O cinismo social recorre a muitos princípios para se justificar e, claro, usa-os cinicamente. Há muitas pessoas que têm um comportamento normal em muitos aspectos da sua vida, mas agem cinicamente num ou em alguns. A pessoa experimentada prepara-se para não ser surpreendida, mas quase sempre o é porque é da natureza do cinismo ser tão bem disfarçado que é imprevisível.
O cinismo descobre-se muito no jogo, mas também em todos os aspectos da vida que as pessoas consideram como tal e em especial na política convertida assim num jogo de sorte e azar. O cinismo não é uma particularidade dos poderosos, mas sim daqueles que, à sua medida, se consideram como tal. Mas para todos os efeitos, pelo mediatismo que o comportamento dos políticos assume, será suficiente que nos debrucemos sobre o particular cinismo destes.
Para o político a primeira nota é negar que o cinismo exista em si e a segunda é negar igualmente que a sua actividade tenha alguma coisa a ver com um jogo. Mas a verdade é que por mais sublimes que sejam os seus princípios, por mais alheados que queiram ser do que se passa no dia a dia, os políticos não podem andar sempre só por aí e alguma vez mergulham nessa estranha vida de batalhas permanentes em que o seu carácter é posto em causa.
Para o cínico tudo é permitido desde que não ultrapasse o limite daquilo que se entende por razoável. Dir-se-á que afinal toda a gente assim pensa, mas não é verdade. Só o cínico consegue andar naqueles limites, não do que é legal, não do que é legítimo, mas sim daquilo que na sua opinião é razoável ser feito, seja qual for a natureza do acto que possamos ter em vista.
O cínico não convive bem com a arbitrariedade, necessita que haja uma legalidade para os mais fracos, uma legitimidade para os medíocres e uma razoabilidade para os fortes. O cínico está preparado para jogar com os mais fortes dos seus pares e para confiar no julgamento social. O cínico não é um marginal embora a fronteira entre o razoável e o marginal seja muitas vezes controversa.
O cínico acredita sempre ter armas mais poderosas do que os seus adversários e em saber usá-las nos momentos adequados. O cínico sabe que pode usar alguns truques, uns golpes baixos mesmo, muita simulação e uma imensa falta de vergonha. São armas que também não são estranhas aos seus pares. Já se os fracos e os medíocres se atrevem a medir forças com ele, o cínico nem puxa de todo o seu arsenal, aí dá um ar de superioridade e desdém
O cínico também sabe que os seus pares vão ganhando uma tolerância ao despropósito, à provocação, ao embuste. A antecipação e a surpresa são quase sempre as armas mais eficazes. O cínico sabe que entre vitória e derrota a margem é pequena e a diferença pode estar no momento de terminar o jogo. A arbitragem pode ser decisiva mas, caso não exista, terá que ser ele a ter artes para acabar o jogo abruptamente, levá-lo para um beco sem saída, reduzir o jogo a uma simples escolha entre o “Sim” e o “Não”.
O cínico atropela todas as regras, invoca o singular para provar o geral e invoca o geral para desculpabilizar o singular. Para o cínico cada vez é menor a distância entre a verdade, a meia verdade e a mentira. O cínico recorre á mentira se vê que os outros jogadores têm dificuldade em puxar de mais argumentos que defendam a verdade. O cínico insiste mesmo nas pias mentiras, tidas por verdades até certo momento, que agora já são mentiras provadas mas que ele acha poder reafirmar como “verdades” que não prejudicam alguém.
No confronto o cínico entende que se deve aplicar o princípio da proporcionalidade, ninguém deve reagir excedendo de modo grosseiro a força do ataque de que tenha sido alvo. Então quando ataca tenta suavizar os aspectos mais gravosos, mas de modo a que o ataque seja suficientemente provocatório para que a reacção seja entendida por excessiva e portanto reprovável. Já quando se defende tenta provar que o adversário ultrapassou os limites do razoável de maneira que o julgamento social o beneficie.
