Em politica é habitual juntarmos o máximo de argumentos para justificar determinada solução para um problema e tudo nos parece claro perante a sua força. No entanto alguma perplexidade nos fica, àqueles que honestamente gostariam de ser esclarecidos, já não àqueles que já estão convencidos antes de ouvirem uma qualquer razão. Os argumentos contrários são mais difíceis de agregar dado que os pressupostos da solução adoptada são quase sempre difíceis de contornar. É necessário lucidez para ver mais longe.
Em primeiro lugar quem paga aos argumentistas contrários para fazer uma análise profunda comparando os benefícios auferidos com a solução encontrada com aqueles que proviriam de outra solução qualquer? Haverá sempre alguém para quem a moeda dita boa redundará em má moeda em certas situações. Isto quando o que parece obvio é que as coisas não podem ficar assim como estão, sempre se diz, só que a pressa nem sempre ou quase nunca é boa conselheira. O caso do novo aeroporto de Lisboa, mudado à última da Ota para Alcochete, é a excepção que confirma a regra. Alterou-se a opção e travou-se a pressa.
Já o caso do Euro é paradigmático da nossa leviana pressa e da nossa confiança cega. Nada sabedores destas coisas de uniões, federações e similares deixamo-nos todos levar na onda de um movimento que parecia imparável. Aliás, se os Países do coração da Europa pensavam ser bom, quem seríamos nós para dizer o contrário? Os Ingleses, que não quiseram aderir ao Euro, são os eternos cépticos sobre os continentais, mas a que afinal sempre recorremos em todos os períodos históricos em que tivemos dificuldades. Mas desta vez falhamos, lá pensamos que estaria na ocasião de nos emanciparmos. Não estaremos agora em ocasião de perguntar se eles não estariam mais avisados?
Afinal o projecto de moeda única falhou desde logo porque não teve a adesão do universo de países da Comunidade Europeia. No entanto esta não abdicou. A verdade é que o Euro não ganhou ou perdeu estabilidade por esse motivo, mas não ganhou a representatividade de toda a economia europeia. Então o que ganharam e perderam os países aderentes e não aderentes? O abalo sofrido pela economia mundial no ano de 2008 veio produzir efeitos por igual em todos esses países, sendo que a um segundo nível as consequências foram diferentes.
A capacidade produtiva instalada diminuiu nos países de economia mais vulnerável, as mais baseadas em trabalho intensivo. Repentinamente todos os pressupostos da nossa pertença à Comunidade Europeia, a coesão, a solidariedade, estão postos em causa. Não se pensou a Comunidade para enfrentar crises. Não há tesouro público a que os países em dificuldade possam recorrer. Não há bolsa de trabalho a distribuir pelos Estados. A Comunidade incentivou os Estados a apoiar a Banca e outros entidades, mas o reverso não existe. No mundo capitalista ninguém ajuda. Colocaram-nos numa posição de só ver progresso à nossa frente, mas agora ninguém quer pagar a poltrona.
Nos países do Euro começou a fazer-se contas para solucionar a crise. Afinal é necessário mobilizar vastos meios financeiros para reorganizar o tecido produtivo. Constatou-se que alguns dos países mais frágeis da Comunidade tinham as suas reservas sumidas, tinham cometido demasiados pecados. A Grécia tinha sido mesmo falsa, outros países foram negligentes. O País mais atingido foi a Espanha, mas significativamente não foi financeiramente o mais abalado. Os seus problemas económicos são graves, mas tem alguma folga para o necessário relançamento. Tinha superavites anteriores.
Pior estamos nós. Ao primeiro abalo toda a nossa fraqueza ficou a nu. Temos problemas económicos a resolver e as mãos atadas por falta de meios. Descobriu-se em breve tempo que o Euro não é a nossa moeda, não temos economia que contribua para o sustentar. A Comunidade do Euro não quer pagar caro o nosso fraco contributo de 1,5 % para o PIB comunitário. Deixou de haver contributos simbólicos, valemos tanto como um País saído há pouco da órbita soviética, como a República Checa. Os caminhos que desbravamos não contam.
