sexta-feira, 27 de julho de 2007

Como pode ocorrer a mudança na C.M. de Ponte de Lima

No panorama político limiano é comummente assumido que o futuro passa inevitavelmente por aqueles que já tem experiência no executivo autárquico e vá lá que alguma experiência, mesmo como vereadores a tempo inteiro, já a tem alguns elementos das três forças políticas mais representativas: o P.S., o P.S.D. e o C.D.S.
No P.S.D. tudo se encaminha para que o seu candidato seja o seu actual líder e ex-autarca João Barreto, que satisfaz aquela condição. Haverá poucos interessados em fazer frente a este potencial candidato, a não ser que António Martins, a eminência parda, desenterre alguma nova surpresa da sua cartola.
No fundo o P.S.D., a manterem-se as coisas como estão, vai resignar-se a esperar que um dia a direita se una e o C.D.S. lhe deite a mão. Entretanto procura sedimentar-se à volta de um núcleo duro de históricos que, embora tendo no geral dado fraca conta de si como políticos e gestores, salve-se o líder informal, procura agora ir juntando alguns novos trunfos.
No P.S. não parece nada viável que qualquer uma das pessoas que já exerceu lugares de vereação a tempo inteiro venha a assumir uma candidatura, estando porém o actual vereador sem pelouro Jorge Silva, mercê de um trabalho aturado e persistente, só lhe faltará a necessária visibilidade para ter óptimas condições para vir a ser um candidato a ter em contar.
Dizem que no P.S. há históricos que pretendem renascer, mas não lhes auguro grande futuro. Há sempre quem tenha a visão estreita da política como um fonte de benefícios e qualquer cor lhe sirva para atingir um objectivo. Há quem nunca tenha beneficiado do campelismo porque não lhe foi dada a importância que presumia ter e pode, pensando ter chegada a sua vez, chegar-se ao P.S.
Não há guardiães do templo e todos poderão aderir. Mas, a não haver uma renovação consistente, o P.S. corre o risco de ver perder todo o trabalho que está a ser feito e de ficar num dilema de ser tomado ou por anteriores derrotados ou por arrivistas ou por uma aliança dos dois.
O P.S. é um partido vulnerável, sem apoios regionais ou nacionais, com muita gente próxima, mas sem motivação para aderir e que só a custo se integrará. É necessário um corte com o passado em que desempenhou, quando lhe deixaram, o papel de acólito e de mestre-de-cerimónias de outra força política substancialmente diferente e chamar a si um papel afirmativo e bem demarcado.
Perdeu os votos a partir de 1989 quando do voto táctico em Fernando Calheiros e Daniel Campelo, perdeu a alma a partir de 2001 quando dos diabólicos acordos Campelo/Guterres. Não será fácil conseguir agregar um conjunto vasto de pessoas credíveis, capazes de defender um projecto perdurável que se saiba não estar dependente de conjunturas exteriores, nem de malabarismos interiores.
È que não falta gente, pronta a alinhar pelo P.S.D. ou pelo P.S. que queira agitar as águas, mas não o faz, nem sabe como o fazer. Este tipo de gente que exerce um efeito paralisante, porque espera sentada que factos menos correctos sejam trazidos à baila, não deixarão de pretender aparecer na primeira fila a querer reclamar alguma gratificação pelo nada que fizeram.
É necessário implantar na vida pública princípios de seriedade e rigor, fazer partilhar as ideias, oferecer colaboração institucional e ter lealdade para quem corresponder do mesmo modo. Mas a cultura que se instalou em Ponte de Lima é antes favorável ao chico-espertismo, o desenrasque de cada um, ao recurso aos amigos, aos conhecidos, aos favores políticos e outros.
Não é que esta cultura, por natureza situacionista, seja um exclusivo do C.D.S. de Ponte de Lima, porque tem defensores por esse País fora, mas em Ponte de Lima tem sido aproveitada com mãos de mestre e com a ajuda da televisão, para prosseguir uma política desconexa, festiva mas suicidária.
Este interesse televisivo é mesmo a manifestação clara que há aqui algo errado, que certo não vejo o quê, e as estrelas televisivas são o que são. Mas Daniel Campelo, como estrela com lugar assegurado no firmamento televisivo, corre sereno, consciente de que tem na mão o seu futuro, caia ou não Paulo Portas, suba ou não Abel Baptista.
As iniciativas que promove são todas patrocinadas pelo seu único e exclusivo critério, a que os seus vereadores se têm que sujeitar para terem algum lugar no palco mediático. Contidos na sua projecção própria, cirandam à volta do líder, louvam-lhe o gosto, despem-se de quaisquer ideias que os seus espíritos possam conceber, se é que ainda geram alguma.
Os seus papeis são diferenciados como convém a um bom líder que escolha a sua gente meticulosa e friamente, tratando de lhes podar os ímpetos de rebeldia. Quem lê o “Foi Assim” de Zita Seabra não encontra grandes diferenças com Álvaro Cunhal. Assim sendo não há a preparação de um sucessor, de alguém que agarre a “obra” e que a diga sua, porque isso nunca corresponderá à realidade.
Aliás nenhum líder tradicional se pretende clonar, não seja o clone melhor do que ele, sequer tão bom. E que se saiba até hoje Daniel Campelo só procurou caixas de ressonância, que se acha suficiente para o trabalho que tem. De herdeiros não vejo nem bons nem maus, vejo vereadores funcionalizados sem qualquer peso político, que não vá além do tradicional caciquismo.

