sexta-feira, 26 de novembro de 2010

A cópia que nos envergonha

A meritória iniciativa do “Jornal Alpiarcense” de abertura das suas páginas a colaborações com “textos exclusivos” terá começado da pior maneira. Debitar textos parece ser obrigação dos políticos e dos candidatos a tais, porque na verdade anda aí imensa gente de que se não conhecem as ideias. É bom que a Imprensa Regional também publique textos políticos, o problema estará sempre na originalidade, que talvez seja mais necessária nesta Imprensa do que na que tem carácter Nacional.
A escrita é a melhor forma de apurar uma linha de pensamento para políticos e não políticos. Na minha perspectiva é louvável, mas também profundamente saudável escrever, escrever para iluminar o nosso caminho e, se formos capazes disso, de iluminar o caminho dos outros. Parto do princípio de que, se eu souber por onde vou, os outros poderão ganhar algo com isso. Infelizmente sabemos que não é bem isto com que os políticos se preocupam, raramente caminham do pensamento para a acção.
Os políticos seguem antes e preferencialmente o caminho inverso. Partem das necessidades da acção para o pensamento, isto é, procuram justificações da sua acção em argumentos bebidos na realidade de hoje. Vendo a realidade nesta perspectiva, digamos que defensiva, a ninguém se pode impor que produza uma argumentação original que tenha pensamento inéditos, que não copie aqui e ali frases que já foram proferidas por outras pessoas no contexto ou em contextos similares.
Porém não é admissível que alguém, para dar forma a um texto pretensamente inédito e até exclusivo, copie parágrafos completos de três eminentes pensadores públicos, Cardeal José Policarpo, Adriano Moreira e Jornalista Teresa de Sousa, sem os citar expressamente. Tal abuso revelado pelo Jornal de Notícias em 18 de Novembro de 2010 e ainda não justificado pela sua autora Teresa Freitas, é mais grave ainda porque no texto em causa são plágio o titulo e nove dos seus dez parágrafos. Para salvar o carácter original temos somente o arranjo e o parágrafo final.
A autora terá o mérito de se ter esforçado por tirar conclusões de uma amálgama de excertos colados ao desbarato, sem um fio condutor. Mas não é isso que se impõe nestes tempos difíceis, não chega dar sinais de vida, dizer que se está presente e atento à opinião dos outros. Em relação aos políticos, e é de uma política que se trata, tem que se exigir muito mais. Não chegava fazer aquilo que a Senhora fez, juntar num puzzle afirmações avulsas, mesmo que as tivesse identificado, como era devido. É necessário que se dê consistência às nossas próprias opiniões, para sermos nós a responder por elas.
Escrever por obrigação é decerto uma violência a que se não deve submeter ninguém, sob pena destes resultados. Mesmo um convite para escrever pode ser uma forma de coação sobre alguém. Por seu lado uma recusa de publicação podia ser mal interpretada. A culpa será em última instância da Escola, é aí que ainda é possível esticar as orelhas a alguém. Porém a Escola demite-se da sua função de ensinar a escrever porque infelizmente a maioria dos professores nem sequer está em condições de exigir tal tarefa a eles mesmos.
Reconheço que exagerei na última afirmação. Mas como todos nós nos sentimos bem a distribuir culpas, é a culpa que nos realiza, deixei ficar esta no texto e vamos lá dar também muitas culpas ao aparelho educativo que vai sobrevivendo Ministério após Ministério. As pessoas gostam que nós nos refiramos a estas Entidades um pouco abstractas, mesmo que saibamos bem que quem as constitui são pessoas concretas e que, pelo menos é o que se presume, tenham tarefas concretas a desempenhar.
Não vou dar aqui uma qualquer solução para o problema, o melhor é deixar a culpa solteira. Há areia dentro da máquina, quem a vai lançando e a quem interessa que ela esteja sempre emperrada fica para outra abordagem. Há alguém, não sei quem, que não se preocupa minimamente em que os alunos venham a sair da Escola sem saberem utilizar a escrita como o instrumento mais eficaz para nos ajudar, não só a memorizar, mas essencialmente a aferir a qualidade do nosso pensamento.
