A subsistência é um problema que historicamente nos opôs uns aos outros. Hoje essa luta está bastante reduzida e a maioria da humanidade ocupa-se mais com a luta de ideias. Estas são igualmente poderosas, dão muitas vezes às pessoas uma força igual à daquela luta pela sobrevivência. As ideias provocam igualmente choques, divergências e também convergências, alianças e também desentendimentos que se podem tornar graves e permanentes.
Aceitar a existência de outrem com ideias claramente divergentes das nossas não tem sido tarefa fácil. Tem mesmo havido várias tentativas em sentido contrário, para que se formem sociedades em que as ideias de todos convirjam para um mesmo fim. O seu fracasso tem sido doloroso. Terá sido por falta de clareza das ideias de quem lidera esse esforço de convergência que ele fracassa? Será dos métodos utilizados? Embora estas questões sejam pertinentes, pensamos que é natural que o problema seja mesmo insolúvel, por residir na própria natureza das coisas. Mesmo determinar aquilo em que devemos ser iguais e aquilo em que é normal e até bom sermos diferentes é difícil.
As sociedades são dominadas por forças antagónicas. Quando uns governam os outros submetem-se com mais ou menos docilidade a esse domínio. Quando uns são preponderantes, outros tudo fazem para inverter essa situação e para não cair na alçada dum domínio mais nefasto. Numa sociedade livre há uma certa contenção nos métodos, mas nem todos eles serão claros. A agressividade é mais ou menos contida, porque normalmente os velhos impulsos são sublimados e a contenda fica-se pela simples verbosidade. Mas a divergência e mesmo a animosidade estão latentes.
As regras sociais nem sempre são suficientes para conter esta animosidade. Ela ainda hoje se despoleta mais facilmente quando há grupos raciais com interesses conflituantes porque os estilos de vida se não interligam. Aí os avanços que tenham sido feitos na socialização parecem cair por terra e os velhos impulsos agressivos tomam conta da questão. Felizmente nas sociedades mais mescladas e com um tecido social mais homogéneo esse tipo de conflito já não surge. Mas é mesmo difícil diluir certas diferenças históricas.
O século passado foi pródigo quanto a violência social. Desta destacou-se como perfeitamente excessiva a violência patrocinada pelos dirigentes dos Estados. E desta podemos salientar a violência racial e a violência ideológica. Nunca antes tinha havido uma violência tão sistemática, aplicada de modo imediato, sem grandes justificações prévias, por razões de natureza política, até só por simples suspeitas, dificilmente confirmáveis, de divergências e infidelidades de grupos sociais e estruturas do Estado.
Violência sempre houve, mas no século vinte atingiu-se nesse domínio requintes de malvadez. Domínios de território, construção de impérios, divergências religiosas levaram a confrontos frontais, uns mais leais do que outros, mas que situavam os opositores em campos diferentes e cujo desfecho levava a êxodos, escravatura, dependência. Sempre houve quem pusesse a máquina do Estado a trucidar opositores, mas não havia equívocos, digamos que estes eram violentados como um dos desfechos possíveis de um divergência histórica.
No século vinte mataram-se os nossos, aqueles que estavam do mesmo lado, que podiam não concordar com certas orientações do Estado, mas nele se integravam perfeitamente. Só o medo dos que ambicionavam dominar levou a considerar esses divergentes como inimigos. Nunca antes o inimigo tinha assim sido colocado no nosso meio. E quando assim se pensa já não é um cérebro saudável, é uma larga aversão social que se expande. Já não é um só indivíduo que assim pensa, é uma patologia social a que um indivíduo dá corpo.
Se o inimigo está entre nós, se está misturado na sociedade, só temos uma solução para nos vermos livres dele antes que ele se queira ver livre de nós ou continuar a explorar-nos, é acabar com eles. Mas para que alguém assim pense é necessário que declaremos um dos nossos como nosso inimigo. Assim procederam Estaline e Hitler. Ambos porque viam obstáculos nos seus concidadãos para pôr em prática o conceito de Pátria que os animava.
Hitler acusava os judeus de terem muitos rendimentos e não os colocarem ao serviço do País, assim como acusava outras minorias de não serem produtivas. Estaline acusava qualquer um de que suspeitasse de não estar de alma e coração consigo. Ambos faziam da existência de inimigos externos a razão para as suas razias internas, para a necessidade de cimentar o poder interno, baseado no terror e perseguição. Antes dividiam o seu povo numa parte boa e noutra má, lançando a suspeita e a desconfiança, a denúncia e a vingança permanentes.
A identificação do inimigo era tarefa para todos os delatores. As raças que Hitler começou por anatematizar foram quase totalmente exterminadas. Os dirigentes ou outros cidadãos que pudessem sobressair com capacidade de se oporem à política totalitária de Estaline seguiam o caminho da vala comum ou da Sibéria. A dificuldade de identificar os inimigos que estavam entre eles nunca foi problema para estes ditadores porque o excesso nunca os incomodou. Interessava-lhes incutir o medo e através deste obter domínio absoluto.
Passados anos destes dramas chegamos à conclusão de que a experiência ajudou a Humanidade a perceber que esta postura de encontrar inimigos no nosso meio dá origem a efeitos mais perversos do que os que esperaríamos. A nossa tradição cultural levou-nos infelizmente aos acontecimentos dos loucos anos trinta do século passado. Contribuir para uma postura diferente de aceitação da divergência e de ver no vizinho um irmão é o melhor contributo que podemos dar à Humanidade.
