Há anos que nos andam a dizer que devemos, cada um de nós já sabe há muito que deve uma pipa de dinheiro. Nunca nos tinham posto contra a parede, nunca nos deram um prazo para pagar. E enquanto isso não ocorria era como nada se passasse, como se remetessem essa obrigação para os nossos filhos e netos. Iríamos deixar uma herança para eles pagarem, mas só o facto de já cá não estarmos nos sossegava. Quem é que viesse depois que fechasse a porta. Além de pensarmos que não seria a nós que viriam a pedir contas, sempre vale a máxima de que enquanto o pau vai e vem folgamos as costas.
Eis que os Gregos, além de deveram grossa massa, ainda falsificam estatísticas, contas, tudo. Os homens do dinheiro não são diferentes dos outros e pensaram logo que quem não reconhece que deve é porque não quer pagar. Meteram-se então em brios e apontaram à Grécia a primeira espada. Afinal se todos os políticos lhes atribuíram as culpas de toda a situação de crise, os financeiros limitaram-se a ensinar aos políticos que são estes que devem dar o exemplo, estipular regulamentos claros, mas também cumpri-los.
Depois da Grécia viemos nós, num processo em escada, mas contagioso. Logo todos os outros países se preocuparam em saber o seu lugar na fila antes que o mal lá chegasse. Todos se quiseram eximir, todos se quiseram defender, pondo outros à sua frente neste alinhamento em direcção à devoração. Na verdade já ninguém conseguiu escapar das admoestações dos homens para quem o dinheiro ainda tem algum significado, os capitalistas e os financeiros.
Afinal o espectáculo dado pelos Estados foi um pouco caricato. Todos tiveram que reconhecer hoje o que para muitos já era evidente há tempos, mas que sempre tinham desmentido. Com a careca à mostra de todos os Estados, todos se revelaram imensamente fracos, todos estavam a viver à custa do futuro, todos estão a encher os bolsos dos seus cidadãos de um punhado de letras a prazo. Nenhuma economia suporta a sucessiva reforma dessas letras. Os Estados habituaram-se a pagar com moeda falsa. Hoje isso não pega.
Ninguém reconhece que os Estados tenham hipóteses de vir a obter meios de pagamentos das suas dívidas presentes. Pelo contrário estas crescem a toda a hora com os juros em que incorrem. Os Estados habituados à pressão social e à concorrência exterior têm agora que incluir a dívida como outro factor decisivo a ter em conta na construção do futuro. Em particular os Estados Europeus têm um deficit energético que lhes limita a margem de opção a assumir.
No fundo teremos que restituir ao Estado, para que esta pague as suas dívidas, o dinheiro que ele andou a distribuir a seu belo prazer. Isto é, os Estados têm que ceder menos à pressão social, concorrer com os mercados imergentes doutro modo porque só pela qualidade já não será suficiente. E não tendo outra fonte de financiamento resta-lhes aquilo que os Estados sempre fizeram em momentos de dificuldade: O confisco dos bens dos particulares. Afinal estamos cada vez mais dependentes do Estado, já não sabemos viver sem ele.
Achamo-nos injustiçados porque entendemos que não fomos contemplados nessa distribuição atrabiliária a que os Estados se entregaram em tempo de vacas gordas? Tanto faz. O segredo do seu sucesso está em não nos dar tempo para fazer contas. Tanta pressa torna a nossa situação dramática, mas um estado de choque é necessário para nos despertar duma letargia que nos tolhe. Nós até nos prontificaríamos a pagar, mas devagar, com tempo. Só que os verdadeiros donos do Capital e da Finança já não vão nessa. Os escaldões já têm sido bastantes.
Há porém um aspecto para o qual teremos que estar em especial despertos. Trata-se do modelo social europeu, algo de vago e impreciso, mas que em Portugal é visível através dos mecanismos de apoio do Estado ao ensino, aos cuidados de saúde e à velhice, em especial as pensões de reforma. Não falta quem ponha em causa esse modelo e queira utilizar esta oportunidade para lhe dar um cheque mate. Perante tantos inimigos do Estado Social, muitos apenas inocentes úteis ao serviço de visionários sem escrúpulos, nunca é demais apelar à ponderação da sua utilidade face às alternativas.
