sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

O direito à indignação e à ingratidão

Aqui há poucos anos andávamos a dizer mal dos funcionários públicos, a criticar os professores, a deitar abaixo os médicos, a zurzir nos magistrados e em pouco tempo tudo se virou. Agora ninguém diz que tenha dito tal coisa, alguns até são capazes de jurar que sempre disseram bem, todos parecem querer agradar a quem tão atacado foi e merecer as suas graças.
A força das forças políticas manifesta-se pelas ondas que consegue lançar de modo a suplantarem as promovidas pelos adversários, roubando-lhes apoios de que antes beneficiariam. Há sempre alguém a sair favorecido e outros sairão prejudicados e prontos a ajudar a onda contrária. Quando a onda espalha injustiças, e é natural que algumas hajam sempre, são as mais frescas na memória.
Muitos funcionários se levantaram contra a afronta, sentiram-se melindrados, arrastados por uma avalancha que a todos levou. Porém os movimentos sociais, os movimentos da opinião pública são assim, não há nada a fazer, só esperar que o tempo cure os danos e reponha alguma justiça. Ou então caminhar depressa para o outro lado, ajudar nova onda que decerto vai criar ainda mais injustiças, mas muitas vezes aí já só vemos os nossos próprios interesses.
No meio desta confusão criada há correntes de opinião alicerçadas em partidos, em sindicatos e noutras organizações sociais mais ou menos estruturadas que se aproveitam com objectivos menos honestos destas ondas de certo modo irracionais, incapazes de grandes destrinças, com tendência a fugir a controles individuais e até de quem lhes esteve nas origens. Se algum mérito aquelas organizações têm, é o de tentarem estabilizar, um tempo que seja, essas ondas.
É bom que se esclareça que estas ondas se comportam como as ondas de calor num incêndio. Havendo um bom local de ignição, um bom pretexto neste caso, atingindo o fogo uma certa intensidade, mesmo que localizado, a sua propagação está garantida mesmo que o restante território a arder não apresenta características tão favoráveis. No meio arde tudo.
Isto é o que está a acontecer com os movimentos de professores capitaneados por quem tem interesse muito para além dos ordenados, do tempo de serviço ou da classificação. No entanto esta luta dos professores não teve efeitos práticos nos dois primeiros anos de alterações que o Governo vai tentando promover no ensino de modo a obter os índices de profissionalismo, organização e disciplina sem os quais todo o esforço é inglório.
Em anos passados os professores conseguiram um nível de autonomia, remunerações e suficiência incomportáveis neste País relaxado e relapso a obedecer e a se empenhar em objectivos colectivos. Os sindicatos querem garantir o apoio dos professores defendendo estas conquistas revolucionárias. Apertados pelo Governo e sem apoio na opinião pública tudo fizeram para inverter esta situação. A sua ambição foi sempre virar a opinião pública contra o Governo.
Daí o seu apelo recente aos pais e alunos para ajudarem à subversão geral. E vá de arranjar professores dedicados que os há, professores competentes que os há, professores sacrificados que os há, professores vítimas de ingratidão que os há e tentar criar uma onda benévola debaixo da qual se acobertem os professores baldas, incompetentes, incapazes de qualquer sacrifício e merecedores de que os mandem tratar doutra vida e que são precisamente os mais barulhentos, os que mais engrossam manifestações e greves, os que não têm espírito democrático e insultam e isolam os professores dignos que não partilham das suas opiniões.
Está-se a criar dentro das escolas um clima de agressividade, de perseguição, de intimidação, de medo. É necessário que o poder democrático chegue a todo o lado e não se permita que forças totalitárias consigam manobrar os professores com propósitos que passam muito ao largo dos seus interesses e da sua dignidade. Já existem vários professores a precisar de ajuda.
A maioria dos professores talvez não esteja habituada a viver climas destes, em que a tensão social ultrapassa as suas forças, climas que há tempos só se viam no seio das fábricas, dos locais de trabalho dos mais proletarizados. A maioria dos professores dificilmente resiste só por si a estes movimentos que tudo querem avassalar, que utilizam a insídia e a delação.
Esta maioria de professores está a dar às gerações futuras um exemplo de degradação moral, como não se vê em pessoas com muito menos responsabilidades, com rendimentos infinitamente inferiores, com problemas familiares e sociais de que eles não sofrem. São uns privilegiados que aproveitam a sua função, que não querem avaliada, mas cujo valor está à vista de todos, para se arrogar um estatuto que estão longe de merecer.
Muitos dos professores acederam à profissão com habilitações reduzidas outros exercem profissões paralelas, outros manifestamente não têm condições psicológicas para uma profissão que, levada a sério pode, conforme as circunstâncias, ser bastante desgastante. O Estado tudo tem feito para eles se valorizarem, mas o que surge é a ingratidão.
Anos sabáticos, férias prolongadas, tempos não lectivos, nada chega para a voracidade desta gente. Não faltam os professores a sabotar iniciativas que deveriam tomar. É posta em causa a integralidade dos alunos, os seus apoios, e eles tanto precisavam de apoio na resolução dos seus problemas, na manutenção de algum discernimento na sua mente. O ambiente criado não ajuda os alunos.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Um vencedor e um mundo de vencidos