Para o cínico tudo se passa a nível de uma dialéctica verbal em que a semelhança com a realidade é pura coincidência. Para o cínico o mais importante é o julgamento social e portanto procura influenciar este, manipulando directamente os agentes da comunicação social, mas também jogando com as oportunidades, gerando silêncios e dramatizações, agrupando alianças tácticas e conjunturais, simulando a comunhão de sentimentos alheios.
O cínico movimenta-se bem na oralidade, dispensando a escrita sempre que pode. O cínico sabe que a sonoridade e a expressão são decisivas na comunicação e podem transmitir uma forma de atractividade ou repulsa que na escrita se não consegue fazer transparecer facilmente. Além disso a escrita tem a solidez que lhe não agrada, tem exigências de pormenor que na economia do seu tempo não tem lugar, tem mais probabilidades de chegar a lugares e a tempos incómodos para si.
O cínico distribui sorrisos por aliados e adversários, sem deixar de buscar um ambiente ameno para o confronto, é implacável neste, quando se não tem que confrontar ou simplesmente enfrentar alguém procura o maior distanciamento possível, podendo simular uma proximidade que dispensa. O cínico tem aversão ao tempo perdido e todo o contacto sem propósito definido não faz sentido para si.
Ao cínico interessa acima de tudo o efeito imediato, a sensação provocada no instante, mas também o acréscimo de aura que possa produzir. Do seu gosto pelo poder quando o detém resulta o seu desdém por ele quando ele não é seu. Na sua opinião só ele dá brilho ao poder, o torna suportável pelos outros. Quando o não detém considera-o intolerável. Ataca-o por todas as frentes, por estar demasiado presente e demasiado ausente, por ser brando e por ser excessivo, por ser demasiado formal e por ser inseguro.
O cínico tem uma relação fácil com o poder. Procura que este se desenvolva só o necessário para si, nesse sentido é um bom par. O problema é que quer que o poder seja amoldado à sua idiossincrasia. Todos nós gostaríamos de ter algum poder e influenciar o restante. É isso que nós admiramos e cobiçamos nos políticos porque adquirem algum poder, exercem-no a propósito e despropositadamente e influenciam outros legítima e desonestamente. O cínico dificulta a nossa relação com o poder para que tudo passe por ele.
O cinismo descobre-se muito no jogo, mas também em todos os aspectos da vida que as pessoas consideram como tal e em especial na política convertida assim num jogo de sorte e azar. O cinismo não é uma particularidade dos poderosos, mas sim daqueles que, à sua medida, se consideram como tal. Mas para todos os efeitos, pelo mediatismo que o comportamento dos políticos assume, será suficiente que nos debrucemos sobre o particular cinismo destes.
Para o político a primeira nota é negar que o cinismo exista em si e a segunda é negar igualmente que a sua actividade tenha alguma coisa a ver com um jogo. Mas a verdade é que por mais sublimes que sejam os seus princípios, por mais alheados que queiram ser do que se passa no dia a dia, os políticos não podem andar sempre só por aí e alguma vez mergulham nessa estranha vida de batalhas permanentes em que o seu carácter é posto em causa.
Para o cínico tudo é permitido desde que não ultrapasse o limite daquilo que se entende por razoável. Dir-se-á que afinal toda a gente assim pensa, mas não é verdade. Só o cínico consegue andar naqueles limites, não do que é legal, não do que é legítimo, mas sim daquilo que na sua opinião é razoável ser feito, seja qual for a natureza do acto que possamos ter em vista.
O cínico não convive bem com a arbitrariedade, necessita que haja uma legalidade para os mais fracos, uma legitimidade para os medíocres e uma razoabilidade para os fortes. O cínico está preparado para jogar com os mais fortes dos seus pares e para confiar no julgamento social. O cínico não é um marginal embora a fronteira entre o razoável e o marginal seja muitas vezes controversa.