A opção é entre o sistema social europeu ou por um liberalismo desenfreado e voraz assente na gestão privada e especulativa de muitos dos fundos que hoje são púbicos. Ninguém aponta para o fim das pensões, mas para uma outra forma de as obter. Nos extremos temos um desconto obrigatório para um sistema de segurança social que assegura o pagamento dos actuais pensionistas e como alternativo um desconto voluntário para um sistema privada de gestão de fundos.
Num e noutro caso o pagamento futuro só será assegurado pelo trabalho dos jovens de hoje. Ou através dos descontos que eles venham a fazer, ou através do rendimento que o seu trabalho possa proporcionar àqueles fundos onde os nossos descontos estejam aplicados na altura que nos tenham que garantir a pensão. Não há retornos garantidos. Maugrado o descalabro que assola o sistema capitalista periodicamente, mas que nos últimos dois anos teve um aspecto tenebroso, parece falta de bom senso pensar no mérito de entregar ao sistema financeiro a gestão do nosso dinheiro.
No aspecto social não há sistemas perfeitos, mas há uns melhores que outros. Em relação ao pagamento da crise é que não há alternativa: Somos nós que a vamos pagar, não arranjaremos outros que a paguem. Os vindouros já têm sobre si encargos excessivos, entre os quais se realçam as nossas pensões. Só que a desculpa egoísta de que eles não as pagarão se nós descontarmos para fundos com esse fim é tão só um sofisma que os capitalistas nos querem impingir.
De nada serviria dizer que os vindouros já não teriam que pagar as nossas pensões e fariam descontos somente para as suas. Teriam sempre que dar rendimento aos fundos que suportariam as nossas e não seria fácil assegurar a sua rentabilidade. Só que com os malabarismos de desvio de rendimentos, manipulação das bolsas, falências fraudulentas seriam os capitalistas a ganhar e ficaríamos com as mãos vazias. Mas bem presos a um sistema maquiavélico que nos sugaria por todas as formas e feitos. Quem paga somos sempre nós.
Eis que os Gregos, além de deveram grossa massa, ainda falsificam estatísticas, contas, tudo. Os homens do dinheiro não são diferentes dos outros e pensaram logo que quem não reconhece que deve é porque não quer pagar. Meteram-se então em brios e apontaram à Grécia a primeira espada. Afinal se todos os políticos lhes atribuíram as culpas de toda a situação de crise, os financeiros limitaram-se a ensinar aos políticos que são estes que devem dar o exemplo, estipular regulamentos claros, mas também cumpri-los.
Depois da Grécia viemos nós, num processo em escada, mas contagioso. Logo todos os outros países se preocuparam em saber o seu lugar na fila antes que o mal lá chegasse. Todos se quiseram eximir, todos se quiseram defender, pondo outros à sua frente neste alinhamento em direcção à devoração. Na verdade já ninguém conseguiu escapar das admoestações dos homens para quem o dinheiro ainda tem algum significado, os capitalistas e os financeiros.
Afinal o espectáculo dado pelos Estados foi um pouco caricato. Todos tiveram que reconhecer hoje o que para muitos já era evidente há tempos, mas que sempre tinham desmentido. Com a careca à mostra de todos os Estados, todos se revelaram imensamente fracos, todos estavam a viver à custa do futuro, todos estão a encher os bolsos dos seus cidadãos de um punhado de letras a prazo. Nenhuma economia suporta a sucessiva reforma dessas letras. Os Estados habituaram-se a pagar com moeda falsa. Hoje isso não pega.