Defensor Moura venceu um plebiscito, perdeu um referendo. Os outros perderam a votação seja qual for a perspectiva pela qual a mesma seja vista. E o próprio referendo perdeu também. Esta ocasião só provou que os autarcas só promovem os referendos que lhes interessam e que podem personalizar.
Ninguém está interessado em discutir o fundo de uma questão, em a isolar do nevoeiro abrangente. O que conta é a força do apelo que está subjacente à questão nuclear. Não é este núcleo que erradia atracção, é sempre uma outra questão que serve de atractivo para o chamamento ao voto neste ou naquele sentido. Defensor pôs em causa o seu lugar para apimentar o voto.
Só esta questão levou alguns a ir votar. Tal se revelou em todas as entrevistas que se viram na televisão em que as pessoas, por norma, diziam saber bem porque iam votar, mas quando interrogadas sobre o que sabiam da Comunidade Intermunicipal de Minho Lima abriam os olhos como se lhes estivessem a falar de fantasmas.
No fundo foram votar as pessoas que dão mais importância ao apelo pessoal, isto é, se submetem à chantagem emocional. Claro que aqui podemos fazer um interregno e perguntar se há alguma ilicitude nisto. Não há porque são as pessoas que se deixam prender, são as pessoas que sentem mesmo a necessidade de se ligarem a alguém e os políticos, por mais mal que deles se diga, estão aí à mão, são parceiros com quem se tem certa intimidade.
Sendo todos, excepto um, os derrotados, há sempre uns mais derrotados que outros. António Martins está em primeiro lugar porque sendo ele a propor o referendo não deu mais qualquer passo significativo de empenho na sua vitória. Derrotado foi o CDS que com o caminho deixado aberto pelo PSD quis açambarcar a liderança para que não tinha arcaboiço.
Derrotados foram os socialistas vianenses. Parte deles arrastados para o reforço de um poder pessoal e para uma estratégia suicida e anti-socialista. Outra parte revelou a sua impotência e falta de visão política para criarem uma verdadeira alternativa a Defensor Moura, assente na defesa de princípios ideológicos e organizativos democráticos. É nisto que dão os Messias.
Perdeu a clareza do debate político, sempre enredada nestas questões que afinal, pela importância que lhes foi dada, todos acharam menores, pouco dignas de referendo. Em democracia convoca-se o povo para votar como um método de decisão primordial. Depois cabe aos eleitos tomar as decisões que se impunham. O que não pode é um decisor menor pôr em causa e numa parcela diminuta do território nacional a forma como participa na tomada de decisões.
Esta clara vitória de Defensor Moura não pode deixar de ser a prazo uma clamorosa derrota porque a democracia, com regras tão difíceis de criar, que exige o empenho de todas as pessoas, não pode estar ao dispor deste tipo de gente que a seu belo prazer quer aferir da simpatia que o eleitorado possa nutrir por ele, sem que daí mais alguém tire qualquer ganho visível.
A organização política e administrativa do País não é perfeita, bem longe disso. Mas há quem queira baralhar permanentemente os dados para dar razão àqueles saudosistas de Salazar e aos outros que defendem que, a não haver um ditador, cada qual faça as coisas como bem entende. Em Portugal há esta espécie de gente, tipo ditadores anarquistas, que são feios e falsos moralistas.
A regionalização vai ganhando novos adeptos, mas na prática há cada vez mais gente a sabotar esse processo. Em Portugal em toda a parte falta organização, na escola, nos centros de saúde, nas empresas, na estrutura administrativa. Qualquer tentativa de avanço tem logo sabotadores a todos os níveis e entre os mais responsáveis. Este referendo é uma clara sabotagem.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Ainda haverá esquerda e direita?

