Todas as culturas valorizam o acto de dar mais do que o contributo obrigatório e legal para o conjunto da sociedade. Quando alguém está interessado em dar, não nos preocupamos normalmente com as razões que o levam a isso. A essas pessoas também se costuma dizer que, se querem fazer bem, não olhem a quem.
Há pois gente disponível para dar e outros para receber. Aqueles que estão sempre disponíveis para dar são poucos mas os que se dispõem a receber são muitos e entre estes há os gananciosos, sem receio do ridículo. Mas também há quem a essa disponibilidade acrescente alguns escrúpulos e até mesmo quem de todo se mantenha indisponível, uns para dar e outros para receber.
Os que recebem podem merecer de nós os sentimentos mais díspares mas teremos que convir que não faltarão no mundo seres humanos que suscitem a nossa piedade. Mas haverá muitas outras razões igualmente plausíveis que justificam plenamente o exercício da benemerência ou do mecenato.
Por hábito nós, justiceiros primários sempre prontos a atirar a primeira pedra, diremos que os que nada dão são avarentos e às vezes até enchemos de sangue a cara e manifestamos a nossa indignação em relação àqueles que tanto têm e se comportam dessa maneira.
Mas na realidade se há quem não dê por princípio, também há aqueles que não dão por saturação, quando se pede para tudo e todos acham que têm razão. Depois, mercê muito da pedinchice televisiva, há sempre gente disposta a dar cobertura moral a todos os pedintes que, pelas mais variadas razões, vão proliferando a todos os níveis da sociedade.
Pedem os que não podem e os que podem trabalhar, os que esgotaram e os que não esgotaram a sua conta bancária mas que a querem sempre bem recheada para sustentar os seus vários vícios e até os que a querem engordar para uma reforma livre de perigos e uma “capela” num cemitério qualquer.
Os meios de comunicação, em particular a televisão, entram nestes esquemas com uma tal leviandade que nem perante a fraude evidente chegam a pedir desculpas aos patos-bravos que vão caindo na esparrela de alimentar espectáculos de gosto mais que duvidoso.
Dir-se-á que a satisfação pessoal que estes já obtiveram com a sua dádiva resultará, não do facto de terem prescindido dela, mas de terem podido prescindir a favor de outrem, seja este quem for, e isso já os terá recompensado sem terem que esperar outra compensação ou reconhecimento.
O problema é que isto é uma abstracção difícil de conseguir e haverá sempre outras motivações atrás destes gestos magnânimos. Mas não há dúvida que no processo psicológico que determina a predisposição para dar, e concomitantemente para não dar, o sentimento de restituição é o mais primário e facilmente descortinável de todos.
Aqueles que acham que ainda não receberam o suficiente da sociedade não estarão predispostos a dar aquilo que lhes pode ou não fazer falta e entre outros aqueles que, mesmo queixando-se, pensam já ter recebido algo, pensarão também que podem dar alguma coisa em troca.
Mas também haverá aqueles que, mais do que no passado, estarão a pensar no futuro e assim estarão a pensar para eles, que não para os outros, em fazer um investimento em vez da tradicional restituição. As pessoas ao fazerem-no podem ser movidas por diferentes forças, desde a bondade até a um máximo de calculismo e quando assim é só se satisfazem com um reconhecimento imediato.
Depois podemos ir mais além do domínio da restituição ou do investimento, isto é das nossas motivações mais profundas, e pensar que a classificação de uma dádiva também pode derivar da forma como nós tivermos obtido os meios de que dispomos para satisfazer a nossa generosidade. Aqui a divergência é naturalmente maior.
Do lícito ao menos lícito, do duvidoso até ao ilegal, do que sendo legal é moral até ao plenamente imoral, longos são os caminhos percorridos até que se descubra o verdadeiro lugar onde posicionar a licitude e a moral que, independentemente dos méritos de cada um e da sua oferta possam servir de motivo para realçar ou denegrir essa atitude pessoal.
Daqui a dificuldade em haver acordo entre os intervenientes, os que testemunham e acima de tudo entre aqueles que são chamados a valorar estas atitudes. Mas todos podemos convergir em que tudo tem um preço e que se a dádiva for grande até poderemos prescindir dos outros critérios e achar que, não o sendo na globalidade, o resultado final pode acabar por ser positivo.