Porque fazer da matemática um drama?

Não precisamos de ir muito para além do conhecimento empírico mas estes Americanos são uns desconfiados e vai de fazer estudos e mais estudos que eles queriam saber porque raio de razão hão-de ficar atrás dos Japoneses nesta questão das matemáticas.
E vai de chegar à conclusão que do talhado para a dança dos números até ao mentecapto, perfeitamente incapaz de fazer algo a dois números, seja qual for o sinal que os ligue, vai uma gradação contínua, pelo menos enquanto não houver correcções genéticas e inseminação artificial generalizada.
Não era coisa que não soubéssemos, que em teoria assim seria, mas na prática há países que apresentam melhores resultados no ensino e em particular o Japão, sem tal se dever a razões genéticas. Foi um descanso para a consciência americana quando, pelos estudos realizados, se chegou à conclusão que os Japoneses só conseguiram distorcer a sua performance matemática durante o período de ensino e com reflexos cada vez menores nos cinco anos seguintes.
Recomecemos para melhor percepção: As capacidades das pessoas são muitos semelhantes em quase todos os países com características parecidas em certos vectores, como o desenvolvimento médio e outros que aqui não interessará especificar. Grosso modo há uma norma de 20 % de pessoas predispostas, 20 % de tolerantes, 20 % de resignados, 20 % de renitentes e 20 % de relapsos.
Os adjectivos que eu utilizo dão bem a ideia do sentimento estritamente pessoal que cada pessoa assume nesta relação com a dita. Este sentimento pode, nos extractos médios, ser objecto de alguma intervenção das condições ambientais de modo a fazer tender a balança para um dos lados. Melhorando no caminho da excelência ou piorando no caminho da mediocridade.
Os Americanos queixavam-se de não sair da reles mediania. Os Portugueses queixam-se de não sair da pior mediocridade. Os Japoneses esses conseguiram, com uma grande dose de empenho e espírito de sacrifício, distorcer para melhor o seu panorama matemático, reduzindo drasticamente o número de péssimos e fracos e aumentando significativamente os excelentes e bons.
Como prémio de consolação os Americanos ficaram a saber que este resultado não é eterno e que aquela norma dos 20 % é para durar, na medida em que os alunos que conseguem melhorar a sua performance no ensino se não derem a devida prática aos conhecimentos adquiridos nos cinco anos seguintes, voltam ao nível médio que os Americanos com menos esforço conseguiram obter.
Como os conhecimentos adquiridos não o devem ser só para efeito documental, do dito canudo, mas para habilitar as pessoas ao exercício de uma qualquer actividade exigente, essas pessoas, utilizando-os, preservam-nos ou melhoram-nos mesmo com o tempo. A nós, como pior não podemos estar, restar-nos-á esperar também que as coisas não piorem depois do ingresso no mundo do trabalho e aí se consiga evitar a erosão natural dos conhecimentos ou na melhor das hipóteses alguma melhoria.