A esquerda e a direita digladiam-se de modo permanente. Com mais ou menos vigor, com períodos de acalmia, até já vimos ocasiões festivas. No entanto era bom que soubéssemos que está sempre em causa muito do nosso futuro, mesmo quando a direita social faz recuos tácticos, pois mantém os seus líderes a trabalhar para reaverem o poder. A direita social tem séculos de experiência para ludibriar e confundir a esquerda.
Às vezes aos nossos olhos a confusão torna-se mesmo profunda. As circunstâncias obrigam os líderes da direita a fazerem políticas que desagradam aos seus mais acérrimos apoiantes da direita social. Também tem sido muitas as vezes em que a esquerda não tem campo de manobra para fazer a sua politica construtiva, limita-se a uns remendos no edifício que é obra da direita. Mas não podemos nunca perder de vista a luta política de demarcação, mesmo que hoje seja ainda mais difícil devido à nossa integração na Comunidade Europeia.
Mas regridamos um pouco no tempo, mesmo só no nosso tempo, vivido é certo num ambiente de certo modo atípico, de um capitalismo rural. Houve tempo em que a direita se confundia com dinheiro. Quem tinha dinheiro era de direita, quem o não tinha era de esquerda. As excepções não eram muito significativas e tinham a sua justificação por factores culturais, percursos muito específicos de vida, heranças recebidas ou projecções a que alguns eram mais susceptíveis.
Nesse tempo a direita não falava de dinheiro porque não ia pôr em causa aquilo que possuía por demais. Se em Portugal a direita se caracterizava mais pela propriedade do que pelo dinheiro, tal devia-se ao nosso atraso. A direita falava de segurança, ordem, respeito. Fazia com que a esquerda passasse por uma horda de maltrapilhos, gente sem dinheiro, sem valores, causadora de insegurança, desordem e desrespeito.
Nesse tempo a esquerda falava de dinheiro, daquilo que faltava aos trabalhadores e mais aos pobres para poderem ao menos subsistir, para terem uma vida digna, para criarem os filhos com honra e falava de dinheiro. Para a esquerda o dinheiro era aquilo que sobejava aos ricos e que não era colocado na promoção de desenvolvimento. O dinheiro era aquilo que o próprio Estado gastava mais na sua própria defesa, na promoção da guerra do que no bem-estar.
A ambição da esquerda política era colocar o dinheiro ao serviço da população em geral e por isso aquela primeira reacção primária e instintiva de promover o colectivismo de tão fraca memória. Em certa altura os totalitarismos tomaram de tal modo conta dos movimentos sociais que ainda hoje mantém vasta influência por via do fascismo e do comunismo. Mas a esquerda já percebeu que não é necessária a apropriação colectiva do dinheiro para que ele seja útil a todos.
A partir da altura em que se esclareceram certos equívocos de que foi prisioneira na primeira metade do século passado, a esquerda nunca desistiu de promover a democracia e a utilidade social do dinheiro. O fascismo só persistiu em poucos espaços, o comunismo começou o seu processo implosivo. Mesmo assim os movimentos sociais não totalitários tiveram dificuldade em se adaptarem às novas condições e em intervirem eficazmente a nível da divisão do trabalho.
A esquerda foi-se libertando lentamente dos totalitarismos. Também a direita, em especial no pós guerra e para se não confundir com o totalitarismo de direita, tomou atitudes até aí tidas como próprias da esquerda. No entanto nem toda a evolução se deve à acção política. A melhoria operada na organização social também se deve aos fantásticos desenvolvimentos a nível da ciência, da tecnologia, de todos os ramos de conhecimento que permitiram que o homem se fosse libertando do trabalho mais escravo.
Nem toda a gente atribui à esquerda todos os progressos conseguidos. A esquerda perdeu mesmo muito terreno na acção política. A custo tem conseguido recuperar e alargar a sua influência na sociedade, mas à custa de acções dispersas e sem coordenação. No entanto a esquerda totalitária espreita e procura arregimentar toda a esquerda invocando uma superioridade moral que está longe de ser verdadeira. A esquerda precisa com certa urgência de balizar os seus limites e afastar de vez o fantasma do totalitarismo marxista.
Para escândalo dos fundamentalistas e de uma certa ala nostálgica, que sempre alimentou um discurso idealista, mas foi inoperante na acção, a esquerda já não clama contra a existência de detentores do dinheiro, mas tão só pelo mau uso que dele fazem. A esquerda preocupa-se mais com o aperfeiçoamento da organização social, está integrada no mundo de hoje sem ser conivente com as suas aberrações. A esquerda está comprometida em defender os elementos determinantes, aperfeiçoando o seu alcance social.
A esquerda de hoje já reivindica mesmo a gestão do dinheiro em parceria com os seus detentores maiores. O dinheiro deixou decididamente de ser a linha divisória entre a esquerda e a direita. Ainda assim a direita gosta de abrir por aí uma trincheira, agora que já deixou os escrúpulos de ao dinheiro se referir. A direita acusa a esquerda de esbanjadora e tem-se por melhor gestora. A esquerda tem que provar que não é bem assim e tem objectivos mais solidários. A direita persiste em promover a ganância devoradora do dinheiro.
Hoje o maior inimigo da esquerda é a esquerda radical. Com a direita pode a esquerda muito bem, ocupe ela os cargos que ocupar na Presidência, nas Forças Armadas, na Banca, no aparelho de Estado. A direita não é mais honesta, mais séria, mais precavida, mais segura, bem pelo contrário. O Estado não pode ser obsessivo como a esquerda radical ambicionaria, nem pode ter a leveza que a direita lhe quer dar. A esquerda de hoje é a que tem uma melhor ideia de Estado.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

A exposição pública dos autarcas não é suficiente

O programa de televisão Prós e Contras só reforçou a nossa ideia de que Defensor Moura não tem qualquer razão na sua teimosa e obsessiva luta contra um inimigo que não existe. Esperemos ao menos dele uma atitude louvável de cumprir o prometido de se afastar se o “Sim” ganhar. Só que me não espantará se ele tentar renascer. Infelizmente a nossa vida autárquica está cheia de dinossauros que não querem ser afastados, parece haver um vírus que os ataca e os mantêm presos a esta vida boa.
Narciso Miranda, Valentim Loureiro e muitos mais são daquelas pessoas que se não tiverem uma capa de autarca que os vista se sentem nus, demasiados expostos, com um tratamento diferente da parte da comunicação social, sem qualquer motivo de interesse para aparecerem nas revistas e serem entrevistados. Podiam ao menos dedicar-se a escrever memórias e sobre a maneira como conseguiram subir na vida, que sempre podiam ensinar algo a alguém.
A escola autárquica é tremendamente deficitária em termos da propagação dos bons exemplos de gestão. Cada qual segura-se no seu povo, procura uma qualquer identificação com ele que lhe garanta a permanência máxima no lugar. Não existe um modelo que seja capaz de ser implementado por várias pessoas com diferentes perspectivas e que persista para além delas. Em muitos municípios a burocracia continua a ter uma peso desmedido, a corrupção existe às escancaras, as facilidades vendem-se como se de dificuldades se tratasse, mas não era este o modelo que interessava divulgar.
Sendo o poder autárquico aquele que mais próximo está das pessoas deveria ser o exemplo mais acabado da eficácia, da transparência, da participação popular. Embora muitos de nós ainda façamos um balanço favorável ao poder local em face do poder nacional, ou melhor dos vários poderes nacionais, o certo é que a imprensa fala muitos mais da prepotência dos autarcas, do seu carácter mesquinho e interesseiro do que de quem ocupa outros patamares do poder.
Mas quando alguém chama a atenção para o que se passa em casa do vizinho em vez de se defender a si próprio, de se justificar perante os seus eleitores, alguma coisa de errado se passa na sua casa. O que se esperaria dos autarcas é uma atitude de chamar a atenção para a clareza que preside à sua tomada de decisões e não atacar-nos com revistas auto elogiosas, cheias de fotografias e texto laudatórios.
A imprensa faz o seu papel de chamar a atenção para os aspectos melhores ou mais condenáveis da personalidade, do modo de agir, das opções típicas de cada um. O que a imprensa não pode, o que lhe está vedado por múltiplos motivos, é a imiscuir-se em aspectos da vida privada, é abordar aspectos da personalidade que muito teriam a dizer sobre as razões que determinam os autarcas a tomarem as decisões que tomam.
A democracia americana tem a grande vantagem de que cada candidato a um qualquer cargo público tem que passar por uma triagem perfeitamente arrasadora. Tem outras desvantagens, como o papel do financiamento na ascensão e queda desses candidatos, mas por cá também este aspecto vai atingindo dimensões que afastam muita gente honesta de se envolver neste mundo um pouco baço e obscuro.
Os nossos autarcas ainda agem como proprietários dos seus apoios, senhores das estruturas que são chamados a simplesmente orientar no sentido da sua política sufragada, decisores solitários e inimputáveis. No entanto os autarcas tem obrigação de se desligarem daqueles apoios, de não violentarem as estruturas herdadas, de fazerem participar todos nas suas decisões importantes. E se não conseguirem melhor façam um testamento

