Porque sentimos que o nosso futuro está indissociavelmente ligado aos destinos deste Pais, deste Estado/Nação que é Portugal, é que nos dizemos portugueses. Mas a nossa cidadania é plena e permite-nos interferir, participar, contribuir para a formação da vontade colectiva. Inclusive permite-nos aceder a uma outra cidadania mais larga e até mais profunda.
Por efeito da nossa adesão à Comunidade Europeia pudemos aceder a essa outra cidadania partindo dos mesmos pressupostos: Temos na formação da vontade colectiva europeia os mesmos direitos que na formação da nacional, fazendo-o de forma directa e indirecta. Assim sendo podemos dizer que somos europeus. Qualitativamente as duas cidadanias serão basicamente iguais.
As diferenças que existem na participação nas eleições para os dois parlamentos, no simples entusiasmo em nelas participar, são por demais evidentes e remetem para uma falha no sentimento de cidadania europeia. Não nos sentimos e, por mais esforços que façam, não nos convencem facilmente que o nosso destino está ligado do mesmo modo indissolúvel ao destino europeu como está ligado, e isso nós sabemo-lo bem, ao destino português.
Sabemos que partilhamos muitos valores comuns, que estamos integrados na mesma civilização, mas também sabemos que esta foi construída com base em muitos conflitos, muitos atropelos e que eles podem continuar. Não chega acreditar que isto tudo acabou, é necessário continuar a lutar por isso. A desconfiança não findou porque não acabou o egoísmo, o sectarismo e o espírito de vingança.
A Europa está tão frágil que parece só existir como projecto político enquanto os Estados acharem que as suas complementaridades lhes trazem um benefício maior que as suas rivalidades ainda vivas, o que é claro para os políticos, mas está longe de estar enraizado na consciência dos europeus. O problema é que mesmo os políticos não resistem a um repetido apelo demagógico e podem ser tentados a inverter a situação.
Para atingir a consciência plena de uma nacionalidade europeia haveria que incentivar entre eles outro espírito mais solidário, mais colaborante, mais participativo. A Europa, como hoje existe, nasceu da colaboração entre democrata-cristãos e socialistas. Após a queda do muro de Berlim muito do cimento que mantinha este edifício de pé e com sentido perdeu consistência.
Democrata-cristãos e socialistas perderam a alma, trocaram-na pelo dinheiro. Este, de elemento assessório e instrumental, passou a estar no centro de todas as preocupações, dum lado e doutro da antiga fronteira. Enquanto existia um inimigo comum havia outro brio, outro decoro, outra moral, um objectivo, uma paixão, um outro apego à verdade, à honestidade, aos valores sociais.
A imagem com que ficamos hoje é de um povo europeu ingrato em relação aos esforços que os políticos têm feito pela paz e pela harmonia, não só nos seus territórios, mas também pela influência exercida noutros continentes. É como se esta acção não pague de modo suficiente o desleixo e o desregulamento que se processou noutras áreas e que haveria aliás de contribuir para a crise sobrevinda.
De nada nos serve tentar realçar um aspecto que achamos da máxima importância se não é esse o que sobreleva para a opinião prevalecente. Mas os políticos não estão isentos de culpa ao, para garantir o seu profissionalismo, se deixarem arrastar por uma visão centrada num só aspecto, naquele fazer política atendendo às necessidades que as pessoas sentem no imediato.
O simples apelo a ver mais para além, a lembrança de que, por ausência, podemos estar a pôr em perigo um qualquer futuro, não surte qualquer efeito. Impõe-se uma nova aliança, alguém que nos defina o que podemos esperar em termos de destino comum e que torna tão importante a nossa caminhada conjunta em vez da tentativa de cada qual se desenrascar por si.
Simplesmente os democrata-cristãos já não existam, diluíram-se, deixaram-se arrastar pelo conservadorismo ou passaram a navegar no neo-liberalismo sem freio e sem ideal. Por seu lado os socialistas espartilharam-se, cederam às exigências nacionais, deixaram-se dominar tornando-se mesmo impotentes perante os aspectos económicos globais.
Todos se tornaram incapazes de formular ideias, de projectar destinos, de arquitectar futuros. A única diferença é que a democracia cristã está exangue, os seus poucos elementos que ainda transportam a alma passada estão marginalizados, é reduzida a sua base de apoio. Por outro lado os socialistas podem vir a adquirir sangue novo, o turbilhão de ideias que se sente virá a dar frutos, as cedências à gestão liberal serão inevitáveis, mas não definitivas.
Não é propriamente dos “Velhos”, dos Alegres ou Soares que se espera a chama a iluminar o nosso caminho. A consciência, assim como a noção simples da cidadania não são suficientes para estruturar pensamentos, dinamizar movimentos, vencer a apatia. Espera-se um novo sopro de vida. Espera-se que as próximas eleições europeias sejam o despertar para a participação na construção de um destino comum em que nos sintamos empenhados, responsáveis e que traga benefícios solidários, que não só materiais.
As próximas eleições europeias não podem ser a resignação a vermos durante mais cinco anos a diplomacia brilhante mas estática a dominar o contexto europeu em vez de uma política apelativa, orientadora e motivadora. A questão nacional, quando aflora nestas ocasiões, só revela a curtez de vistas, a cedência à diplomacia de gabinete, a falta de empenho no vencimento das ideias do futuro, do progresso social e civilizacional.
Se os políticos não são capazes, ou por outro lado, só são capazes de discutir mais subsídio para cá ou para lá, mais lugares para este grupo ou para aquele, para este País ou para aquele, têm que ser os homens de cultura a realçar o contributo europeu, mas a não se ficarem pelo passado, porque deste há muito quem entenda, o difícil é traçar um caminho seguro numa atmosfera de nevoeiro denso. O futuro constrói-se com homens que nele acreditem.