A boa escrita sob o ponto de vista formal será uma parte do caminho que é necessário percorrer para nos pôr a transmitir correctamente as nossas ideias, mas também para nos entendermos correctamente connosco mesmos. Porém também é necessário percorrer o resto do caminho sob pena se estarmos a construir um edifício intelectual estéril, bom para nos auto-justificarmos, mas incapaz de nos permitir respirar fora dos contextos que nós somos pródigos a construir no mundo imaginário com que sempre nos cercamos.
Temos que desconfiar da escrita que sobrevoa a realidade, sendo que não são a referências a casos concretos, tão do agrado de certos políticos, que tornam o discurso mais credível. Também não nos podemos convencer que são as trivialidades que nos permitem que comuniquemos com os outros e que consigamos assim manter uma leitura plausível da realidade. Esta é demasiado dura para os instrumentos mentais com que dotamos a nossa juventude. A tarefa da Escola só pode ser esta: de dotar o intelecto de métodos sérios de trabalho, não permitindo que nos andemos a copiar uns aos outros. A pedra parte-se na Escola. Não podemos utilizar a Escola só para aprender a copiar.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Ideias novas para velhos problemas

“Ideias precisam-se”, proclamou há pouco tempo um partido político para que alguém contribuísse com o seu trabalho intelectual para ajudar a colmatar o buraco de quinhentos milhões de euros que provocou no orçamento de Estado. Nós já estamos habituados a que o Governo reclamasse ideias à Oposição e que esta as exigisse do Governo. Mas um apelo assim aos anónimos fregueses desta Pátria já aflita com tantos outros problemas é inédito.
Pegando a moda vai passar a solicitar-se à população em geral ideias para tudo, seja para pagar dívidas, seja para aumentar as exportações, seja para produzir bens que substituam os produtos importados. Até se pedem ideias para resolver o problema geral da economia e por arrasto das finanças públicas. Ter-se-á inventado uma nova forma de democracia directa? Estaremos nós dispostos a fornecer aos políticos ideias que deveriam ser eles a procurar? E em muitos casos não estarão os políticos em imiscuir-se em assuntos foram da sua esfera de influência?
Não falta hoje quem proclame a falta de ideias. Parece que basta dizer isto para que passemos perante os outros como pessoas inteligentes. Pois eu acho que não revela inteligência quem faz esse tipo de afirmações, nem quem debita ideias em catadupa, sem se preocupar com a sua exequibilidade. Há ideias de sobra, umas válidas, mas a que não temos acesso, porque não temos que o ter ou não estão suficientemente maduras e também outras menos válidas, que não terão a estrutura necessário para que sejam ideias passíveis de pôr em prática. A produção desenfreada de ideias sem regras, sem objectivo e destino definidos, só lança a confusão.
Estamos num mundo em que tudo tem uma valor monetário e as pessoas capazes de ter ideias novas neste domínio da economia sabem-no antes de quaisquer outras. Quem tem ideias nos domínios em que podem ser esperados dividendos reserva-as para os momentos próprios. Pagou-se há uns anos ao americano Porter uma fortuna para que ele descobrisse aí uns clusters e que se saiba ele não achou coisa que se veja. Seria caso para perguntar se também, estando nós neste mundo em que as ideias se pagam, os partidos políticos terão dinheiro para o fazer?
Se estiverem no poder ainda poderão arranjar para aí um tacho, mas acho que não o farão para pessoas que dêem ideias na praça pública ou na comunicação social, que tal daria muito nas vistas. Esses tachos devem estar reservados para outro tipo de gente, mais calada e experiente, que saiba onde põem os pés. Mas haverá sempre quem queira dar um ar da sua graça e vá deitando para aí umas ideias de borla. Não sei se tais pessoas se valem do seu sentido de humor ou se estarão a falar a sério, mas pelo ar de alguns até parece que o fazem.
Uma ideia que sobressai pela sua vastidão é o aproveitamento económico do mar. No mar fizemos o nosso maior feito, as descobertas, do mar colhemos a nossa mais vibrante poesia, não resistimos ao encanto da sua vastidão. No entanto quando se trata de saber a quantos portugueses esse mar era capaz de dar trabalho a produção de ideias revela-se estéril.