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Água das pedras

Se me perguntarem de que gosto mais, se de pedras ou de água, a minha resposta óbvia é que a natureza no geral toda me agrada, mas a água satisfaz-me uma necessidade primária que pode surgir a qualquer momento e é essencial para a vida. O contra é que a água se esvai rápido e a pedra dura muito.
Este é o meu lado utilitário a reagir a quente. No entanto ainda neste aspecto a pedra também tem a sua utilidade. Além daquela mais óbvia da construção, a pedra pode ser objecto de inscrições múltiplas com mais ou menos significado ou sem significado algum como as que estão nas pedras do Monte de Góis e lá terão sido feitas há uns bons 5.000 anos, dizem.
A preservação desta pedra levou o Corema a desencadear uma guerra a propósito do traçado da estrada destinada a passar o Rio Coura e o Monte de Góis entre Vilar de Mouros e Lanhelas que acabaria pela redução da estrada de duas faixas em cada sentido para uma só e a uma imensa perca de tempo. Mas os malefícios podem não ter ficado por aqui, o Diabo seja surdo.
A estrada lá se acabou com algumas pedras deslocadas como é evidente, mas nada que nos fizesse perder a mensagem que um povo antigo eventualmente nos tenha querido transmitir. Sou daqueles que considera que ninguém se dá ao trabalho de sarrabiscar uma pedras se não tiver um trauma qualquer, o que será sempre uma informação importante. Afinal já havia stress nessa altura.
Mas algumas pedras terão ficado ainda no seu sítio que agora o Corema diz que os exploradores de água as podem estragar. Acho que para extrair água não será preciso mover muitas pedras pelo que o interesse do Corema parece ser outro: Que não estraguem as captações que afinal outros já lá têm e fizerem por aqueles montes quando ainda não havia Corema para os contestar.
Os vários interesses em jogo devem ser defendidos de forma clara e transparente por quem deles beneficia. Isto é, devem ser defendidos com legitimidade para que possam ser legítimos. Confundir as coisas não enobrece a meritória defesa do ecosistema, que todos devemos apoiar.
Uma actividade perniciosa no mundo de hoje é a de todos os fundamentalismos que só vêm aquilo que lhes interessa e que subestimam ou mesmo amesquinham tudo o resto. Como se os outros fossem todos movidos por sentimentos negativos, subterrâneos e só eles tivessem acesso a uma pureza que não está ao alcance de mais ninguém.
Na questão da estrada foram postos em causa os problemas de segurança, com um súbito atrofiamento da mesma. Agora quer-se pôr em causa a exploração da água, mas essencialmente a sua exploração comercial. Haverá decerto muitas entidades a ter que se pronunciar até que tal exploração seja licenciada.
Esta pressa em aparecer na primeira linha, duma luta que nem se sabe se é de louvar, destina-se mais a meter medo do que a esclarecer as pessoas. Também me parece que aquela zona não terá as reservas de água necessárias para justificar a sua exploração comercial, sem pôr em causa outros legítimos interesses, mas era isto que o Corema deveria provar.
A vertente integralista do fundamentalismo é a que causa efeitos mais nefastos no interesse pelo progresso e pelo desenvolvimento dos povos. Até contra a alteração da paisagem se manifesta quando esta é uma resultante da actividade humana que todos os dias transfigura espaços. Não prescindem do carro, do aquecimento, de todas as mordomias mas gritam contra o malvado dióxido.
Minimizar impactos, conseguir medidas reparadoras e compensatórias é muito louvável. Oporem-se a tudo por dá cá aquele palha é condenável. A credibilidade ganha-se com coerência, clareza. A visibilidade faz falta, mas não se pode ganhar a qualquer preço.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Um 2009 … … cheio de crises e de eleições