Por efeito da nossa adesão à Comunidade Europeia pudemos aceder a essa outra cidadania partindo dos mesmos pressupostos: Temos na formação da vontade colectiva europeia os mesmos direitos que na formação da nacional, fazendo-o de forma directa e indirecta. Assim sendo podemos dizer que somos europeus. Qualitativamente as duas cidadanias serão basicamente iguais.
As diferenças que existem na participação nas eleições para os dois parlamentos, no simples entusiasmo em nelas participar, são por demais evidentes e remetem para uma falha no sentimento de cidadania europeia. Não nos sentimos e, por mais esforços que façam, não nos convencem facilmente que o nosso destino está ligado do mesmo modo indissolúvel ao destino europeu como está ligado, e isso nós sabemo-lo bem, ao destino português.
Sabemos que partilhamos muitos valores comuns, que estamos integrados na mesma civilização, mas também sabemos que esta foi construída com base em muitos conflitos, muitos atropelos e que eles podem continuar. Não chega acreditar que isto tudo acabou, é necessário continuar a lutar por isso. A desconfiança não findou porque não acabou o egoísmo, o sectarismo e o espírito de vingança.
A Europa está tão frágil que parece só existir como projecto político enquanto os Estados acharem que as suas complementaridades lhes trazem um benefício maior que as suas rivalidades ainda vivas, o que é claro para os políticos, mas está longe de estar enraizado na consciência dos europeus. O problema é que mesmo os políticos não resistem a um repetido apelo demagógico e podem ser tentados a inverter a situação.
Para atingir a consciência plena de uma nacionalidade europeia haveria que incentivar entre eles outro espírito mais solidário, mais colaborante, mais participativo. A Europa, como hoje existe, nasceu da colaboração entre democrata-cristãos e socialistas. Após a queda do muro de Berlim muito do cimento que mantinha este edifício de pé e com sentido perdeu consistência.
Democrata-cristãos e socialistas perderam a alma, trocaram-na pelo dinheiro. Este, de elemento assessório e instrumental, passou a estar no centro de todas as preocupações, dum lado e doutro da antiga fronteira. Enquanto existia um inimigo comum havia outro brio, outro decoro, outra moral, um objectivo, uma paixão, um outro apego à verdade, à honestidade, aos valores sociais.
A imagem com que ficamos hoje é de um povo europeu ingrato em relação aos esforços que os políticos têm feito pela paz e pela harmonia, não só nos seus territórios, mas também pela influência exercida noutros continentes. É como se esta acção não pague de modo suficiente o desleixo e o desregulamento que se processou noutras áreas e que haveria aliás de contribuir para a crise sobrevinda.
De nada nos serve tentar realçar um aspecto que achamos da máxima importância se não é esse o que sobreleva para a opinião prevalecente. Mas os políticos não estão isentos de culpa ao, para garantir o seu profissionalismo, se deixarem arrastar por uma visão centrada num só aspecto, naquele fazer política atendendo às necessidades que as pessoas sentem no imediato.
O simples apelo a ver mais para além, a lembrança de que, por ausência, podemos estar a pôr em perigo um qualquer futuro, não surte qualquer efeito. Impõe-se uma nova aliança, alguém que nos defina o que podemos esperar em termos de destino comum e que torna tão importante a nossa caminhada conjunta em vez da tentativa de cada qual se desenrascar por si.
Simplesmente os democrata-cristãos já não existam, diluíram-se, deixaram-se arrastar pelo conservadorismo ou passaram a navegar no neo-liberalismo sem freio e sem ideal. Por seu lado os socialistas espartilharam-se, cederam às exigências nacionais, deixaram-se dominar tornando-se mesmo impotentes perante os aspectos económicos globais.
Todos se tornaram incapazes de formular ideias, de projectar destinos, de arquitectar futuros. A única diferença é que a democracia cristã está exangue, os seus poucos elementos que ainda transportam a alma passada estão marginalizados, é reduzida a sua base de apoio. Por outro lado os socialistas podem vir a adquirir sangue novo, o turbilhão de ideias que se sente virá a dar frutos, as cedências à gestão liberal serão inevitáveis, mas não definitivas.
Não é propriamente dos “Velhos”, dos Alegres ou Soares que se espera a chama a iluminar o nosso caminho. A consciência, assim como a noção simples da cidadania não são suficientes para estruturar pensamentos, dinamizar movimentos, vencer a apatia. Espera-se um novo sopro de vida. Espera-se que as próximas eleições europeias sejam o despertar para a participação na construção de um destino comum em que nos sintamos empenhados, responsáveis e que traga benefícios solidários, que não só materiais.
As próximas eleições europeias não podem ser a resignação a vermos durante mais cinco anos a diplomacia brilhante mas estática a dominar o contexto europeu em vez de uma política apelativa, orientadora e motivadora. A questão nacional, quando aflora nestas ocasiões, só revela a curtez de vistas, a cedência à diplomacia de gabinete, a falta de empenho no vencimento das ideias do futuro, do progresso social e civilizacional.
Se os políticos não são capazes, ou por outro lado, só são capazes de discutir mais subsídio para cá ou para lá, mais lugares para este grupo ou para aquele, para este País ou para aquele, têm que ser os homens de cultura a realçar o contributo europeu, mas a não se ficarem pelo passado, porque deste há muito quem entenda, o difícil é traçar um caminho seguro numa atmosfera de nevoeiro denso. O futuro constrói-se com homens que nele acreditem.
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