Ninguém reconhece que os Estados tenham hipóteses de vir a obter meios de pagamentos das suas dívidas presentes. Pelo contrário estas crescem a toda a hora com os juros em que incorrem. Os Estados habituados à pressão social e à concorrência exterior têm agora que incluir a dívida como outro factor decisivo a ter em conta na construção do futuro. Em particular os Estados Europeus têm um deficit energético que lhes limita a margem de opção a assumir.
No fundo teremos que restituir ao Estado, para que esta pague as suas dívidas, o dinheiro que ele andou a distribuir a seu belo prazer. Isto é, os Estados têm que ceder menos à pressão social, concorrer com os mercados imergentes doutro modo porque só pela qualidade já não será suficiente. E não tendo outra fonte de financiamento resta-lhes aquilo que os Estados sempre fizeram em momentos de dificuldade: O confisco dos bens dos particulares. Afinal estamos cada vez mais dependentes do Estado, já não sabemos viver sem ele.
Achamo-nos injustiçados porque entendemos que não fomos contemplados nessa distribuição atrabiliária a que os Estados se entregaram em tempo de vacas gordas? Tanto faz. O segredo do seu sucesso está em não nos dar tempo para fazer contas. Tanta pressa torna a nossa situação dramática, mas um estado de choque é necessário para nos despertar duma letargia que nos tolhe. Nós até nos prontificaríamos a pagar, mas devagar, com tempo. Só que os verdadeiros donos do Capital e da Finança já não vão nessa. Os escaldões já têm sido bastantes.
Há porém um aspecto para o qual teremos que estar em especial despertos. Trata-se do modelo social europeu, algo de vago e impreciso, mas que em Portugal é visível através dos mecanismos de apoio do Estado ao ensino, aos cuidados de saúde e à velhice, em especial as pensões de reforma. Não falta quem ponha em causa esse modelo e queira utilizar esta oportunidade para lhe dar um cheque mate. Perante tantos inimigos do Estado Social, muitos apenas inocentes úteis ao serviço de visionários sem escrúpulos, nunca é demais apelar à ponderação da sua utilidade face às alternativas.
A opção é entre o sistema social europeu ou por um liberalismo desenfreado e voraz assente na gestão privada e especulativa de muitos dos fundos que hoje são púbicos. Ninguém aponta para o fim das pensões, mas para uma outra forma de as obter. Nos extremos temos um desconto obrigatório para um sistema de segurança social que assegura o pagamento dos actuais pensionistas e como alternativo um desconto voluntário para um sistema privada de gestão de fundos.
Num e noutro caso o pagamento futuro só será assegurado pelo trabalho dos jovens de hoje. Ou através dos descontos que eles venham a fazer, ou através do rendimento que o seu trabalho possa proporcionar àqueles fundos onde os nossos descontos estejam aplicados na altura que nos tenham que garantir a pensão. Não há retornos garantidos. Maugrado o descalabro que assola o sistema capitalista periodicamente, mas que nos últimos dois anos teve um aspecto tenebroso, parece falta de bom senso pensar no mérito de entregar ao sistema financeiro a gestão do nosso dinheiro.
No aspecto social não há sistemas perfeitos, mas há uns melhores que outros. Em relação ao pagamento da crise é que não há alternativa: Somos nós que a vamos pagar, não arranjaremos outros que a paguem. Os vindouros já têm sobre si encargos excessivos, entre os quais se realçam as nossas pensões. Só que a desculpa egoísta de que eles não as pagarão se nós descontarmos para fundos com esse fim é tão só um sofisma que os capitalistas nos querem impingir.
De nada serviria dizer que os vindouros já não teriam que pagar as nossas pensões e fariam descontos somente para as suas. Teriam sempre que dar rendimento aos fundos que suportariam as nossas e não seria fácil assegurar a sua rentabilidade. Só que com os malabarismos de desvio de rendimentos, manipulação das bolsas, falências fraudulentas seriam os capitalistas a ganhar e ficaríamos com as mãos vazias. Mas bem presos a um sistema maquiavélico que nos sugaria por todas as formas e feitos. Quem paga somos sempre nós.
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