime original e o de o atribuir ao outro para dele se livrar.
A solução tem que ser outra e tem que obedecer a uma economia de meios. Então policiemo-nos a nós próprios em vez de sermos os polícias dos outros. Em primeiro lugar cada um de nós tem que admitir a possibilidade de que lhe passe pela cabeça a tentação de cometer um crime desta natureza porque a maioria de nós está longe de viver em perfeita harmonia consigo mesmo e com os outros. Já ninguém ousa pensar em ter um mundo harmonioso só para si. No entanto é a essa parte que ainda é capaz de harmonia a que nós nos agarramos.
Nós importamos para dentro de nós a desarmonia reinante. A nossa força passa por conseguirmos não exportar ainda mais desarmonia para o meio ambiente. É por nossa iniciativa que se instalou o desequilíbrio que se vê na natureza porque em nós se instalou um sentimento de desprezo que as simples palavras de boas intenções não escondem. Na mentalidade suburbana que prolifera na maioria de nós encontraremos as causas civilizacionais que determinaram esta mudança de atitude.
O que brilha para nós é o ouro, não as pedras rústicas das nossas serras e aldeias. Veneramos a cidade que tem em si a riqueza e desprezamos a ruralidade pobre, atractiva só para devaneios esporádicos. A harmonia outrora existente no meio rural, o perfeito enquadramento do homem com a natureza, levava a que todas as intervenções do homem na natureza tivessem uma naturalidade e uma sustentabilidade adequadas.
Cortava-se o mato, apanhavam-se o garaveto, podava-se a rama, eliminavam-se os infestantes porque tudo tinha utilidade e a monte era necessário para mandar para lá o gado nos meses em que havia culturas em desenvolvimento. Também se faziam queimadas, mas selectivas e nas zonas não arborizadas. Nenhum palmo de terreno era deixado ao abandono. O Estado encarregava-se das suas próprias florestas e espaços.
Em suma, a actividade económica fazia a gestão integral do espaço, encontrando utilização e retirando proveito de todos os materiais naturais e daqueles que ia introduzindo por via da cultura dos terrenos. Além da procura de novas formas de gestão e da introdução de novas culturas não se terem revelado frutíferas, a gestão dos resíduos florestais e o seu aproveitamento como bio-massa tem sido um caminho já sugerido, mas que economicamente ainda se não tornou viável.
Podemos dizer que no nosso País tudo mudou a partir dos finais dos anos sessenta. Tornaram-se vulgares os grandes incêndios, mesmo às portas das grandes cidades. As matas do Estado também começaram a arder. O Estado demitiu-se, não soube ou não pude intervir de forma eficaz. Tentar virar tudo para a acção policial também seria suicidário, porque seria ineficaz com os meios de que poderia dispor. O aumento da mobilidade das pessoas e a perca das relações de proximidade tornou impossível às populações locais o controlo do seu próprio território.
O fulcro da actividade económica deslocou-se, reduzindo o produto agrícola a proveito marginal e retirando grande parte da população dos campos e das matas. O próprio Estado se retirou da actividade florestal, também aí de certo modo expulso como o foi, em especial depois do 25 de Abril, de outras actividades económicas ligadas à agricultura com a extinção dos organismos corporativos de gestão, muitos deles transformados em associações geridas por particulares. O comércio invadiu e de certo modo alterou e destruiu muita actividade rural.
Muitas das mudanças verificadas são irreversíveis. A redistribuição da população, se a houver, não é de molde a satisfazer o interesse da defesa do equilíbrio entre o homem e a natureza. Também os poderes locais não se mostram interessados em gerir este problema, porque não tem meios financeiros para tal e porque os meios que reivindica ao poder central têm, por norma, outros destinos. Os interesses empresariais não encontram forma de se satisfazerem se tiverem que corresponder a determinadas exigências legais.
Todo o espaço territorial tem valor, mas a sua rentabilidade não justifica os cuidados que seriam necessários para o sustentar. A simples imposição de obrigações legais aos proprietários de terra é de duvidosa justeza e eficácia até porque o maior proprietário continua a ser o Estado. Depois, na consciência social está instalada a ideia de que há mesmo situações que só se resolvem com o fogo. A única forma de resolver a questão é em muitos casos a feitura de fogos controlados em época segura, se é que ainda a há.
Felizmente que se vai cumprindo a obrigatoriedade de limpar os cinquenta metros em redor das habitações. No entanto a ligeireza com que se analisa esta questão, tirando uns dois ou três meses no Verão, ajuda a que na consciência social se não instale uma ideia da perigosidade dos incêndios e de defesa do ambiente, ideia que tem sido tão mal tratada. Não será com fundamentalismos nesta área, que só isola defensores do ambiente, que se defende este, mas com a criação de uma maior proximidade do homem, de todos, com a natureza.
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