Metemo-nos num colete-de-forças que não nos permite qualquer ginástica. Transferimos a soberania monetária, mas na Europa ninguém quer a responsabilidade da soberania económica. Os países fortes da Europa quiseram ser generosos connosco na euforia dos tratados, mas tratam-nos asperamente perante a lucidez dos números. A maldade não se encontra nos processos eufóricos, reside tão só no efeito prático de alguém ter de pagar a conta da festa.
A Grécia perdeu a importância estratégica pela mudança que se quer imprimir ao relacionamento com os Países Islâmicos, em especial a Turquia. Portugal perdeu a importância de ser um bom aluno porque gastou tudo na farra. A Alemanha mantém a altivez de quem, com empenho, vai hasteando a bandeira da Europa e já não precisa da ajuda de ninguém. Provou-se que não chega a nossa disponibilidade e boa vontade para levar a nossa economia à convergência.
Porém todos sabíamos que na economia não há relações estáveis e que os bens valorizam-se e depreciam-se com o tempo, alterando os termos dessas relações. Aquilo em que empregamos o nosso tempo, em que aplicamos o nosso trabalho perdeu valor. Não acompanhamos, quanto mais convergimos. Os nossos economistas políticos não são honestos ao dizer que podemos viver a cortar as silvas dos nossos montes, discurso velho arreigado na tradição popular. Além disso desde o governo de Cavaco Silva que muitos se enchem de dinheiro fresco a dar cursos que para nada servem. São pagos em moeda forte numa economia fraca.
Sem Euro haveria uma outra noção de valor do nosso trabalho e não aceitaríamos perdê-lo, mesmo mal pago. Porém também será irrelevante juntarmo-nos agora para gritar bem alto os malefícios do Euro. Esta é a má moeda de que falam muitos economistas. Com um Euro tão rico custa-nos aceitar que somos pobres, mas temos de nos convencer disso, senão alguém o há-de fazer. Temos de nos encher de brios perante as bofetadas que já vamos recebendo. Infelizmente sem passar pela vergonha não teremos juízo. De nada serve nos abespinharmos para reagir se não interiorizarmos essa humilhação.
Em primeiro lugar quem paga aos argumentistas contrários para fazer uma análise profunda comparando os benefícios auferidos com a solução encontrada com aqueles que proviriam de outra solução qualquer? Haverá sempre alguém para quem a moeda dita boa redundará em má moeda em certas situações. Isto quando o que parece obvio é que as coisas não podem ficar assim como estão, sempre se diz, só que a pressa nem sempre ou quase nunca é boa conselheira. O caso do novo aeroporto de Lisboa, mudado à última da Ota para Alcochete, é a excepção que confirma a regra. Alterou-se a opção e travou-se a pressa.
Já o caso do Euro é paradigmático da nossa leviana pressa e da nossa confiança cega. Nada sabedores destas coisas de uniões, federações e similares deixamo-nos todos levar na onda de um movimento que parecia imparável. Aliás, se os Países do coração da Europa pensavam ser bom, quem seríamos nós para dizer o contrário? Os Ingleses, que não quiseram aderir ao Euro, são os eternos cépticos sobre os continentais, mas a que afinal sempre recorremos em todos os períodos históricos em que tivemos dificuldades. Mas desta vez falhamos, lá pensamos que estaria na ocasião de nos emanciparmos. Não estaremos agora em ocasião de perguntar se eles não estariam mais avisados?
Afinal o projecto de moeda única falhou desde logo porque não teve a adesão do universo de países da Comunidade Europeia. No entanto esta não abdicou. A verdade é que o Euro não ganhou ou perdeu estabilidade por esse motivo, mas não ganhou a representatividade de toda a economia europeia. Então o que ganharam e perderam os países aderentes e não aderentes? O abalo sofrido pela economia mundial no ano de 2008 veio produzir efeitos por igual em todos esses países, sendo que a um segundo nível as consequências foram diferentes.