Entramos num ano eminentemente politico, em que praticamente todos os aspectos da vida política vão estar sujeitos ao sufrágio universal. Este ano de 2009 também vai ser o ano de todas as crises, desde a redefinição de fronteiras, à crise financeira, à crise imanente ao reequilíbrio económico mundial e ao reequilíbrio na distribuição internacional do trabalho, à crise provocada por uma nova partilha do poder a nível mundial. Toda a nossa atenção é pouca.
A Europa tem à sua volta e ainda no seu seio velhas questões a resolver, sempre na confluência dos seus sistemas próprios de vida com o mundo muçulmano, seja na Rússia, na Sérvia seja em Israel (Europa alargada). Mas se a restante Europa se conseguisse entender e consolidasse o seu poder poderia contribuir, se sabiamente usasse esse poder, para a pacificação do mundo e resolução de conflitos noutros lugares. Dificilmente o conseguirá.
As primeiras eleições que se vão realizar são mesmo para o Parlamento Europeu, pelo que vamos ter uma palavra a dizer sobre os assuntos europeus e era bom que a não desperdicemos. A Europa está a ser dirigida por uma direita retrógrada que pensa resolver os actuais problemas com os velhos paliativos e não tem ideias novas. Por sua vez a extrema-esquerda só se propõe destruir uma das mais promissoras construções humanas, a Unidade Europeia.
Hoje a maioria dos nossos direitos defendem-se em Bruxelas. De lá vêm as decisões que mais condicionam a nossa vida. Por isso nos sentimos cada vez mais pequenos para interferirmos nas grandes questões que definem o nosso futuro. Por isso temos de contribuir para a formação de grandes movimentos políticos capazes de governar a Europa com perspectivas reformuladas e ideias novas. Sentimo-nos pouco Europeus por sermos pequenos, mas a Europa precisa de nós.
A Europa tem agora ocasião para retirar lições importantes desta crise financeira, económica e ética, quase civilizacional. Efectivamente muitos dos padrões que constituem esta civilização vão sendo postos em causa. A permissividade a todos os níveis sempre foi sinal de decadência das civilizações e será desta também. Mas hoje temos meios intelectuais para não atribuir o seu fim a um castigo divino, só que temos de ser capazes de arrepiar caminho. Temos de seguir caminhos diferentes do comunismo ou do capitalismo liberal usurário.
Instalou-se, mesmo nos extractos mais débeis da sociedade, a ideia peregrina de que tudo é legítimo e permitido desde que todos nós possamos sonhar em usufruir de tais liberalidades. O sonho tornou-se a medida de todas as coisas. O roubo tornou-se quase tão legítimo como o trabalho, fosse o roubo praticado porque está dentro do sistema, seja por quem está de fora e tenta aproveitar alguma debilidade. Os esquerdistas comungam dos sonhos do capital.
Uma civilização assente nestes princípios não pode funcionar. As forças políticas que se pretendem fazer portadoras de ideias de recuperação de valores antigos não apresentam hoje qualquer préstimo por duas razões: Uma porque não têm audiência senão em gerações recuadas; Depois porque foram tais valores que tão tardiamente querem repor que levaram a este estado de coisas.
De falsos moralistas está o mundo cheio e uma força política para actuar decisivamente tem que deixar de se preocupar com os apetites pessoais como pretensos diferenciadores das pessoas, mas agir no sentido de inibir a sua capacidade de apropriação indevida. As pessoas podem achar as ideias serôdias, os valores obsoletos, mas, se virem a sociedade empenhada em obrigar as pessoas a serem honestas, inibem-se. Antes de se incutirem valores nas pessoas é muito mais prático e seguro incutir o medo. Este é cada vez mais necessário.
A actual crise dá-nos a ocasião para repensarmos o papel do Estado. Não podemos andar toda a vida a reclamar mais Estado para nos dar saúde, educação, segurança, fiscalização, justiça e para muitos praticamente tudo do que precisam para viver e para pôr os outros em sentido e por outro lado andarmos a clamar com a sua presença, contra os seus impostos, contra os seus tentáculos, contra a sua excessiva dimensão. Temos de saber o que queremos.
O mundo pôs de lado o modelo soviético de gestão de toda a economia por via do Estado, mas, vinte anos passados após o início do descalabro da URSS, vemos o sistema capitalista a dar de si a pior imagem e ainda não sabemos de meia missa. A pretensão dos liberais de afastar o Estado da economia, a propósito de que ele encarece tudo, é a pretensão do ladrão que não quer forças de segurança porque … elas são caras.
Se é verdade que nos Estados Unidos parece não haver uma relação íntima entre as forças políticas e os grandes crápulas das finanças, já na Europa tudo está mais relacionado, a promiscuidade é mais evidente. Mercê das tradições políticas europeias há entre os liberais na economia e a direita política uma relação em que a primeira, quando se vê afastada, pretende atrair a segunda.
Os empresários liberais não gostam de estar distantes do poder mas acham que pagam demasiado para os políticos. Em determinadas épocas acham mesmo que é melhor pagar só a alguns desde que estes os livrassem dos outros. Depois do condicionamento industrial de Salazar e de todos os condicionamentos do pós 25 de Abril, parece que Portugal se encontra nesta fase. Os empresários apostam em quem melhor lhes facilitar a vida, a não ser que a oposição seja inepta.
Um Estado novo tem que assegurar a competição, a concorrência, a cooperação, a partilha, o justo equilíbrio entre estes factores sociais, a defesa dos que sofrem de ingratidão perante aqueles que só conheceram a sorte, que beneficiaram de condições familiares e sociais privilegiadas. O Estado não pode favorecer e proteger uns perante a desprotecção dos outros.
É legítimo que empregadores e empregados defendam o seu papel social que não é substituível. Sem um Estado forte e prestigiado a balança tende a balancear em excesso e cair para um dos lados. Se é verdade que o Estado toma por vezes acções espectaculares para se fazer ouvir e se possível cumprir, as suas fraquezas são muitas e são os espertos de ambos os lados que as aproveitam. A esquerda está desnorteada e a direita sem forças para aproveitar tanta facilidade.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Quando os maus exemplos vêm dos partidos …