A melhor preparação matemática tem resultados económicos evidentes, maugrado a economia ter muitas outras linhas a cozê-la. Todos em Portugal acham que seria provável que um esforço determinado nesta área poderia ser determinante no acesso a outro patamar de desenvolvimento. A questão está em saber onde se deve aplicar esse esforço: se nos alunos, se nos professores ou será nos políticos?
As explicações para os nossos resultados medíocres estão ao nível das explicações para o nosso abandono escolar. Este, em grande percentagem, deve-se à criação de aversões enigmáticas e parece irreversíveis a algumas disciplinas, entre as quais o lugar de topo é ocupado pela dita.
Haverá pois que prevenir atempadamente o surgimento dessas rejeições, tarefa que, a não ser desempenhada pelos pais, tem que ser desempenhada pelos professores. Porque, se os pais não incentivam, só em certos casos, com graves anomalias familiares, atrapalham.
Pelo contrário existe uma grande percentagem de professores que atrapalham e não é pouco: Aqueles que foram alunos medíocres, aqueles que exercem outras profissões, sendo a de professor um part-time, aqueles a quem só lhes resta a vontade de dizer mal do Estado que lhes paga de modo principesco, entre outros.
Assim como o aluno não pode ser incentivado a abandonar o sistema de ensino prematuramente, antes de ter conseguido atingir um mínimo ao alcance das suas capacidades, também não deve ser estimulado a achar-se incapaz de progredir no conhecimento matemático a níveis razoáveis, o que os professores fazem, declarando-se incapazes de inverter a situação dentro do sistema.
A dificuldade inerente à matemática está provado ser ultrapassável, dependendo tão só do esforço que cada um possa despender no seu ensino. Se só está ao alcance fácil de um em cada cinco alunos está provado. Mas também o está que muitos outros têm capacidade com um pouco mais de esforço de chegar a bons e mesmo excelentes níveis. Haverá uma minoria que digamos “nem a martelo” mas convenhamos que isso em nada diminui essas pessoas.
Entre o excelente, o bom, o razoável, o mínimo e o péssimo, nem todas as pessoas vão ter necessidade durante a sua vida de utilizar sequer os conhecimentos que têm. Depois a sociedade tem lugar para todas essas pessoas. Além disso uma pessoa nunca está só numa sociedade em que, pelo menos teoricamente, haverá sempre funções complementares.
O papel da matemática é uma parcela no todo do saber e só será nefasto se, atrás de si, forem negligenciados outros saberes que da mesma só partilham uma dose muito reduzida. Pode ser contraproducente tanto empenho num só ramo por poder fazer tombar toda a árvore ingloriamente, antes mesmo de dar frutos.
O melhor seria um esforço global que nos alcandorasse acima da nossa proverbial displicência, abaixo da qual estão alunos e professores. Restará aos políticos formularem teorias coerentes assentes em organizações capazes.