E lembramo-nos de Champalimaud que no fim da sua vida, controversa quanto baste, deixou 500 milhões de Euros a uma fundação para fins humanitários. Não duvidemos que isto suavizou sobremaneira as críticas que podíamos atribuir a tanta ganância. O mecenato tem os seus efeitos.
Há pois gente disponível para dar e outros para receber. Aqueles que estão sempre disponíveis para dar são poucos mas os que se dispõem a receber são muitos e entre estes há os gananciosos, sem receio do ridículo. Mas também há quem a essa disponibilidade acrescente alguns escrúpulos e até mesmo quem de todo se mantenha indisponível, uns para dar e outros para receber.
Os que recebem podem merecer de nós os sentimentos mais díspares mas teremos que convir que não faltarão no mundo seres humanos que suscitem a nossa piedade. Mas haverá muitas outras razões igualmente plausíveis que justificam plenamente o exercício da benemerência ou do mecenato.
Por hábito nós, justiceiros primários sempre prontos a atirar a primeira pedra, diremos que os que nada dão são avarentos e às vezes até enchemos de sangue a cara e manifestamos a nossa indignação em relação àqueles que tanto têm e se comportam dessa maneira.
Mas na realidade se há quem não dê por princípio, também há aqueles que não dão por saturação, quando se pede para tudo e todos acham que têm razão. Depois, mercê muito da pedinchice televisiva, há sempre gente disposta a dar cobertura moral a todos os pedintes que, pelas mais variadas razões, vão proliferando a todos os níveis da sociedade.
Pedem os que não podem e os que podem trabalhar, os que esgotaram e os que não esgotaram a sua conta bancária mas que a querem sempre bem recheada para sustentar os seus vários vícios e até os que a querem engordar para uma reforma livre de perigos e uma “capela” num cemitério qualquer.
Os meios de comunicação, em particular a televisão, entram nestes esquemas com uma tal leviandade que nem perante a fraude evidente chegam a pedir desculpas aos patos-bravos que vão caindo na esparrela de alimentar espectáculos de gosto mais que duvidoso.
Dir-se-á que a satisfação pessoal que estes já obtiveram com a sua dádiva resultará, não do facto de terem prescindido dela, mas de terem podido prescindir a favor de outrem, seja este quem for, e isso já os terá recompensado sem terem que esperar outra compensação ou reconhecimento.
O problema é que isto é uma abstracção difícil de conseguir e haverá sempre outras motivações atrás destes gestos magnânimos. Mas não há dúvida que no processo psicológico que determina a predisposição para dar, e concomitantemente para não dar, o sentimento de restituição é o mais primário e facilmente descortinável de todos.
Aqueles que acham que ainda não receberam o suficiente da sociedade não estarão predispostos a dar aquilo que lhes pode ou não fazer falta e entre outros aqueles que, mesmo queixando-se, pensam já ter recebido algo, pensarão também que podem dar alguma coisa em troca.
Mas também haverá aqueles que, mais do que no passado, estarão a pensar no futuro e assim estarão a pensar para eles, que não para os outros, em fazer um investimento em vez da tradicional restituição. As pessoas ao fazerem-no podem ser movidas por diferentes forças, desde a bondade até a um máximo de calculismo e quando assim é só se satisfazem com um reconhecimento imediato.
Depois podemos ir mais além do domínio da restituição ou do investimento, isto é das nossas motivações mais profundas, e pensar que a classificação de uma dádiva também pode derivar da forma como nós tivermos obtido os meios de que dispomos para satisfazer a nossa generosidade. Aqui a divergência é naturalmente maior.
Do lícito ao menos lícito, do duvidoso até ao ilegal, do que sendo legal é moral até ao plenamente imoral, longos são os caminhos percorridos até que se descubra o verdadeiro lugar onde posicionar a licitude e a moral que, independentemente dos méritos de cada um e da sua oferta possam servir de motivo para realçar ou denegrir essa atitude pessoal.
Daqui a dificuldade em haver acordo entre os intervenientes, os que testemunham e acima de tudo entre aqueles que são chamados a valorar estas atitudes. Mas todos podemos convergir em que tudo tem um preço e que se a dádiva for grande até poderemos prescindir dos outros critérios e achar que, não o sendo na globalidade, o resultado final pode acabar por ser positivo.
E lembramo-nos de Champalimaud que no fim da sua vida, controversa quanto baste, deixou 500 milhões de Euros a uma fundação para fins humanitários. Não duvidemos que isto suavizou sobremaneira as críticas que podíamos atribuir a tanta ganância. O mecenato tem os seus efeitos.