O processo de socialização é hoje promovido essencialmente pelo Estado. Tem ainda a colaboração de outras instituições que lhe são mais ou menos independentes. Mas também tem a participação de grupos formais e informais e da família.
Há uma ideia generalizada que o Estado tem um papel imprescindível neste processo. A família carece de tempo disponível, os grupos de credibilidade e abrangência e as outras instituições tiveram resultados desastrosos.
A entrega deste processo a credos religiosos, a partidos políticos, a estruturas monolíticas e dogmáticas deu origem a exageros e desvios. O que hoje acontece, como reacção a esta situação, é a sua deposição nas mãos do Estado.
Efectivamente o Estado tem ou pode assumir muitas das características que lhe permitem ser o principal mentor do processo de socialização. Mas como organização humana que é está longe da qualquer pretensa perfeição.
O Estado moderno, laico e democrático, como o conhecemos, existe e com intermitências há somente cerca de dois séculos e vai permitindo articular satisfatoriamente a relação do homem com os seus semelhantes individuais, com os grupos e com a humanidade, mas só desde que todos partilhem os mesmos valores básicos.
É da natureza deste Estado não ter uma consistência monolítica, permitir uma contínua adaptação às novas condições que se vão criando, ir absorvendo grupos de origem civilizacional diversa e somente procurar um corpo de princípios que possam ser solidamente estruturados mas que mantenham também alguma flexibilidade.
Quando ocorre, a nível das instituições do Estado, qualquer alteração repentina na sua estrutura, nos seus princípios orientadores ou na sua importância relativa quebra-se o precário equilíbrio e originam-se roturas e percalços.
Mas nada é particularmente grave se as instituições que giram à volta do Estado e que legitimamente tentam aumentar a sua influência relativa, se orientarem pelos melhores princípios, com espírito de tolerância.
Diferente é se estruturas dogmáticas se apoderam do poder temporal e se confundem com o Estado, aumentaram a sua influência mas perderam o seu carácter moral e rapidamente se envolveram em conflituosidade estéril, na defesa de princípios que foram sendo ultrapassados pela realidade.
Depois há o efeito corrosivo do poder que se exerce sobre as pessoas, mas o que é bem pior, sobre a precária solidez dos princípios, única razão de ser da temporária preponderância daquelas estruturas na organização do Estado, o que determina a sua caducidade.
Sempre existirão tentativas para impor visões unilaterais e pouco consistentes. Ao sabermos quem é quem na formulação da orientação do Estado também contribuímos para que este assuma mais directamente as suas responsabilidades. O Estado não as pode alijar.
Numa transacção de conceitos e convicções, em que nada é particularmente sólido, afloram velhas culturas, por vezes manifestam-se velhos hábitos sob as formas mais perversas. A perda de influência das antigas estruturas desfaz o verniz aculturado que entretanto se havia criado.
Antes de uma adesão aos novos princípios cria-se uma vazio que, muitas vezes, com aquilo que se rejeita, faz submergir também alguns princípios básicos essências à convivência pacifica.
Com a socialização formal que as estruturas responsáveis promovem, coexiste sempre uma socialização informal, com múltiplas proveniências. Desenvolve-se uma cultura rebelde ao institucional que mesmo os regimes mais repressivos nunca conseguiram abafar.
O “naturalismo”, que não é mais que a cultura mais antiga e mais enraizada, opõem-se quanto pode a qualquer artificialismo que, com a roupagem de novo, se queira impor.
Estes processos são em grande parte surdos, desenrolam-se fora das vistas dos defensores do templo. A prevalência de um destes processos sobre o outro que se desenvolva em paralelo depende em larga escala do grau de satisfação que cada um pode proporcionar em bens sociais.
Uma análise linear levaria a pensar que com o desenvolvimento se obteria cada vez mais satisfação e portanto uma socialização mais perfeita e pacífica. O problema é que o desenvolvimento traz uma diferenciação cada vez maior, traz insatisfação ainda.
A verdade é que com aparente convivência pacífica, com indiferenciação de comportamentos, com desenvolvimento, casos extremos de dificuldade de socialização resultam mesmo em exclusão e na formação de universos estanques que reciprocamente se repelem.
