sexta-feira, 9 de março de 2007

Formação certificada, uma questão de justiça ou de economia?

Uma questão como esta do Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências deveria estar absolutamente dissociada da questão da Formação.
A Formação é necessária, não só dentro das empresas para ir adequando os trabalhadores à evolução tecnológica, como fora para preparar os desempregados, os que procuram um primeiro emprego ou querem tão só mudar de emprego, com habilidades para o desempenho de nova ocupações.
Sem formação permanente é cada vez maior o fosso entre a qualificação dos trabalhadores mais antigos e as necessidades das empresas e a presumível qualificação dos mais novos. Mas esta deverá ser sempre um complemento da formação de base obtida nas estruturas normais de ensino.
Como complemento não deve ter em exigência diferente e a sua certificação deve ser feita por entidade diferente da que ministra a formação. A cada formação deverá corresponder um número de créditos adequados ao seu valor e dificuldade para que possa ser atribuída uma correspondência ao esquema normal de ensino, após a obtenção de um número determinado de créditos.
Problemático é obter uma fórmula de avaliação da auto-formação, principalmente quando não é orientada, e dos conhecimentos obtidos da pura prática. Aí só o resultado prático poderá dar consistência à certificação.
Todo o conhecimento não sistemático tem um valor relativo, veja-se as pessoas cuja verborreia é por demais profícua mas que não são capazes de fazer nada no concreto. Podem ser pessoas “espertas”, que conhecem todas as manhas e artimanhas de uma dialéctica cujo objectivo é tão só “ficar por cima” em qualquer conversa de café, nem que tenham que saltitar entre visões fragmentárias e redutoras da realidade e baralhar conceitos sem decoro.
Integram-se neste rol as pessoas que, alegremente, sustentam que não precisam de formação, No geral não dispõem de uma disciplina mental adequada, mas que aparecem quando surge a oportunidade de subir em grau académico. Avaliar e atribuir graus académicos aos portadores deste tipo de conhecimento é um puro desperdício, a promoção de uma injustiça relativa, a eternização dos esquemas mentais do Chico-espertismo nacional.
Nada mais justo do que a possibilidade de obter graus académicos fora do esquema normal de ensino, nada mais justo do que a avaliação ser feita neste caso a conteúdos diferentes dos normais. Nada mais injusto do que atribuir graus iguais com exigências diferentes nas duas possibilidades de formação.
A diferença entre as duas possibilidades não deve estar na rigidez da exigência, mas somente na substância da formação que é sujeita a validação. Caso contrário só nos estamos a iludir, a pensar que estamos a diminuir o fosso que se criou e na realidade estamos a criar um fosso maior.
Além do mais estamos a iludir a própria juventude, que ela própria está a ser aliciada para aos dezoito anos entrar em esquemas ilegais que, como já é hábito, se vão criar para sacar fundos europeus. E esta questão deve ser vista no domínio estrito da economia, mas não neste imediatismo confrangedor.
Tanto lamentamos o dinheiro já mal gasto, tanto nos culpamos pela nossa avidez, que seria dramático que não aproveitemos bem, bem para a comunidade, para a economia nacional, esta nova e última oportunidade.