A pesca é um problema complexo com as suas limitações, o seu escoamento, o seu preço. O petróleo tarda a surgir na quantidade que baste para ser viável a sua exploração. Os portos exigem ligações que não temos, fluxos que não controlamos. Acima de tudo já não nos viramos para o mar com o destemor doutros tempos, nele já só procuramos as gaivotas da desilusão de uns tantos. Afinal não queiramos resolver tudo com uma só ideia porque, quando pretendemos tal, podemos estar a desacreditar uma ideia com algum mérito. E o mar é nosso amigo mas não nos vai cá trazer algo numa bandeja. O mar exige mais trabalho que o simples amanho da terra.
O nosso problema é que nós precisamos com urgência de dinheiro e parece que só agora descobrimos que o Estado é pobre, os nossos vizinhos são tão pobres como nós e se não vem dinheiro das Chinas ou das Arábias estamos perdidos. Tínhamos respeito pelo Estado quando o julgávamos rico, agora que o vemos pobre, que não tem arcaboiço para nos ajudar, antes temos que ser nós a pagar as suas dívidas, desprezamo-lo. O problema agrava-se mais porque também nós individualmente estamos endividados.
Ora cá está uma ideia que talvez devesse merecer a nossa atenção. Não contraiamos novas dívidas enquanto não pagarmos as que temos, é um bom conselho. A verdade é que isso seria um travão demasiado brusco que traria imensos problemas. Bastar-nos-ia a consciência que temos que travar e ir travando efectivamente mas infelizmente aquela consciência custa a interiorizar e acima de tudo pensamos que o esforço dos outros talvez chegue e não precisamos nós de fazer sacrifícios. Esta sim era boa ideia.
Com tantos advogados e economistas prontos a vender as suas ideias não nos devíamos preocupar com a sua falta. Ainda há uns contabilistas e outros curiosos a contribuir para a explosão de ideias a título gratuito. O que é politico está ao dispor de todos e todos temos o direito, e porque não o dever, de nos pronunciarmos. O Estado, mesmo pobre, também é nosso sem o ser. Só que para a capacidade da maioria de nós é suficiente o proferir sentenças sobre a culpabilidade, o apontar de erros, a denúncia de incoerências. Ideias sobre o futuro que se vejam, porque esperamos que ele nos dê razão, são antiquadas.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Imaginação … precisa-se urgentemente

Somos diferentes uns dos outros na nossa capacidade de imaginação e na utilização que dela fazemos. Existem tantas imaginações quantas as pessoas, mas podemos agrupá-las pelas sua maiores ou menores afinidades de modo a podermos dizer que há campos imaginários comuns a cada um desses grupos. “Sempre” houve o imaginário dos ricos e o imaginário dos pobres, sendo que as condições de vida, a segregação social determinaram à partida em que grupos nos haveríamos de incluir.
Além destes imaginários, sempre houveram outros mais ligados à vida prática, com outro tipo de conotações. Há o imaginário do poeta, do marinheiro, do caçador, há mesmo um imaginário do ladrão. Nos dias de hoje são grandes as afinidades entre os imaginários dos ricos e dos pobres e de todas as outras categorias particulares, determinadas pela vivência de cada um, mas também pela capacidade mais difundida de sonhar e de se deixar levar pelas ondas da moda, da aventura, da sorte.
A ampla comunicação hoje existente, decerto não livre, mas sim ainda condicionada, mesmo assim suficientemente diversificada, determinou o acesso pelo menos a uma vivência virtual comum e à possibilidade de inclusão no nosso próprio imaginário de situações só vividas por outros ou até somente imaginadas por alguém. Existe um imaginário mais comum dito popular, mas cujo uso como referência é hoje problemático. A globalização comunicacional determinou uma evolução rápida no imaginário popular e difícil de estabilizar para poder ser definido com a precisão necessária.