Obrigados a prestar contas, os partidos, não habituados, foram apanhados em falta nas últimas eleições autárquicas. Do parecer do Tribunal Constitucional não escapa ninguém no País. Valha-nos que em Ponte de Lima nem todos se portaram mal. Sabemos que as contas bem feitas não são uma garantia absoluta do respeito pela Lei, mas se nem isso formos capazes de fazer, pior será.
Isentado o PS de qualquer falha, contra a opinião de Gaspar Martins que tanto falou do excesso de despesas, temos a CDU como melhor cumpridor, a quem só foram apresentadas duas falhas: Falta de assinatura das contas pelo mandatário local e falta de descrição de acções/meios sem atribuição de custos, o que não permite a sua comparação com a lista de despesas.
O PSD excedeu-se bastante mais com facturas com data posterior ao período de campanha, sem suporte documental para muitas despesas, com facturas em nome de terceiros ou sem número de contribuinte. Regista ainda despesas totais registadas superiores às assinaladas nas listas de meios de campanha e não apresenta listas de receitas de angariação de fundos.
Mas quem mais terá prevaricado foi o CDS. O mais saliente são os 31.359 € de facturas emitidas posteriormente ao acto eleitoral e que o CDS não comprovou como despesas efectuadas durante a campanha propriamente. Perante uma receita excelente será por vezes difícil gastar tanto dinheiro.
Na sequência desta falha o CDS não apresentou os extractos bancários referentes aos últimos movimentos de entrada e saída de fundos o que facilmente se percebe. Nem apresentou lista de acções de campanha que coincidam com as despesas vertidas nos respectivos mapas.
A desculpa habitual para este estado de coisas é a dificuldade da Lei, o excesso de burocracia, a impreparação das pessoas para responder a uma exigência a que não estavam habituadas. Só que para um bom contabilista, que tivesse instruído bem as pessoas autorizadas a fazer despesas em nome da campanha, isto seria pouco pior que comer uma canja.
Como sou daqueles que não gosto de repisar muito o passado, privilegio mais o futuro, espero que todos sejam pessoas recuperáveis, seja para terem lugar no Reino dos Céus, mas de preferência para terem a aceitação dos seus contemporâneos, que isso nunca está garantido.
Muitas vezes as pessoas iludem-se com a fama que alcançaram, imaginam que a populaça até lhes permitirá que façam alguns atropelos e até às vezes têm razão. Mas também não podem estar disso tão certos. Embora a Terra ande sempre para o mesmo lado, na imensidão do universo nós nunca chegaremos a saber se estamos de cabeça para cima ou para baixo.
A política também é a defesa de interesses. Ninguém minimamente honesto pode querer que assim não seja, até porque os exemplos de quem se manifesta tão puro numas questões que lhe não roçam a pele e já noutras se apresta sempre para colher benesses são por demais evidentes e quase genéricos. As excepções confirmam sempre as regras e resta-nos melhorar estas.
Esta apresentação de contas ao Tribunal Constitucional é uma daquelas regras que veio aperfeiçoar os mecanismos de controle do financiamento partidário e que permite que se saiba a maneira como o dinheiro influencia a actividade política. E a tendência nestas coisas é para que quem exerce o poder saia muito mais beneficiado em relação a todos os outros concorrentes.
Uma pessoa do PSD disse-me que estas contas só provam que os CDS não tem melhor gente do que eles e eles sempre ganharam as eleições legislativas e sempre perderam as autárquicas. Grave problema para ser discutido nas tertúlias da Havaneza, que mais uma vez o António Martins é a balança decisiva para a escolha do sucessor dum Trigueiro que persiste em querer renascer.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

As separações de conveniência

Uma das críticas mais comuns que se fazem ao estado actual da sociedade é a falta de valores que transparece em muitos dos actos que se vão tornando triviais, sem contestação evidente por parte de qualquer sector social. A culpa deste estado de coisas é atribuída com demasiada superficialidade a factores ditos corrosivos que vão destruindo a base moral duma civilização em reformulação.
O dinheiro é o primeiro desses factores mas facilmente constataremos que o amor ao dinheiro é tão só o resultado de outras alterações ocorridas na forma de ver a vida e na elaboração dos sentimentos que nela nos integram e lhe dão continuidade. Os sentimentos formam-se pelo acumular de experiências, pela intelectualização de vivências que nem sequer são colocadas ao dispor dos jovens.
Os jovens integram-se na vida activa sem resistências à “degradação” do ambiente moral reinante. Uma das suas manifestações, um dos reflexos mais salientados é o casa/descasa a que se assiste, em que a vontade manifestada e registada de constituir família estável depressa dá origem a uma desvinculação com graves consequências se ocorre quando já existem filhos.
Entendeu a sociedade que a falta de sentimentos que aproximem um casal é razão suficiente para promover a separação do mesmo, isto é, a manutenção de uma situação falsa do casal pode ser um mal maior do que aquela privação imposta aos filhos de se criarem no lar a que tinham direito natural. Claro que os sentimentos que não conseguem sustentar uma relação, presume-se que prometedora à partida, são frágeis e a sociedade não tem forma de os certificar.
O casamento pode fortalecer ou não os sentimentos de partida e a sociedade preparou-se para isso. O que a sociedade não terá previsto é que o divórcio seria aproveitado por aqueles que se presumem que ainda mantenham os mesmos sentimentos que os levaram ao casamento para darem o golpe de baú, agora já não ao parceiro, mas ao Estado, àqueles com quem mantinham relações comerciais, aos parceiros de negócio.
Estas falsas separações têm-se expandido e abrangem todo o leque social, com predominância nos poderosos, nos que mais meios possuem. São estes que mais facilidades têm de organizar estas coisas e de que a sociedade tem menos defesas. Além das posições que ocupam, têm crédito na praça e no geral têm um discurso que se caracteriza pela defesa da moralidade mais tradicional. E a condescendência das “autoridades” suas “fieis” depositárias.
Em suma enganam as pessoas usando todas as armas de que os poderosos deste mundo se munem habitualmente. Caberia pois ao Estado defender-nos destes crápulas em vez de lhes dar as armas para nos roubar. E quem melhor do que eles para utilizarem a justiça, a comunicação, o dinheiro para nos intimidar e calar, à medida que nos vão metendo a mão ao bolso? A falta de vergonha e escrúpulo dizem não fazer falta a quem negoceia.
“Um banqueiro preso colocou toda a sua fortuna na posse da mulher por efeito da declaração de partilha de bens adquiridos até à separação de ambos “ dos jornais. Legalmente tais bens que foram parar ao regaço da tal mulher sem que ela sequer se tenha envolvido nos negócios que ocupavam o marido e lhe permitiram encher o seu dote de descasamento não podem ser arrolados para o efeito do pagamento dos danos que tal senhor terá causado a quem tão levianamente nele confiou os seus bens.
É da nossa cultura que quando o roubado é o Estado não há problemas, está tudo bem, embora se saiba que os roubados são todos nós. Mas neste caso os grandes lesados são os particulares pelo que se impõe uma alteração drástica nos textos legais que tal permitem. Se qualquer pessoa pode ser condenada por receptação de coisas roubadas e por cumplicidade na prática de roubo este caso não parece diferente.
Não deveria ser a separação a permitir colocar em esquecimento a proveniência dos bens e ainda mais em casos como este em que não existe separação efectiva e as pessoas continuam a partilhar todos os bens que possuem. Além da necessidade de que o Estado nos proteja, não é de mais chamar a atenção para o seu discurso nada consentâneo com a prática destas pessoas.
O problema é que as pessoas sabem que nós já nem conseguimos distinguir quem fala por convicção e quem fala por conveniência. Podemos concluir que aqueles que falam por convicção fazem-no em qualquer ocasião e local, aqueles que falam por conveniência escolham o ambiente e as circunstâncias em que transmitem a sua falsa mensagem. Ou então apoiam aqueles que se dedicam profissionalmente a esse objectivo. E nós não estamos lá para desmascarar estas encenações de que os poderosos são capazes.
Um mundo permanente de conveniência enforma hoje toda a vida social e a permissividade, desde que praticada com recato em meios de difícil acesso, é o sal que alimenta todas as relações sociais que se estabelecem entre os poderosos deste mundo. Mas já vimos que os poderosos também se abatem, que é possível encostar à parede aqueles que por ganância quiseram açambarcar com o poder que tinham todo o dinheiro que lhes passava na mão.
Este desmascarar de quem defende acerrimamente que tem um papel social a desempenhar e abusou dele nada tem com abater todos os poderosos, capitalistas ou não, deste País. Tem a ver com mostrar à ignara gente que tem que tomar nas suas mãos a defesa de valores que se mantém válidos mas que já ninguém defende, a não ser por conveniência.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Candidaturas novas ou recicladas procuram-se