sexta-feira, 20 de julho de 2007

Políticos, os catalizadores da nossa impulsividade

A Europa Ocidental é na nossa perspectiva a zona do mundo que age menos por impulsos, que mais tenta antecipar os problemas e encontrar novas soluções menos dolorosas, mais benéficas para todos. Procura controlar a impetuosidade de outros intervenientes sem fazer alarde da sua força.
No plano interno a Europa Ocidental ambiciona ser um espaço de liberdade em que este tenha a mais vasta possibilidade de afirmação. Cada vez mais os cidadãos europeus se consciencializam que há valores de que eles são os mais fiéis depositários e pessoas que, por mais criticadas que sejam, são as encarregues de os pôr em prática, os políticos.
Já não há um poder abstracto e sem responsáveis, valores resultantes de apriorismos incontestáveis, submissão incondicional a líderes naturais. Há poderes concretos, delegáveis, valores permanentemente testados, políticos removíveis, responsabilizáveis e sem impunidade.
A verdade é que o papel dos políticos tem sido posto em causa, pela irracionalidade da sua organização, pelas muralhas criadas à sua volta, pela dificuldade de acesso à sua responsabilidade directa., pela sua quase impunidade prática, mas daí a estabelecermos uma imputabilidade geral, a que hoje muita voz pública os sujeita, vai um perigoso passo.
O mal-estar gerado por esta entrega do nosso destino a um número limitado de pessoas, pelo facto de não estarmos mais sujeitos a desígnios superiores à nossa vontade colectiva e de estarmos sós na nossa tomada de decisões tornou os políticos em catalizadores do nosso des/contentamento.
Em relação aos políticos criamos uma proximidade que, no geral, não deixa de ser virtual, mas que permite que sobre eles descarreguemos os nossos sentimentos mais negativos ou mais positivos, conforme a ocasião. E, como os negativos prevalecem, o som de fundo mais audível é o da contestação e muito do trabalho do político é de preparação para se manter imune a ele.
Com razão ou sem ela a nossa bílis vai-se descarregando sobre as personagens mais marcantes do panorama político, mas cada vez menos há possibilidade de essa descarga ter efeitos directos. Se os políticos fossem sensíveis a todas as vozes ficavam paralisados.
De qualquer modo nós ficamos aliviados, a nossa impotência justificada, os nossos falhanços ressalvados, transformados em falhanços colectivos, as nossas expectativas de algum modo conformadas, as nossas opções tão só reduzidas ao mal menor.
No fim temos sempre uma opção a apresentar em alternativa a esta: O mudar de políticos. E aí, na impossibilidade de irmos buscar fora da Europa políticos mais impulsivos, que pudessem queimar umas etapas no glorioso caminho do usufruto indiscriminado de todos os bens, temos de nos conformar a mudanças mais limitadas, mais sensatas e mais plausíveis.
Na política há muita coisa a mudar, mas mais ainda na organização do Estado, no qual políticos e não políticos, parasitas e gente incapaz estão incrustados há muito, minando a sua credibilidade, fazendo batota, ocupando o tempo com jogos de influência e tráfico de informações.
Os políticos são necessários, imprescindíveis e insubstituíveis. Mas o seu campo de acção tem que ser drasticamente limitado porque há sempre quem não resista, a ocasião faz o ladrão e onde houver bom pasto há tentação de ir comer a erva tenra. Em Portugal impõe-se uma clara diminuição da parte do Estado sobre a influência directa dos políticos.
Os políticos têm que ver perdido o seu poder de dar cobertura aos seus apaniguados, sejam políticos ou outros, ou pelo menos seriamente restringido. Os políticos não podem enxamear a máquina do Estado de pessoas comprometidas, nem podem ter poder sobre todos os que lá estão.
Em contrapartida, os políticos têm que ter poder bastante para pôr em execução as suas medidas. Mas, se esse poder tem que ser reforçado, também tem que ser exercido através de outras vias que não as partidárias. Os políticos não podem ter outros apoios que não o dos órgãos legítimos da administração.
Os políticos não podem ter a desculpa de terem uma administração incapaz, ineficiente, obsoleta. Mas acima de tudo não podem ter o boicote, a fuga à responsabilidade, a apatia dos seus agentes. Mais do que noutros países em Portugal esta é uma verdade evidente. O facto de quase todos terem um apadrinhamento qualquer dá origem a dormirem sobre o seu cargo.
Não podemos é virar a nossa ira só para um lado, numa altura para os funcionários públicos, noutra ocasião para os políticos, noutro momento para os empresários ou para os trabalhadores em geral. Podemos, sem dúvida alguma, dizer que é todo o sistema que funciona mal.
Podemos exigir tudo aos políticos, mas demos-lhes as armas necessárias para as intervenções que terão que ser feitas noutros sectores para que possam ter algum sucesso. Afinal é sobre eles que nós temos algum poder, porque todos os outros ainda são mais esquivos do que eles.
Não podemos aceitar aquilo que já se tornou um espectáculo nacional: O ver os políticos dançarem, ora agora uns, ora depois outros, sem coragem para fazerem roturas ou deixando-as a meio. Muitos não o farão por comodismo, mas porque não sentem do povo o apoio necessário. Afinal os últimos responsáveis somos sempre nós, eles catalizam tão só os nossos impulsos.

