Haverá muitas técnicas de ler o futuro, de fazer previsões. No entanto não é necessário grande esforço. Todos nós transportamos um pouco do passado, algum presente e mais um pouco desse futuro. Um pouco que é aquilo que nós pensamos ser a nossa contribuição para esse futuro. Fazer a antevisão, a previsão, integra-se no esforço mais vasto de actualização que nós vamos fazendo, em parte conscientemente, em parte de forma inconsciente, mas decerto já informado pelos nossos conhecimentos anteriores.
Assim a probabilidade de nos enganarmos é igual ao enviesamento com que nós estamos a ver e a viver o presente e à forma menos acertada com que abordamos o passado. Há porém um facto que nos levará a pensar de modo um pouco diferente. É que se nós tudo fazemos para aprender, se a maioria de nós procura estar melhor preparada, é normal que vejamos o futuro com mais saber do que aquele com que o víamos quando o nosso passado ainda era futuro.
Vendo as coisas somente em termos de melhoria ou pioria somos levados a integrar nas nossas previsões o factor exterior a nós, a mudança que é esperada no comportamento dos outros e consequentemente nas instituições com pequenos e grandes poderes que proliferam no mundo e mesmo à nossa volta e que têm procedimentos controversos. A nossa esperança será sempre que haja melhoria dessa parte, independentemente dos motivos com que alimentamos tal expectativa.
Tenho para mim que esta é uma atitude saudável, que em nada fere o realismo com que devemos procurar estar no palco da vida. Esta atitude constitui uma barreira às ideias que se lançam sobre os outros com todo o género de suspeitas. A ideia de que, se nós nos preparamos melhor para um futuro mais auspicioso, há sempre quem com mais força se vá preparando para nos tramar despudoradamente nesse tempo, poderá ter fundamento em alguns sinais, mas não é ideia que se alimente para bem da nossa saúde mental. Ter esperança é tão só não aceitar o ataque sistemático e aniquilador dessa esperança.
É bom que nós saibamos e que tenhamos até alguma experiência dos sentimentos, mesmo dos que não devemos cultivar. Aliás só assim o poderemos decidir por opção própria. Não podemos ser ingénuos ao ponto de acreditar em qualquer fundamentação que nos queiram dar para defender pontos de vista sobre o futuro que nós não temos maneira de aferir. Os discursos moralistas são no geral vazios na convicção que quem os profere tem de que não precisa de encontrar provas porque já é o dono da plena razão. Mesmo que os moralistas sejam acompanhados por uma imensidão de gente que proclame o pessimismo, tal não nos convence a nós.
A nossa esperança tem que ser uma atitude da base, como tal susceptível de ser confirmada ou de nos provocar uma desilusão imensa. Ter esperança é estar preparado para a celebrar, mas também para conviver com a decepção que a realidade nos possa vir a provocar. A esperança fortalece a nossa posição moral porque confirma que se o futuro não vier a ser aquilo que nós queremos que seja, não será decerto por nossa culpa. Depois desta posição de base só nos falta vir a confirmar, pelo nosso parco contributo e essencialmente por uma atitude geral, o que dizemos.
Tendo cada um de nós uma antevisão sempre actualizada do futuro, há momentos em que nos debruçamos mais incisivamente sobre ele, em que fazemos uma reflexão mais profunda, em que procedemos a uma consolidação mais consciente da nossas dúvidas e certezas, dos terrenos em que somos mais indecisos e daqueles em que somos destemidos. Um desses momentos, aquele em que há uma reflexão mais abrangente e mais acentuadamente colectiva sobre o futuro é esta época de Fim de Ano.
Quem tem projectos muito específicos para o Ano que entra faz normalmente um cálculo dos proventos financeiros que poderá obter para os poder satisfazer. Não pondo em cauda a legitimidade deste procedimento não concordo fundamentalmente com dois dos seus aspectos. Um é a especificidade. É de todo mais saudável que se invista numa maior diversidade de projectos e não numa só variedade. Depois é o preço. Não é de todos fiável que avaliemos o mérito dos projectos possíveis a que nos podemos dedicar pelo seu custo. Gastar muito dinheiro, e a correspondente ganância em o obter, podem não ser sinal de bom senso.
Este Ano coloca-se-nos um problema mais complicado. Há uma crise que vem de há uns oito anos e que se terá acentuado há uns cinco, uma outra crise mais grave que surgiu há dois anos e que terá revelado a sua verdadeira expressão há seis meses. Tantas crises sucessivas tiveram o mérito de nos ir preparando para aquilo que os mais avisados já tinham previsto há mais de quinze anos. Não podíamos continuar a viver indefinidamente acima das nossas possibilidades.
Nunca como hoje se soube tão bem o que vai acontecer no futuro sem que consultemos os astros. Para suavizar um pouco o ambiente só nos resta pedir complacência a Santa Ângela Merkel. Ninguém nos safará de que o grosso das medidas que estão a ser adoptadas nos vá cair em cima. Afinal já todos só desejamos que haja justiça, porque aqui vale mesmo a afirmação de que se formos todos a aguentar, se o peso se distribuir por todos será menor. Já que não há igualdade na fartura, ao menos que não haja desigualdade na penúria.