Todos nós parecemos imensamente velhos. Quando nos metemos na vida política, mesmo que nesta frágil política local, a verdade é que só o fazemos para “pagar” um favor, na melhor das hipóteses uma dívida de gratidão. Claro que ainda há aqueles poucos que ambicionam ser políticos a tempo inteiro, mais aqueles que o fazem por convicção profunda, mas cada vez menos.
Favores não se pagam, muito menos desta maneira. Já dívidas de gratidão tem o seu quê de nobre, só que também não temos que o fazer deste modo, nem andar a pagá-las toda a vida. “Fulano muito lhe fez e ele é um ingrato”, “ele é cão que não conhece dono”, são expressões para designar o carácter volátil de muitas pessoas que não nutrem sentimentos de certa constância.
Na política vale tudo, dirão outros, nem sempre com razão é certo. Efectivamente são tão criticáveis percursos que procuram provar uma coerência infeliz e inglória como os ziguezagueantes em que, por mais boa vontade, se não encontra nexo senão o do imediatismo vantajoso.
Numa vida política tão pouco “vivida” é natural que este comportamentos extremos sobressaiam, mas é um manifesto desperdício o tempo que se perde com eles. O aspecto a realçar, por mais infeliz, da vida política é a pequenez do meio, o facto de a política andar sempre à volta das mesmas pessoas, ou antes pelo contrário, o haver pessoas que se mantém demasiado tempo à volta da política como se ela fosse uma gamela onde se pudesse deitar a mão a qualquer altura e captar sempre alguns sobejos. A esperança não lhes faltará.
Para que isto seja tão deprimente não é sequer necessário mudar de fato, basta que os políticos “encartados”, os que ocupam, ocuparam ou tem ideia de vir a ocupar cargos de poder, se socorram sempre dos mesmos soldados para entrarem nas suas batalhas. Caciquismo, subserviência, de certo. falta de inovação.
A renovação é coisa que se não processa porque os velhos não querem perder os seus lugares, os novos não se sentem preparados para entrar numa disputa de que não almejam muito sentido. Os velhos não são capazes de transmitir o seu testemunho porque não o têm, não tem conhecimentos, fizeram carreira à base da esperteza, os novos não estão para alinhar em jogos falseados cujo resultado é quase sempre óbvio.
Uma democracia assim só existe formalmente, causa tédio e desmotivação e aqueles que se sentem atraídos pela actividade política nem sempre são os melhores. Por isso devemos tentar atrair quem o queira ser, base essencial, mas não queira simplesmente copiar comportamentos, fórmulas de sucessos, tiques e vícios e queira mudar este estado de coisas. Não é necessário acreditar em homens providenciais. È essencial exigir humildade e saber ouvir.
Uma nova geração não pode afastar pura e simplesmente outra, mas era bom que a fosse substituindo gradualmente. Mas mais importante do que somente pessoas é a possibilidade de modificar métodos. Só que não é plausível que se consigam substituir os métodos adoptados dentro dos partidos. Quem o tenta não tem sido bem sucedido ou exigem-lhe cartão partidário dourado.
Ainda não vi ninguém que gostasse de ser afastado. O normal é que as autarquias se percam e não ganhem. Sendo o CDS-PP imenso em Ponte de Lima é lá que se tem que pescar. Os desentendimentos vão aparecendo. Se tinha sido prometido a Daniel Campelo a Presidência da Assembleia Intermunicipal porque não a deu a Abel Baptista e cedeu-a ao PSD. O caminho de Campelo é cada vez mais estreito a manter-se no CDS-PP. Mas adaptar-se-ia ele a outros métodos?
O PSD de Ponte de Lima tem o seu problema a resolver que é a escolha do próximo candidato a um sacrifício inevitável. Também no PS se não vislumbra uma candidatura para este combate desigual. Podia Daniel Campelo ser a solução?