sexta-feira, 13 de julho de 2007

Como não alimentar a nossa inveja

No relacionamento humano há um sentimento que valoriza as relações mais afastadas e inquina as mais próximas: a inveja. Naqueles que vagamente conhecemos e/ou com quem mantemos relações distantes e virtuais facilmente encontramos motivos de admiração que subtraímos ao lodaçal do sentimento da inveja. Os próximos são sempre piores.
Em quem, senão nos que utilizam o mesmo caminho que é o “nosso”, havemos de alimentar a nossa cobiça? No entanto, se há quem queremos que confie em nós são precisamente os que partilham esse caminho. Normalmente, porque os queremos ao nosso lado, escusamos de lhes manifestar qualquer rivalidade.
Até que é a interactividade que permite que se crie uma emulação salutar, como base para dar bons resultados. Mas é a proximidade que leva à aversão ou ao desrespeito dos outros. Por isso muitos, quando são suficientemente independentes, se afastam e isolam de relações que suspeitam serem potencialmente geradoras de inveja. São as pessoas avisadas que se retraem nos relacionamentos e os restringem ao essencial.
Porém nós não podemos assentar a nossa vida nesta desconfiança permanente. Temos que saber conviver com ela, exorcizá-la ao máximo mas ser realista. Alguma inveja é sempre inevitável porque ela é apanágio das sociedades livres em que nós queremos viver.
Paradoxalmente no regime de Salazar a inveja não despontava facilmente. Quase todos se sujeitavam a aceitar o seu lugar pré-estabelecido. Éramos humildes e resignados mas só o éramos à força.
Hoje a inveja é dos tais sentimentos sempre latentes, ora incómodos ora prontos a explodir destemperadamente em caso de grave conflito e/ou quando acharmos conveniente. È a inveja que muitas vezes nos faz pôr mal dispostos por não podermos negar a sua existência mas nos dá força para lutar.
De qualquer maneira é possível falar do invejoso como aquele, secretamente ou não, faz da inveja o principal alimento da sua vontade de vencer, de ultrapassar os outros e que utiliza o seu eventual sucesso de modo mais egoísta do que seja considerado normal.
Em liberdade qualquer um pode sonhar “subir na vida” com ou sem respeito pelas regras sociais. Mas o invejoso quer é mesmo subir na vida e leva essa liberdade ao extremo, torna-se exacerbadamente individualista ao ponto de só acreditar em si e de estar sempre alerta, não vão os outros passar-lhe à frente.
Que se cuidem aqueles que se cruzem no seu invejado caminho, é o pensamento do inveterado invejoso, no seu fraco entendimento. Porque invariavelmente ele leva a sua avante. Tem um estilo que lhe permite estar bem na sociedade ou nalgum grupo mais restrito e mais permissivo.
O invejoso procura o “bom” relacionamento social. Aí sempre poderá conseguir os apoios que lhe faltam, mas sabe que vai encontrar resistências. Pelo que não descura o “mau” relacionamento, mesmo que a desgosto, na necessidade que sente de suprir a falta daqueles apoios.
O invejoso, pela sua sensibilidade ao antagonismo, tem imensa dificuldade em manter amizades, principalmente se não encontra receptividade para que lhe alimentem o ego e não vê de onde possa vir ajuda para os seus planos ascensionais. A contra-gosto vai tolerando manifestações de indiferença, mas ser repudiado é que ele não tolera.
Tudo se agrava se quem ele “quer” que se comporte como seu submisso apoiante toma destas atitudes. Quem se coloca fora dos seus planos reais ou virtuais de poder ser utilizado como apoio à sua ascensão pode vir a ser vítima da sua raiva. Não só descarta as pessoas que lhe “falham” mas até as toma por traidoras mesmo que nunca tenha feito qualquer pacto com elas.
Este invejoso é aquele presunçoso que sempre que pode se envolve numa teia social. Ambiciona a liderança mas mede bem os passos que dá. Carece de aliados e dá-se bem nos círculos em que vigora o elogio recíproco. Mantém quanto pode escondido o seu jogo e nunca o abre à totalidade dos seus confrades. Preguiçoso, está sobremaneira preparado para ocupar o vazio.
Este invejoso, no seu mercadejar constante, não conhece a lealdade. Coisa pouca ou nenhuma afinal no seu universo de valores. Tudo para ele é temporário e quebradiço. Às quebras dos comportamentos esperados dos outros chama traição, às suas inflexões chama conveniências.
Actuando sempre sob reserva mental, abre o jogo só àqueles de quem precisa no momento. Nunca prescinde do lugar que já tenha ocupado. Se pode armadilha o caminho aos outros. No geral porém é imprudente ao subestimar exageradamente a força dos seus opositores.
Este invejoso designa-se popularmente por “cão que não conhece dono”. Assume facilmente a postura de dono para exigir subserviência. O impudor e a arrogância até o levam a confundir qualquer outro sentimento mais nobre com este, sinal de que nunca pensa retribuir
Em relação a algumas pessoas que poderiam ser incluídas nesta classificação, a nossa reacção, se pode assumir a reserva mais arreigada, não deve ultrapassar a simples desconfiança, o normal “estar de pé atrás”. Temos de achar o equilíbrio entre não deixarmos que a suspeita viva permanentemente no nosso espírito e não nos deixarmos passar por parvos.

Quem serão os próximos candidatos autárquicos?