Aceitar a existência de outrem com ideias claramente divergentes das nossas não tem sido tarefa fácil. Tem mesmo havido várias tentativas em sentido contrário, para que se formem sociedades em que as ideias de todos convirjam para um mesmo fim. O seu fracasso tem sido doloroso. Terá sido por falta de clareza das ideias de quem lidera esse esforço de convergência que ele fracassa? Será dos métodos utilizados? Embora estas questões sejam pertinentes, pensamos que é natural que o problema seja mesmo insolúvel, por residir na própria natureza das coisas. Mesmo determinar aquilo em que devemos ser iguais e aquilo em que é normal e até bom sermos diferentes é difícil.
As sociedades são dominadas por forças antagónicas. Quando uns governam os outros submetem-se com mais ou menos docilidade a esse domínio. Quando uns são preponderantes, outros tudo fazem para inverter essa situação e para não cair na alçada dum domínio mais nefasto. Numa sociedade livre há uma certa contenção nos métodos, mas nem todos eles serão claros. A agressividade é mais ou menos contida, porque normalmente os velhos impulsos são sublimados e a contenda fica-se pela simples verbosidade. Mas a divergência e mesmo a animosidade estão latentes.
As regras sociais nem sempre são suficientes para conter esta animosidade. Ela ainda hoje se despoleta mais facilmente quando há grupos raciais com interesses conflituantes porque os estilos de vida se não interligam. Aí os avanços que tenham sido feitos na socialização parecem cair por terra e os velhos impulsos agressivos tomam conta da questão. Felizmente nas sociedades mais mescladas e com um tecido social mais homogéneo esse tipo de conflito já não surge. Mas é mesmo difícil diluir certas diferenças históricas.
O século passado foi pródigo quanto a violência social. Desta destacou-se como perfeitamente excessiva a violência patrocinada pelos dirigentes dos Estados. E desta podemos salientar a violência racial e a violência ideológica. Nunca antes tinha havido uma violência tão sistemática, aplicada de modo imediato, sem grandes justificações prévias, por razões de natureza política, até só por simples suspeitas, dificilmente confirmáveis, de divergências e infidelidades de grupos sociais e estruturas do Estado.
Violência sempre houve, mas no século vinte atingiu-se nesse domínio requintes de malvadez. Domínios de território, construção de impérios, divergências religiosas levaram a confrontos frontais, uns mais leais do que outros, mas que situavam os opositores em campos diferentes e cujo desfecho levava a êxodos, escravatura, dependência. Sempre houve quem pusesse a máquina do Estado a trucidar opositores, mas não havia equívocos, digamos que estes eram violentados como um dos desfechos possíveis de um divergência histórica.
No século vinte mataram-se os nossos, aqueles que estavam do mesmo lado, que podiam não concordar com certas orientações do Estado, mas nele se integravam perfeitamente. Só o medo dos que ambicionavam dominar levou a considerar esses divergentes como inimigos. Nunca antes o inimigo tinha assim sido colocado no nosso meio. E quando assim se pensa já não é um cérebro saudável, é uma larga aversão social que se expande. Já não é um só indivíduo que assim pensa, é uma patologia social a que um indivíduo dá corpo.
Se o inimigo está entre nós, se está misturado na sociedade, só temos uma solução para nos vermos livres dele antes que ele se queira ver livre de nós ou continuar a explorar-nos, é acabar com eles. Mas para que alguém assim pense é necessário que declaremos um dos nossos como nosso inimigo. Assim procederam Estaline e Hitler. Ambos porque viam obstáculos nos seus concidadãos para pôr em prática o conceito de Pátria que os animava.
Hitler acusava os judeus de terem muitos rendimentos e não os colocarem ao serviço do País, assim como acusava outras minorias de não serem produtivas. Estaline acusava qualquer um de que suspeitasse de não estar de alma e coração consigo. Ambos faziam da existência de inimigos externos a razão para as suas razias internas, para a necessidade de cimentar o poder interno, baseado no terror e perseguição. Antes dividiam o seu povo numa parte boa e noutra má, lançando a suspeita e a desconfiança, a denúncia e a vingança permanentes.
A identificação do inimigo era tarefa para todos os delatores. As raças que Hitler começou por anatematizar foram quase totalmente exterminadas. Os dirigentes ou outros cidadãos que pudessem sobressair com capacidade de se oporem à política totalitária de Estaline seguiam o caminho da vala comum ou da Sibéria. A dificuldade de identificar os inimigos que estavam entre eles nunca foi problema para estes ditadores porque o excesso nunca os incomodou. Interessava-lhes incutir o medo e através deste obter domínio absoluto.
Passados anos destes dramas chegamos à conclusão de que a experiência ajudou a Humanidade a perceber que esta postura de encontrar inimigos no nosso meio dá origem a efeitos mais perversos do que os que esperaríamos. A nossa tradição cultural levou-nos infelizmente aos acontecimentos dos loucos anos trinta do século passado. Contribuir para uma postura diferente de aceitação da divergência e de ver no vizinho um irmão é o melhor contributo que podemos dar à Humanidade.
Sem comentários:
Enviar um comentário