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Um 2009 com algum … … dinheiro para gastos

Já há muito que o dinheiro é quase tudo na vida. A grande maioria de nós já não é do tempo ou viveu em sociedades em que o dinheiro ainda não tinha este valor. Podemos dizer, é certo, que, para algumas pessoas, o dinheiro, quando era escasso para todos, lhe davam mais importância ainda do que hoje, porque até o preservavam mais do que a saúde.
Muitas pessoas, ou não estavam dispostas a pagar para se tratarem ou tentavam ganhar dinheiro sujeitando-se a condições muito prejudiciais para a sua saúde. Neste aspecto hoje até se preza bastante a saúde, mas quando esquecemos esta, quando ela nos não apoquenta, só vemos dinheiro, a sua resplandecência, aquilo que ele nos pode dar.
Pelo que é perfeitamente farisaico dizer que se gosta de viagens, por exemplo, e se não gosta de dinheiro. Estes que dizem não gostar, na realidade, não gostarão de poupar, estão no seu pleno direito, mas sem dinheiro só iam passear a pé e se tivessem tempo, que também é dinheiro. Mas farisaicos são também aqueles que dizem “sacrificar-se” pela sociedade, mas insultam tudo e todos se lhes beliscam regalias indevidas.
O dinheiro é hoje o eixo à volta do qual tudo roda, a mola que faz mover pessoas e põem equipamentos a funcionar, é o meio que torna tudo possível, a satisfação das necessidades dos que são escravos delas e dos caprichos de quem os tem e pode satisfazer. O mal é que o dinheiro tanto satisfaz a ganância como a sobriedade daqueles que se não deixam arrastar por aquela.
Para uns o dinheiro pode ter significados diferentes do que tem para outros, mas, seja qual for o sentimento com que cada um lida com ele, o maior ou menor apego que lhe têm, o maior ou menor desprendimento com que o gasta, o dinheiro tem uma função social, que é igual para todos, façam ou não uso de todas as suas possibilidades, manifestem ou não rejeição em relação a algumas delas.
Fundamentalmente o dinheiro é um meio de troca quase universalmente usado, o meio de entesouramento menos volátil, o meio de poupança com mais liquidez, o meio de investimento por excelência. Em qualquer uma destas funções nós podemos gostar menos dele, mas é na sua qualidade global que temos de o pensar e de resto é irrelevante que nós o rejeitemos quando andam milhões e milhões à sua procura e o utilizam para dar dinamismo à vida.
A velha ideia de que falar de dinheiro não é de pessoas cultas, ou pior de que isso, o dinheiro está longe dos temas que interessam à cultura, é uma ideia patética nos dias de hoje. Já não há hiatos, intervalos significativos entre temas diversos, seja do domínio da ciência, da arte, da economia. Hoje o dinheiro já não é a água cuja bebida faz perder a virtude.
Mas, mesmo que se aceite que pode haver uma aversão irredutível ao dinheiro, ao dinheiro autêntico, originada por algum facto passado, ela não é transferível para o conceito. Uma pessoa pode dizer que nem quer ouvir falar de dinheiro, mas poderá sempre, se se interessa pela vida em sociedade, falar dele como um conceito que “infelizmente” faz parte da vida dos outros.
Falarmos de dinheiro, espiolhar um pouco o que ele traz escondido, não é só ou pode não ter nada a ver com utilizá-lo, aplicá-lo ou poupá-lo melhor. Pode ser tão só no sentido de melhorar as nossas conversas, de sabermos mais do que estamos a falar, de podermos emitir opiniões menos deslocadas, mais oportunas e enquadradas, utilizando conceitos apropriados.
A cultura a desenvolver entre a população em geral já não pode ser imbuída daquele farisaísmo doentio dos profetas da desgraça, falando permanentemente das malfeitorias do dinheiro, do seu carácter corruptor das pessoas e corrosivo em relação a valores que dariam consistência a sentimentos que aproximam as pessoas em vez de as afastarem.
Não é ignorando o dinheiro que tal se consegue, é antes dando-lhe a importância que ele tem e ajudando a desmistificar os argumentos daqueles que o usam em proveito próprio com discursos pretensamente culturais e evoluídos. O facto de sabermos mais sobre o dinheiro só nos habilita a defendermo-nos melhor daqueles que nos arremessem com conceitos fraudulentos.
O dinheiro suja as mãos, perturba as consciências, entra na nossa vida através dos actos mais naturais, como o sexo. Influência a nossa vida desde logo pelo ambiente familiar, pelo ensino. Condiciona a perspectiva pela qual somos vistos, inclusive pela justiça. Determina o nosso estatuto social, a maneira como nos podemos apresentar.
Ninguém nos perdoa por sermos pobres. Perdoam-nos o sermos estúpidos e ignorantes, mas isto não é favor que se aceite. Fale-se de dinheiro com frontalidade e sem sofisma. Diga-se quando se tomam atitudes por causa do dinheiro e não se escondam as verdadeiras razões. Não se perca a dignidade por mais uns tostões, mas perca-se a vergonha de os reclamar, achando justo.
É um erro ignorar o dinheiro. Que o ano de 2009 nos traga cultura, única forma de lidarmos com a economia e o dinheiro de forma a sermos construtores de um futuro honrado e digno. E já agora algum dinheiro para gastos, agradece-se.