O cínico acredita sempre ter armas mais poderosas do que os seus adversários e em saber usá-las nos momentos adequados. O cínico sabe que pode usar alguns truques, uns golpes baixos mesmo, muita simulação e uma imensa falta de vergonha. São armas que também não são estranhas aos seus pares. Já se os fracos e os medíocres se atrevem a medir forças com ele, o cínico nem puxa de todo o seu arsenal, aí dá um ar de superioridade e desdém
O cínico também sabe que os seus pares vão ganhando uma tolerância ao despropósito, à provocação, ao embuste. A antecipação e a surpresa são quase sempre as armas mais eficazes. O cínico sabe que entre vitória e derrota a margem é pequena e a diferença pode estar no momento de terminar o jogo. A arbitragem pode ser decisiva mas, caso não exista, terá que ser ele a ter artes para acabar o jogo abruptamente, levá-lo para um beco sem saída, reduzir o jogo a uma simples escolha entre o “Sim” e o “Não”.
O cínico atropela todas as regras, invoca o singular para provar o geral e invoca o geral para desculpabilizar o singular. Para o cínico cada vez é menor a distância entre a verdade, a meia verdade e a mentira. O cínico recorre á mentira se vê que os outros jogadores têm dificuldade em puxar de mais argumentos que defendam a verdade. O cínico insiste mesmo nas pias mentiras, tidas por verdades até certo momento, que agora já são mentiras provadas mas que ele acha poder reafirmar como “verdades” que não prejudicam alguém.
No confronto o cínico entende que se deve aplicar o princípio da proporcionalidade, ninguém deve reagir excedendo de modo grosseiro a força do ataque de que tenha sido alvo. Então quando ataca tenta suavizar os aspectos mais gravosos, mas de modo a que o ataque seja suficientemente provocatório para que a reacção seja entendida por excessiva e portanto reprovável. Já quando se defende tenta provar que o adversário ultrapassou os limites do razoável de maneira que o julgamento social o beneficie.
Para o cínico tudo se passa a nível de uma dialéctica verbal em que a semelhança com a realidade é pura coincidência. Para o cínico o mais importante é o julgamento social e portanto procura influenciar este, manipulando directamente os agentes da comunicação social, mas também jogando com as oportunidades, gerando silêncios e dramatizações, agrupando alianças tácticas e conjunturais, simulando a comunhão de sentimentos alheios.
O cínico movimenta-se bem na oralidade, dispensando a escrita sempre que pode. O cínico sabe que a sonoridade e a expressão são decisivas na comunicação e podem transmitir uma forma de atractividade ou repulsa que na escrita se não consegue fazer transparecer facilmente. Além disso a escrita tem a solidez que lhe não agrada, tem exigências de pormenor que na economia do seu tempo não tem lugar, tem mais probabilidades de chegar a lugares e a tempos incómodos para si.
O cínico distribui sorrisos por aliados e adversários, sem deixar de buscar um ambiente ameno para o confronto, é implacável neste, quando se não tem que confrontar ou simplesmente enfrentar alguém procura o maior distanciamento possível, podendo simular uma proximidade que dispensa. O cínico tem aversão ao tempo perdido e todo o contacto sem propósito definido não faz sentido para si.
Ao cínico interessa acima de tudo o efeito imediato, a sensação provocada no instante, mas também o acréscimo de aura que possa produzir. Do seu gosto pelo poder quando o detém resulta o seu desdém por ele quando ele não é seu. Na sua opinião só ele dá brilho ao poder, o torna suportável pelos outros. Quando o não detém considera-o intolerável. Ataca-o por todas as frentes, por estar demasiado presente e demasiado ausente, por ser brando e por ser excessivo, por ser demasiado formal e por ser inseguro.
O cínico tem uma relação fácil com o poder. Procura que este se desenvolva só o necessário para si, nesse sentido é um bom par. O problema é que quer que o poder seja amoldado à sua idiossincrasia. Todos nós gostaríamos de ter algum poder e influenciar o restante. É isso que nós admiramos e cobiçamos nos políticos porque adquirem algum poder, exercem-no a propósito e despropositadamente e influenciam outros legítima e desonestamente. O cínico dificulta a nossa relação com o poder para que tudo passe por ele.
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