É vulgar dizer-se que hoje as pessoas vestem todas por igual, o que não sendo bem a verdade, dá a aparência de uma sociedade mais igual pelo menos no seu exterior. Sob o ponto de vista intelectual é bem evidente que as diferenças são hoje porventura ainda maiores embora as pessoas se iludam porque todos parecemos estar aptos a surgir perante as câmaras de televisão a debitar sentenças sobre qualquer tema mais ou menos actual.
Vivemos hoje num mundo de aparências que não são já aquelas que outrora se adoptavam para sustentar as conveniências, mas são as que ainda enredam as mentes numa superficialidade atroz. É verdade que nos tornamos mais polidos, reservamos os sentimentos mais malévolos só para certos grupos profissionais e sociais, apuramos o sentimento de culpa, vamos tendo maior capacidade de indicar o erro, mas não progredimos na capacidade de decisão, mantemos a ingenuidade dos incautos e o temor dos ineptos, a hipocrisia dos falsos.
O homem é um todo em que a solidez do seu imaginário tem que ser a sustentação das conclusões do seu intelecto. Na maioria dos casos o nosso imaginário está unido a saliva, isto é, facilmente se desintegra e repentinamente ficamos pendurados no ar. Ao inverso o pensamento que não encontra suportado por um imaginário sadio corre o risco de ser estéril. Claro que também existem aquelas situações doentias em que o imaginário, por mais confrontado com a realidade resiste na sua inverosimilhança a todas as tentativas do intelecto para a alterar e redimensionar.
O nosso passado é sempre uma condição basilar a ter em conta como ensinamento, como impedimento de uma imaginação desmesurada, mas também não deve ser um travão à possibilidade de novas concepções. Um imaginário “sensato”, que tenha em conta o passado e seja aberto, permitirá que o intelecto tire conclusões úteis para o futuro. Impõe-se o abandono da velha e nefasta ideia do unanimismo forçado e redutor e a sua substituição pela ideia de partilha consciente e solidária.
Faltam escolas de pensamento interno, já que há uma ou eventualmente mais escolas de pensamento da diáspora que vão contribuindo para o modo de Ser Português, mas por cá o solo é estéril. Pensar o nosso futuro, abrir horizontes que não passem pelo nosso êxodo colectivo, não é tarefa para religiosos enquanto preocupados com o além, para políticos enquanto preocupados com o imediato, para economistas enquanto preocupados só com índices ou outros actores profissionais e sociais só preocupados com o seu campo de acção.
Pensar o futuro é dar largas a uma imaginação que deve provir daquela que serviu de base a muitas das figuras históricas que deram corpo ao Ser Português. Afinal a imaginação que permitiu e até serviu de incentivo a feitos que nos enobrecem há-de ter algo que ainda seja aproveitado nos dias de hoje e permitir que também hoje possamos ser capazes de feitos grandiosos. Diferente é o pensamento daqueles para quem uma cópia seria a melhor solução para que surgissem pessoas audazes. Por aí não vamos lá, de múmias está o universo cheio.
É hábito dizer-se que somos desorganizados e que somos relapsos na nossa relação com o poder. O nosso passado prova o contrário. Quando existe uma chama, quando a alguém surge uma ideia luminosa e tem o poder de a pôr em prática não lhe faltam colaboradores capazes de dar corpo à ideia. Mas entretanto existe de facto uma letargia, o nosso imaginário adormece, ficamos prisioneiros das ideias mais negras, só vemos escuridão. Nesta questão não nos distinguimos em ricos e pobres. Estamos sempre à espera que outros nos dêem a resposta às nossas inquietações.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Agarrem-me … senão eu bato-lhe

Quando se vê grande alarido na praça pública interrogamo-nos sempre sobre se será à séria a discussão ou se só se trata duma daqueles casos do “agarrem-me … senão eu bato-lhe, esfolo-o, mato-o, ou outro mimo mais agressivo”, tão característico da bazófia nacional. Porém, como nunca podemos estar absolutamente seguros que este tipo de afirmações é só uma manifestação de bravata, mantemo-nos apreensivos e reservados. Quem assim fala procura, mas também receia um momento de verdade.