Há uma ideia generalizada que o Estado tem um papel imprescindível neste processo. A família carece de tempo disponível, os grupos de credibilidade e abrangência e as outras instituições tiveram resultados desastrosos.
A entrega deste processo a credos religiosos, a partidos políticos, a estruturas monolíticas e dogmáticas deu origem a exageros e desvios. O que hoje acontece, como reacção a esta situação, é a sua deposição nas mãos do Estado.
Efectivamente o Estado tem ou pode assumir muitas das características que lhe permitem ser o principal mentor do processo de socialização. Mas como organização humana que é está longe da qualquer pretensa perfeição.
O Estado moderno, laico e democrático, como o conhecemos, existe e com intermitências há somente cerca de dois séculos e vai permitindo articular satisfatoriamente a relação do homem com os seus semelhantes individuais, com os grupos e com a humanidade, mas só desde que todos partilhem os mesmos valores básicos.
É da natureza deste Estado não ter uma consistência monolítica, permitir uma contínua adaptação às novas condições que se vão criando, ir absorvendo grupos de origem civilizacional diversa e somente procurar um corpo de princípios que possam ser solidamente estruturados mas que mantenham também alguma flexibilidade.
Quando ocorre, a nível das instituições do Estado, qualquer alteração repentina na sua estrutura, nos seus princípios orientadores ou na sua importância relativa quebra-se o precário equilíbrio e originam-se roturas e percalços.
Mas nada é particularmente grave se as instituições que giram à volta do Estado e que legitimamente tentam aumentar a sua influência relativa, se orientarem pelos melhores princípios, com espírito de tolerância.
Diferente é se estruturas dogmáticas se apoderam do poder temporal e se confundem com o Estado, aumentaram a sua influência mas perderam o seu carácter moral e rapidamente se envolveram em conflituosidade estéril, na defesa de princípios que foram sendo ultrapassados pela realidade.
Depois há o efeito corrosivo do poder que se exerce sobre as pessoas, mas o que é bem pior, sobre a precária solidez dos princípios, única razão de ser da temporária preponderância daquelas estruturas na organização do Estado, o que determina a sua caducidade.
Sempre existirão tentativas para impor visões unilaterais e pouco consistentes. Ao sabermos quem é quem na formulação da orientação do Estado também contribuímos para que este assuma mais directamente as suas responsabilidades. O Estado não as pode alijar.
Numa transacção de conceitos e convicções, em que nada é particularmente sólido, afloram velhas culturas, por vezes manifestam-se velhos hábitos sob as formas mais perversas. A perda de influência das antigas estruturas desfaz o verniz aculturado que entretanto se havia criado.
Antes de uma adesão aos novos princípios cria-se uma vazio que, muitas vezes, com aquilo que se rejeita, faz submergir também alguns princípios básicos essências à convivência pacifica.
Com a socialização formal que as estruturas responsáveis promovem, coexiste sempre uma socialização informal, com múltiplas proveniências. Desenvolve-se uma cultura rebelde ao institucional que mesmo os regimes mais repressivos nunca conseguiram abafar.
O “naturalismo”, que não é mais que a cultura mais antiga e mais enraizada, opõem-se quanto pode a qualquer artificialismo que, com a roupagem de novo, se queira impor.
Estes processos são em grande parte surdos, desenrolam-se fora das vistas dos defensores do templo. A prevalência de um destes processos sobre o outro que se desenvolva em paralelo depende em larga escala do grau de satisfação que cada um pode proporcionar em bens sociais.
Uma análise linear levaria a pensar que com o desenvolvimento se obteria cada vez mais satisfação e portanto uma socialização mais perfeita e pacífica. O problema é que o desenvolvimento traz uma diferenciação cada vez maior, traz insatisfação ainda.
A verdade é que com aparente convivência pacífica, com indiferenciação de comportamentos, com desenvolvimento, casos extremos de dificuldade de socialização resultam mesmo em exclusão e na formação de universos estanques que reciprocamente se repelem.