A violência é a fonte de todo o poder e o suporte da ordem. Ela pode “exercer-se” através da sugestão ou pela sua efectiva prática, felizmente cada vez mais em desuso. Por essa razão a maioria do tempo os exércitos estão parados. Já está ultrapassado o tempo em que quem detinha poder o usava discricionariamente como forma de o manifestar e impor. A violência era por vezes arbitrária. Porém há ocasiões em que a ausência de violência traz problemas. A violência pode ser benéfica. Seja nas relações internacionais, seja na solução das questões nacionais, seja mesmo nas relações pessoais há muitas situações em que se o mal não for cortado a tempo, o que muitas vezes só pode ser feito com violência, pode trazer dissabores maiores.
Normalmente a violência só é despoletada depois de um grande acumular de tensões entre as partes conflituantes o que faz com que, em caso dum conflito assumir carácter violento, as consequências possam ser muito mais gravosas. Em muitos casos é fácil detectar o crescimento da tensão formando-se uma bolha de violência latente que tanto pode esvanecer como rebentar. Nos conflitos é normal começar-se pela sugestão do uso da violência sendo a escolha do momento para passar à violência prática determinante no desfecho da questão. Porém a sugestão pode ser tida por provocatória e antecipar esse momento.
Também nas relações pessoais deparamos muitas vezes com essa situação ao vermos a bolha da insolência, da má educação, da estupidez, de arrogância a encher, a encher em certos indivíduos que se nos surgem como sapos intoleráveis. O problema é que, por mais argumentos racionais a que possamos recorrer, a sua compreensão do relacionamento entre as pessoas é limitada e tendenciosa. Essas pessoas partem do princípio que dessa forma, sem recurso à violência, obtém poder, mesmo que virtual, porque tal facto já lhes acarinha o ego. A própria argumentação a que recorrem pode comportar violência. O recurso à violência efectiva para dar por finda uma questão pode provocar efeitos colaterais e diferidos que podem tornar a acção contraproducente.
Um conflito só está solucionado quando se encontra um novo equilíbrio que faça cessar a vontade de o alterar. Felizmente que a humanidade abandonou a procura de vitórias absolutas. Algumas manifestações de fundamentalismo causam alarme mas espera-se que as forças democráticas consigam sobrepor-se às forças que ainda tenham essa ambição. No geral hoje todas as vitórias que se perseguem na solução de conflitos são tão só relativas, sempre melhores e humanamente mais justas. Se uma solução não extingue toda a tensão que se tinha criado resta controlá-la e remetê-la para episódios posteriores. Este, como qualquer equilíbrio, pode ter roturas inesperadas, toda a estabilidade é passageira.
Nem todos os conflitos remetem para uma luta de interesses claramente definidos, precisos. Imensas pessoas vêm-se envolvidas involuntariamente em muitas guerras sem nada ter a ver com elas. Envolvem-se nelas porque essas guerras as envolvem e, havendo uma supremacia em disputa, essas pessoas são tentadas a perfilar-se de um dos lados, pelos apelos dos seus intervenientes para a partilha de ganhos e percas dessa luta. Depois nem todas pessoas resistem da mesmo maneira a um envolvimento directo mesmo nada tendo a ver directamente com eventuais interesses em jogo.
Os conflitos nunca são gratuitos mas muitos são dificilmente decifráveis. As alianças que se formam são por vezes estranhas, as fidelidades desrespeitam muitas vezes o que parecia assente. Conjugam-se poderes de atracção e repulsa com proveniências diversas e muitas vezes sem relação entre si. Confundem-se poderes, sugestões, influências, insinuações e ameaças. E o que é bem pior, às tantas não se sabe quem é o responsável, quem despoletou o conflito, quem o alimenta e a quem é que ele interessa. Muitas vezes nem se sabe quem é o mandante e o mandado.
Afinal muitos juntos podemos contribuir para alimentar a violência, para que o rastilho fuja ao controle dos mais responsáveis, mas há sempre quem seja mandante, quem sugira, estimule, despolete e avalize o uso da violência. Também os mandantes podem ter hesitações, as coisas podem ir para caminhos não previstos, porém a responsabilidade é sempre individual por mais difundida colectivamente que esteja a violência. Em muitos aspectos nós já a herdamos, mas é necessário compreender as razões porque ela foi utilizada pelos nossos ancestrais para concluirmos pela inoportunidade do seu uso nos dias de hoje. Não mais podemos relegar para o colectivo as nossas responsabilidades, mesmo que nos dêem mandato para a aplicar.
O equilíbrio social, em qualquer das versões que as pessoas adoptam como o seu Ideal, está longe de estar alcançado. Este facto revela que há tensões acumuladas e outras ainda que podem surgir. O aparelho de poder existente assegura a estabilidade através da sugestão da violência e do seu esporádico exercício. O aparelho de poder é a depositário da violência institucional e são muitas as forças que o pretendem controlar, para deter o mandato da violência. Todos querem contribuir para novos equilíbrios, mas também alguns têm em vista uma mudança radical que remeta a coesão social para o respeito por diferentes parâmetros de aferição.
Aquelas forças radicais são simplistas na sua forma de abordar o equilíbrio social e portanto as divisões existentes na sociedade. Adoptam em cada momento todas as ideias que consideram fracturantes, mas muitas delas dão hoje uma imagem redutora. Ricos e pobres, poderosos e oprimidos, cultos e ignorantes, são divisões que já não dão uma imagem da complexidade social. A ordem passa por um equilíbrio entre as pessoas e já não entre grupos. Infelizmente este procedimento grupal ainda existe no próprio aparelho de Estado que tem órgãos que se orientam de forma contraditória uns com os outros. O poder deve-se exercer a favor de uma ordem coerente e equitativa, com a violência em grau adequado, uma violência propositada e proporcionada.