Há uns anos que um alarido destes já vem ocupando o espaço da luta política. Diferentes tipos de armas têm sido utilizados para corroborar a ameaça sempre latente sobre os adversários políticos. Em primeiro lugar há uma regra que estipula que é essencial nunca estar calado. De um assunto para outro, conforme a espuma dos dias o vai determinando, chega-se ao dia em que está encontrada a questão que vai merecer um ataque mais em forma, que pode servir àquele momento de verdade Enquanto procura-se manter a questão na ordem do dia e a dúvida pode ser rentável.
Seja a verdade ou outro tema igualmente abstracto, seja o orçamento ou qualquer outro facto assim tão concreto e quantificável, qualquer questão pode ser usada no confronto político, não sendo pelo seu valor que terá mais ou menos aceitação na opinião pública e relevância nessa luta política. O político acredita sempre que um bom confronto é aquele em que ele próprio está mais confortável seja qual for a natureza da questão. O que tem mais importância é a possibilidade de tornar o mais incómoda possível a situação do seu adversário.
Dar corpo à verdade absoluta não parece ser tarefa a que um humano se possa dedicar, pelo seu carácter absorvente e porque a verdade não é um assunto prático para ser usado na política, pelo que os apelos a tão altos valores redundam normalmente em fracasso. Já a ameaça de lançar uma crise política a propósito do orçamento pode ser uma questão séria e servir para obter resultados mais palpáveis. Em qualquer caso o mais experimentado dos políticos pode fraquejar e tremer perante uma dúvida demasiado longa. É que este “agarram-me … senão” é para levar a sério.
O poder, contrariamente às nossas opiniões mais espontâneas, é fraco. O poder consegue ser tremendo quando isola uma vítima, porém não consegue actuar sobre a multidão, é impotente perante as ondas avassaladoras que, seja por um tempo muito diminuto, os seus adversários conseguem lançar. Quando dois fracos se encontram é normal lançarem ameaças mútuas para substituir um confronto imediato. O poder é fraco quando se vê na necessidade de responder com as mesmas armas, de ocupar o espaço mediático.
O poder confirma a máxima de que nunca estar calado é mais importante do que a natureza dos argumentos que possam ser usados para controlar a situação. Muitas vezes a disputa política fica reduzida a um debate superficial, a recorrência é um recurso permanente, a redução ao carácter dos intervenientes é um risco constante. O “agarra-me … senão” não visa só os adversários, pretende também, senão mais, afirmar uma liderança pela coragem, visa o alargamento do um espaço de influência e de intervenção pessoal.
Ninguém diz “agarrem-nos … senão” pois trata-se de uma acção individual, um “agarra-me … senão” cuja credibilidade depende da força de uma só pessoa, mesmo que ela conte com a força de outros para o apoiar se necessário numa segunda etapa. Todos esses ficarão suspensos da palavra do líder, único com o fogo capaz de despoletar a acção. Este “agarra-me … senão” é quase sempre uma iniciativa pessoal, mas também muitas vezes é um acto falhado. O seu resultado depende da ambição e arte do líder, mas sobretudo da resposta do adversário e da sua sensibilidade para se atemorizar ou não pelas suas atitudes exibicionistas.
O papel do líder, ou pretendente a tal, é tentar anestesiar os seus rivais estejam eles colocados à sua frente ou ao seu lado, porque ainda existe a crença que a exibição de força se assemelha a ela. Mas também se ganha poder com pequenas vitórias que tenham impacto pessoal. Tal ajuda a credibilizar o protagonista e leva os outros antagonistas à apatia e até a perfilhar as ideias antigamente combatidas e a colocarem-se ao seu lado. Há sempre gente dispostas e ceder às ideias vencedoras.
Um primeiro objectivo do “agarra-me … senão” é suscitar o medo. Porém o líder não se pode ficar por aí. Para dividir e neutralizar os antagonistas ele tem que avançar de imediato para suscitar admiração, até porque tal lhe vai ser necessário caso aceda ao poder. Ao levar à prática o “agarra-me … senão” nunca todos ficarão aterrorizados, nem todos ficarão convencidos. O “agarra-me … senão” pode ter efeito imediato, mas também o esticar demasiado a corda pode ser contraproducente.