Culpa da comunicação social, importância efectiva, efeito acumulado do nosso percurso colectivo e da sua confrontação com o mundo global, pouco importa ao caso, a verdade é que a política assume hoje um papel quase obsessivo, papel que é preponderante em muitos meios sociais, é mesmo saturante, levando ao desconforto e ao tédio. Há quem crie expectativas excessivas em relação ao papel da política para ser maior a insatisfação. Prometerem-nos sermos um povo superior e põem-nos a rastejar.
O problema é que todos os efeitos não estão isentos de causas, há sempre quem aponte motivos que hipoteticamente teriam levado a uma dada situação e espera ganhar só por esse facto. Mesmo quando se não consegue convencer ninguém, a simples indiferença que se possa criar vai decerto beneficiar alguém. Por esta razão em política se pensa sempre em ganho ou perca que pode resultar de um facto, de um conflito, de uma intervenção.
A questão da indiferença é hoje só por si motivo de muita preocupação. Quando se pensa que a indiferença pode resultar de um excesso de conflitualidade política pode-se também concluir que há falta de um apelo forte e expressivo para recuperar velhos propósitos. Só que a expectativa de um apelo destes não pode ser acrítica em relação à sua natureza. É este facto que nos faz estar mais descansados sobre as capacidades da população para decidir num processo democrático. É melhor conformarmo-nos sem nos penalizarmos em excesso.
Independentemente da nossa maior ou menor participação política é bom que a política nos toque. Ninguém deve poder dizer que é por cobardia que estamos calados, quietos e surdos. Do mesmo modo também não podemos ser acusados de ambição de protagonismo pelo simples facto de intervir. Noutra perspectiva se é bom não estarmos alheados, também será óptimo que não nos deixemos arrastar por apelos demagógicos.
Que podemos estão nós fazer para sentir o interesse da política sem sermos submergidos pela catadupa de fogo cruzado que a toda a hora se dispara em todas as frentes? Se somos demasiado passivos não estamos preparados para intervir, sequer quando virmos os nossos interesses atingidos, só porque aí é mais natural a nossa reacção, quanto mais quando o País precisar da nossa intervenção efectiva, o que seria sempre bom que não fosse necessário.
Se somos demasiado activos podemos empenhar-nos em causas que, arrastando também outros, nos colocam em confronto de interesses com eles e ficamos na dúvida de quais devemos defender, isto é, qual dos interesses deve prevalecer. Por esta razão os políticos se esforçam por estabelecer e tentar convencer os outros da existência de um interesse colectivo ao qual nos devemos conformar e fazer dele a justificação para as nossas opções.
Partindo do princípio de que se pode estabelecer esse interesse colectivo para muitas vozes só fica a escolha de quem melhor o representará. É a velha discussão sobre nomes, aqui e ali ponteada com hipotéticas valores que uns e outros representarão, uns pretensamente validados, outros não. As máquinas de propaganda nisto se empenharão, na adequação dos valores e das figuras ao que se consegue pôr em confronto numa específica ocasião.
Toda a discussão que passa por nomes é profundamente redutora, mas efectivamente, perante a ignorância que muitas pessoas reconhecem ter da política, continua a ser o factor mais preponderante. Também a informação em geral perdeu as ilusões de ser formadora e enveredou por este caminho muito mais fácil e que pode assumir contornos mais picantes, mais atractivos para o perfil pecaminoso das personalidades dominantes.
Também o perfil das pessoas que ocupam o campo mediático nos dirá algo sobre os caminhos que a política segue a cada momento. O facto de hoje esse palco estar a ser reocupado por homens do direito só nos revela a falência dos homens da economia em dirigir a sociedade. Enquanto os homens da economia não repensarem e reescreverem a sua intervenção política teremos toda a espécie de verbalistas a ocupar o campo mediático. Destacar-se-ão, pela sua capacidade de manipulação entre a verdade nas suas várias vertentes e a mentira nas suas várias roupagens, os homens do direito.
Do que poucos se terão apercebido é que esta crise pôs a descoberto que o poder já não possui recursos para lhe fazer frente, nem sequer para sustentar o seu manto diáfano. Os políticos ainda se arrogam o poder de serem actores de papéis grandiosos, mas que já não pertencem aos enredos de hoje. Perdido muito do poder soberano, os papéis políticos tem que ser reescritos. Qualquer demagogo é hoje mais caricato do que o seria há trinta anos porque hoje nunca terá o poder de então. A Europa levou-o.
Sejam da direita ou da esquerda os políticos não querem reconhecer a sua pouca valia. Não procuram papéis para o domínio em que os possam desempenhar a contento. O esquerdista é um gigantone com pés de chumbo, não tem mobilidade, enrodilha-se em velhos princípios, faz luta de classes sem classes, empastela-se na verborreia clássica já sem sentido. O direitista ainda pretende ser o que se reporta em retratos doutros tempos, mas não pode ser senão um rei sem trono, um comandante sem tropas, um pregador sem Evangelho.
Hoje os centros de decisão já não fazem de nós senão receptores da sua vontade. Perdemos o poder e não sabemos sequer para onde ele foi. Teríamos que pensar mais vasto e longínquo e só nos dão o papel de jardineiros neste canto da Europa. Incrivelmente o problema de hoje não é o de saber, mas de papel. Nem se trata de substituir pessoas, mas pô-las a desempenhar papéis reais. Que fazer?
Aos pensadores será dado pensar e aos políticos deixarem-se de assumir papéis caricatos de tiranetes de pacotilha que se afirmem capazes de pôr tudo em ordem em pouco tempo. Os políticos não serão mais respeitados enquanto não vestirem uma roupagem apropriada ao papel mais modesto que hoje podem desempenhar. Sejam de direita ou esquerda, enquanto o povo acha despropositada a distância entre vestimenta e função, rir-se-á do seu ridículo. Uns mais ridículos que outros, é certo.