Normalmente a violência só é despoletada depois de um grande acumular de tensões entre as partes conflituantes o que faz com que, em caso dum conflito assumir carácter violento, as consequências possam ser muito mais gravosas. Em muitos casos é fácil detectar o crescimento da tensão formando-se uma bolha de violência latente que tanto pode esvanecer como rebentar. Nos conflitos é normal começar-se pela sugestão do uso da violência sendo a escolha do momento para passar à violência prática determinante no desfecho da questão. Porém a sugestão pode ser tida por provocatória e antecipar esse momento.
Também nas relações pessoais deparamos muitas vezes com essa situação ao vermos a bolha da insolência, da má educação, da estupidez, de arrogância a encher, a encher em certos indivíduos que se nos surgem como sapos intoleráveis. O problema é que, por mais argumentos racionais a que possamos recorrer, a sua compreensão do relacionamento entre as pessoas é limitada e tendenciosa. Essas pessoas partem do princípio que dessa forma, sem recurso à violência, obtém poder, mesmo que virtual, porque tal facto já lhes acarinha o ego. A própria argumentação a que recorrem pode comportar violência. O recurso à violência efectiva para dar por finda uma questão pode provocar efeitos colaterais e diferidos que podem tornar a acção contraproducente.
Um conflito só está solucionado quando se encontra um novo equilíbrio que faça cessar a vontade de o alterar. Felizmente que a humanidade abandonou a procura de vitórias absolutas. Algumas manifestações de fundamentalismo causam alarme mas espera-se que as forças democráticas consigam sobrepor-se às forças que ainda tenham essa ambição. No geral hoje todas as vitórias que se perseguem na solução de conflitos são tão só relativas, sempre melhores e humanamente mais justas. Se uma solução não extingue toda a tensão que se tinha criado resta controlá-la e remetê-la para episódios posteriores. Este, como qualquer equilíbrio, pode ter roturas inesperadas, toda a estabilidade é passageira.
Nem todos os conflitos remetem para uma luta de interesses claramente definidos, precisos. Imensas pessoas vêm-se envolvidas involuntariamente em muitas guerras sem nada ter a ver com elas. Envolvem-se nelas porque essas guerras as envolvem e, havendo uma supremacia em disputa, essas pessoas são tentadas a perfilar-se de um dos lados, pelos apelos dos seus intervenientes para a partilha de ganhos e percas dessa luta. Depois nem todas pessoas resistem da mesmo maneira a um envolvimento directo mesmo nada tendo a ver directamente com eventuais interesses em jogo.
Os conflitos nunca são gratuitos mas muitos são dificilmente decifráveis. As alianças que se formam são por vezes estranhas, as fidelidades desrespeitam muitas vezes o que parecia assente. Conjugam-se poderes de atracção e repulsa com proveniências diversas e muitas vezes sem relação entre si. Confundem-se poderes, sugestões, influências, insinuações e ameaças. E o que é bem pior, às tantas não se sabe quem é o responsável, quem despoletou o conflito, quem o alimenta e a quem é que ele interessa. Muitas vezes nem se sabe quem é o mandante e o mandado.
Afinal muitos juntos podemos contribuir para alimentar a violência, para que o rastilho fuja ao controle dos mais responsáveis, mas há sempre quem seja mandante, quem sugira, estimule, despolete e avalize o uso da violência. Também os mandantes podem ter hesitações, as coisas podem ir para caminhos não previstos, porém a responsabilidade é sempre individual por mais difundida colectivamente que esteja a violência. Em muitos aspectos nós já a herdamos, mas é necessário compreender as razões porque ela foi utilizada pelos nossos ancestrais para concluirmos pela inoportunidade do seu uso nos dias de hoje. Não mais podemos relegar para o colectivo as nossas responsabilidades, mesmo que nos dêem mandato para a aplicar.
O equilíbrio social, em qualquer das versões que as pessoas adoptam como o seu Ideal, está longe de estar alcançado. Este facto revela que há tensões acumuladas e outras ainda que podem surgir. O aparelho de poder existente assegura a estabilidade através da sugestão da violência e do seu esporádico exercício. O aparelho de poder é a depositário da violência institucional e são muitas as forças que o pretendem controlar, para deter o mandato da violência. Todos querem contribuir para novos equilíbrios, mas também alguns têm em vista uma mudança radical que remeta a coesão social para o respeito por diferentes parâmetros de aferição.
Aquelas forças radicais são simplistas na sua forma de abordar o equilíbrio social e portanto as divisões existentes na sociedade. Adoptam em cada momento todas as ideias que consideram fracturantes, mas muitas delas dão hoje uma imagem redutora. Ricos e pobres, poderosos e oprimidos, cultos e ignorantes, são divisões que já não dão uma imagem da complexidade social. A ordem passa por um equilíbrio entre as pessoas e já não entre grupos. Infelizmente este procedimento grupal ainda existe no próprio aparelho de Estado que tem órgãos que se orientam de forma contraditória uns com os outros. O poder deve-se exercer a favor de uma ordem coerente e equitativa, com a violência em grau adequado, uma violência propositada e proporcionada.
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