Assim a probabilidade de nos enganarmos é igual ao enviesamento com que nós estamos a ver e a viver o presente e à forma menos acertada com que abordamos o passado. Há porém um facto que nos levará a pensar de modo um pouco diferente. É que se nós tudo fazemos para aprender, se a maioria de nós procura estar melhor preparada, é normal que vejamos o futuro com mais saber do que aquele com que o víamos quando o nosso passado ainda era futuro.
Vendo as coisas somente em termos de melhoria ou pioria somos levados a integrar nas nossas previsões o factor exterior a nós, a mudança que é esperada no comportamento dos outros e consequentemente nas instituições com pequenos e grandes poderes que proliferam no mundo e mesmo à nossa volta e que têm procedimentos controversos. A nossa esperança será sempre que haja melhoria dessa parte, independentemente dos motivos com que alimentamos tal expectativa.
Tenho para mim que esta é uma atitude saudável, que em nada fere o realismo com que devemos procurar estar no palco da vida. Esta atitude constitui uma barreira às ideias que se lançam sobre os outros com todo o género de suspeitas. A ideia de que, se nós nos preparamos melhor para um futuro mais auspicioso, há sempre quem com mais força se vá preparando para nos tramar despudoradamente nesse tempo, poderá ter fundamento em alguns sinais, mas não é ideia que se alimente para bem da nossa saúde mental. Ter esperança é tão só não aceitar o ataque sistemático e aniquilador dessa esperança.
É bom que nós saibamos e que tenhamos até alguma experiência dos sentimentos, mesmo dos que não devemos cultivar. Aliás só assim o poderemos decidir por opção própria. Não podemos ser ingénuos ao ponto de acreditar em qualquer fundamentação que nos queiram dar para defender pontos de vista sobre o futuro que nós não temos maneira de aferir. Os discursos moralistas são no geral vazios na convicção que quem os profere tem de que não precisa de encontrar provas porque já é o dono da plena razão. Mesmo que os moralistas sejam acompanhados por uma imensidão de gente que proclame o pessimismo, tal não nos convence a nós.
A nossa esperança tem que ser uma atitude da base, como tal susceptível de ser confirmada ou de nos provocar uma desilusão imensa. Ter esperança é estar preparado para a celebrar, mas também para conviver com a decepção que a realidade nos possa vir a provocar. A esperança fortalece a nossa posição moral porque confirma que se o futuro não vier a ser aquilo que nós queremos que seja, não será decerto por nossa culpa. Depois desta posição de base só nos falta vir a confirmar, pelo nosso parco contributo e essencialmente por uma atitude geral, o que dizemos.
Tendo cada um de nós uma antevisão sempre actualizada do futuro, há momentos em que nos debruçamos mais incisivamente sobre ele, em que fazemos uma reflexão mais profunda, em que procedemos a uma consolidação mais consciente da nossas dúvidas e certezas, dos terrenos em que somos mais indecisos e daqueles em que somos destemidos. Um desses momentos, aquele em que há uma reflexão mais abrangente e mais acentuadamente colectiva sobre o futuro é esta época de Fim de Ano.
Quem tem projectos muito específicos para o Ano que entra faz normalmente um cálculo dos proventos financeiros que poderá obter para os poder satisfazer. Não pondo em cauda a legitimidade deste procedimento não concordo fundamentalmente com dois dos seus aspectos. Um é a especificidade. É de todo mais saudável que se invista numa maior diversidade de projectos e não numa só variedade. Depois é o preço. Não é de todos fiável que avaliemos o mérito dos projectos possíveis a que nos podemos dedicar pelo seu custo. Gastar muito dinheiro, e a correspondente ganância em o obter, podem não ser sinal de bom senso.
Este Ano coloca-se-nos um problema mais complicado. Há uma crise que vem de há uns oito anos e que se terá acentuado há uns cinco, uma outra crise mais grave que surgiu há dois anos e que terá revelado a sua verdadeira expressão há seis meses. Tantas crises sucessivas tiveram o mérito de nos ir preparando para aquilo que os mais avisados já tinham previsto há mais de quinze anos. Não podíamos continuar a viver indefinidamente acima das nossas possibilidades.
Nunca como hoje se soube tão bem o que vai acontecer no futuro sem que consultemos os astros. Para suavizar um pouco o ambiente só nos resta pedir complacência a Santa Ângela Merkel. Ninguém nos safará de que o grosso das medidas que estão a ser adoptadas nos vá cair em cima. Afinal já todos só desejamos que haja justiça, porque aqui vale mesmo a afirmação de que se formos todos a aguentar, se o peso se distribuir por todos será menor. Já que não há igualdade na fartura, ao menos que não haja desigualdade na penúria.
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