O problema é que todos os efeitos não estão isentos de causas, há sempre quem aponte motivos que hipoteticamente teriam levado a uma dada situação e espera ganhar só por esse facto. Mesmo quando se não consegue convencer ninguém, a simples indiferença que se possa criar vai decerto beneficiar alguém. Por esta razão em política se pensa sempre em ganho ou perca que pode resultar de um facto, de um conflito, de uma intervenção.
A questão da indiferença é hoje só por si motivo de muita preocupação. Quando se pensa que a indiferença pode resultar de um excesso de conflitualidade política pode-se também concluir que há falta de um apelo forte e expressivo para recuperar velhos propósitos. Só que a expectativa de um apelo destes não pode ser acrítica em relação à sua natureza. É este facto que nos faz estar mais descansados sobre as capacidades da população para decidir num processo democrático. É melhor conformarmo-nos sem nos penalizarmos em excesso.
Independentemente da nossa maior ou menor participação política é bom que a política nos toque. Ninguém deve poder dizer que é por cobardia que estamos calados, quietos e surdos. Do mesmo modo também não podemos ser acusados de ambição de protagonismo pelo simples facto de intervir. Noutra perspectiva se é bom não estarmos alheados, também será óptimo que não nos deixemos arrastar por apelos demagógicos.
Que podemos estão nós fazer para sentir o interesse da política sem sermos submergidos pela catadupa de fogo cruzado que a toda a hora se dispara em todas as frentes? Se somos demasiado passivos não estamos preparados para intervir, sequer quando virmos os nossos interesses atingidos, só porque aí é mais natural a nossa reacção, quanto mais quando o País precisar da nossa intervenção efectiva, o que seria sempre bom que não fosse necessário.
Se somos demasiado activos podemos empenhar-nos em causas que, arrastando também outros, nos colocam em confronto de interesses com eles e ficamos na dúvida de quais devemos defender, isto é, qual dos interesses deve prevalecer. Por esta razão os políticos se esforçam por estabelecer e tentar convencer os outros da existência de um interesse colectivo ao qual nos devemos conformar e fazer dele a justificação para as nossas opções.
Partindo do princípio de que se pode estabelecer esse interesse colectivo para muitas vozes só fica a escolha de quem melhor o representará. É a velha discussão sobre nomes, aqui e ali ponteada com hipotéticas valores que uns e outros representarão, uns pretensamente validados, outros não. As máquinas de propaganda nisto se empenharão, na adequação dos valores e das figuras ao que se consegue pôr em confronto numa específica ocasião.
Toda a discussão que passa por nomes é profundamente redutora, mas efectivamente, perante a ignorância que muitas pessoas reconhecem ter da política, continua a ser o factor mais preponderante. Também a informação em geral perdeu as ilusões de ser formadora e enveredou por este caminho muito mais fácil e que pode assumir contornos mais picantes, mais atractivos para o perfil pecaminoso das personalidades dominantes.
Também o perfil das pessoas que ocupam o campo mediático nos dirá algo sobre os caminhos que a política segue a cada momento. O facto de hoje esse palco estar a ser reocupado por homens do direito só nos revela a falência dos homens da economia em dirigir a sociedade. Enquanto os homens da economia não repensarem e reescreverem a sua intervenção política teremos toda a espécie de verbalistas a ocupar o campo mediático. Destacar-se-ão, pela sua capacidade de manipulação entre a verdade nas suas várias vertentes e a mentira nas suas várias roupagens, os homens do direito.
Do que poucos se terão apercebido é que esta crise pôs a descoberto que o poder já não possui recursos para lhe fazer frente, nem sequer para sustentar o seu manto diáfano. Os políticos ainda se arrogam o poder de serem actores de papéis grandiosos, mas que já não pertencem aos enredos de hoje. Perdido muito do poder soberano, os papéis políticos tem que ser reescritos. Qualquer demagogo é hoje mais caricato do que o seria há trinta anos porque hoje nunca terá o poder de então. A Europa levou-o.
Sejam da direita ou da esquerda os políticos não querem reconhecer a sua pouca valia. Não procuram papéis para o domínio em que os possam desempenhar a contento. O esquerdista é um gigantone com pés de chumbo, não tem mobilidade, enrodilha-se em velhos princípios, faz luta de classes sem classes, empastela-se na verborreia clássica já sem sentido. O direitista ainda pretende ser o que se reporta em retratos doutros tempos, mas não pode ser senão um rei sem trono, um comandante sem tropas, um pregador sem Evangelho.
Hoje os centros de decisão já não fazem de nós senão receptores da sua vontade. Perdemos o poder e não sabemos sequer para onde ele foi. Teríamos que pensar mais vasto e longínquo e só nos dão o papel de jardineiros neste canto da Europa. Incrivelmente o problema de hoje não é o de saber, mas de papel. Nem se trata de substituir pessoas, mas pô-las a desempenhar papéis reais. Que fazer?
Aos pensadores será dado pensar e aos políticos deixarem-se de assumir papéis caricatos de tiranetes de pacotilha que se afirmem capazes de pôr tudo em ordem em pouco tempo. Os políticos não serão mais respeitados enquanto não vestirem uma roupagem apropriada ao papel mais modesto que hoje podem desempenhar. Sejam de direita ou esquerda, enquanto o povo acha despropositada a distância entre vestimenta e função, rir-se-á do seu ridículo. Uns mais ridículos que outros, é certo.