A capacidade produtiva instalada diminuiu nos países de economia mais vulnerável, as mais baseadas em trabalho intensivo. Repentinamente todos os pressupostos da nossa pertença à Comunidade Europeia, a coesão, a solidariedade, estão postos em causa. Não se pensou a Comunidade para enfrentar crises. Não há tesouro público a que os países em dificuldade possam recorrer. Não há bolsa de trabalho a distribuir pelos Estados. A Comunidade incentivou os Estados a apoiar a Banca e outros entidades, mas o reverso não existe. No mundo capitalista ninguém ajuda. Colocaram-nos numa posição de só ver progresso à nossa frente, mas agora ninguém quer pagar a poltrona.
Nos países do Euro começou a fazer-se contas para solucionar a crise. Afinal é necessário mobilizar vastos meios financeiros para reorganizar o tecido produtivo. Constatou-se que alguns dos países mais frágeis da Comunidade tinham as suas reservas sumidas, tinham cometido demasiados pecados. A Grécia tinha sido mesmo falsa, outros países foram negligentes. O País mais atingido foi a Espanha, mas significativamente não foi financeiramente o mais abalado. Os seus problemas económicos são graves, mas tem alguma folga para o necessário relançamento. Tinha superavites anteriores.
Pior estamos nós. Ao primeiro abalo toda a nossa fraqueza ficou a nu. Temos problemas económicos a resolver e as mãos atadas por falta de meios. Descobriu-se em breve tempo que o Euro não é a nossa moeda, não temos economia que contribua para o sustentar. A Comunidade do Euro não quer pagar caro o nosso fraco contributo de 1,5 % para o PIB comunitário. Deixou de haver contributos simbólicos, valemos tanto como um País saído há pouco da órbita soviética, como a República Checa. Os caminhos que desbravamos não contam.
Metemo-nos num colete-de-forças que não nos permite qualquer ginástica. Transferimos a soberania monetária, mas na Europa ninguém quer a responsabilidade da soberania económica. Os países fortes da Europa quiseram ser generosos connosco na euforia dos tratados, mas tratam-nos asperamente perante a lucidez dos números. A maldade não se encontra nos processos eufóricos, reside tão só no efeito prático de alguém ter de pagar a conta da festa.
A Grécia perdeu a importância estratégica pela mudança que se quer imprimir ao relacionamento com os Países Islâmicos, em especial a Turquia. Portugal perdeu a importância de ser um bom aluno porque gastou tudo na farra. A Alemanha mantém a altivez de quem, com empenho, vai hasteando a bandeira da Europa e já não precisa da ajuda de ninguém. Provou-se que não chega a nossa disponibilidade e boa vontade para levar a nossa economia à convergência.
Porém todos sabíamos que na economia não há relações estáveis e que os bens valorizam-se e depreciam-se com o tempo, alterando os termos dessas relações. Aquilo em que empregamos o nosso tempo, em que aplicamos o nosso trabalho perdeu valor. Não acompanhamos, quanto mais convergimos. Os nossos economistas políticos não são honestos ao dizer que podemos viver a cortar as silvas dos nossos montes, discurso velho arreigado na tradição popular. Além disso desde o governo de Cavaco Silva que muitos se enchem de dinheiro fresco a dar cursos que para nada servem. São pagos em moeda forte numa economia fraca.
Sem Euro haveria uma outra noção de valor do nosso trabalho e não aceitaríamos perdê-lo, mesmo mal pago. Porém também será irrelevante juntarmo-nos agora para gritar bem alto os malefícios do Euro. Esta é a má moeda de que falam muitos economistas. Com um Euro tão rico custa-nos aceitar que somos pobres, mas temos de nos convencer disso, senão alguém o há-de fazer. Temos de nos encher de brios perante as bofetadas que já vamos recebendo. Infelizmente sem passar pela vergonha não teremos juízo. De nada serve nos abespinharmos para reagir se não interiorizarmos essa humilhação.
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