Em Ponte de Lima o P.S.D. sempre foi o Partido mais votado em eleições legislativas, mas nunca o foi para o mais importante órgão autárquico, a Câmara Municipal. Porém dos quatro primeiros mandatos democráticos o P.S.D. não se poderá queixar porque foi um fiel aliado do poder, concorrendo em separado ou integrando as listas do A.D.. Claro que se sujeitou a aceitar papéis de segunda, mas já não foi mau.
Quando pela primeira vez tentou fazer valer nas autárquicas os votos auferidos nas várias legislativas, socorreu-se das pessoas que integravam o anterior mandato do C.D.S., mas essa estratégia não veio a ter sucesso.
Nessa eleição ainda houve um certo equilíbrio, que se foi perdendo à medida que os centristas foram minando as bases de apoio social-democrata nas freguesias, conseguindo a progressiva e despudorada transferência de quase todos os presidentes de junta.
Daniel Campelo entrou em cena nesta ocasião, primeiro como vice-presidente depois como presidente, sendo estas duas eleições vencidas tangencialmente. Para isso contribuiu sobremaneira a generalizada aversão ao cavaquismo que tomou o P.S.D., como forma de estar na política, e que haveria de indispor o próprio Cavaco Silva e levá-lo a abandonar.
Sendo os candidatos do P.S.D., bem como os seus mais notórios apoiantes, pertencentes àquele grupo manipulador, a chamada esquerda fez desta tentativa de monopólio social-democrata o objectivo a derrotar e elegeu Daniel Campelo em detrimento de uma participação própria.
Nem sempre as opções populares se vieram a revelar as mais correctas. Uma grave perca para Ponte de Lima, que viria a ser a do Queijo Limiano, haveria que servir de trampolim para que Daniel Campelo ascendesse ao estrelato mediático. Como facto nada acrescenta em termos de valor, porém é um grande trunfo eleitoral que com mão de mestre tem sabido aproveitar.
Ainda por cima o P.S.D. apostou em repetentes para opor às duas primeiras candidaturas de Daniel Campelo. Este foi alargando o seu espaço, mercê do Queijo e dos dois votos a favor da passagem dos orçamentos do segundo mandato de Guterres. A oposição restou atordoada.
A inoperância, a demissão, a volatilidade, a incompetência de uma oposição deslumbrada, inconsequente e mais preocupada com os interesses egoístas dos seus membros, levou ao seu quase total apagamento. Também o P.S., recuperando embora um vereador, haveria de ser representado no anterior mandato por quem pouco mais fez que ser um mestre-de-cerimónias.
O P.S.D. limitou-se a sonhar em fazer renascer a A.D. e por essa via pôr um pé no executivo. O fim de Santana Lopes foi o fim desta expectativa nunca cumprida. Tudo está hoje em suspenso e dependente da evolução partidária a nível da direita nacional. E neste domínio tudo é imprevisível.
Os habituais aprendizes de feiticeiro vão fazendo as suas previsões e, na penumbra, é natural que os pretensos candidatos se vão perfilando na tentativa de, a caírem as coisas para o seu lado, eles já lá estarem, prontos a avançar.
Mas em vez de previsões nada plausíveis, seria bom apelar a uma participação imperiosa no aspecto cívico, independente de ambições e das ideias que se defendam. As candidaturas serão para depois mas não se sujarão os pergaminhos de ninguém se se vier a constatar que as suas ideias não chegam para passar a esse patamar.
Não vão aqui surgir milagreiros caídos do céu. Entristece-nos ver a politica limiana andar à volta de pessoas de que se não conhece uma ideia, que não conhecem quaisquer princípios de gestão, seja financeira, urbanística ou patrimonial. Que não têm sensibilidade para os problemas humanos.
Estamos numa sociedade muito vulnerável ao aparecimento de indivíduos aureolados das mais diversas maneiras. Porém muitos deles, por mais justificação que exista para este facto, não estão minimamente habilitados para a gestão municipal. Essencial é ter uma visão estratégica, fundamentada e exequível. E não ter interesses encobertos.
No domínio da preparação todos terão que partir praticamente do zero, que não há uma escola, uma prática aceitável, sequer uma experiência capaz. Ninguém é hoje senhor de dominar todos os aspectos da gestão autárquica. As Câmaras cada vez menos tratam só de cimento e alcatrão, embora estes ainda sejam importantes, e mais de aspectos sociais, educacionais e de emprego.
Seria bom que não surgissem só pessoas com exacerbadas ambições pessoais, mas sim gente disposta a dar a sua colaboração cívica sem curar de se colocar antecipadamente como dona de algum dos blocos de partida antes disposta a trabalhar em equipa, sem ideias pré definidas.Sabe-se que os primeiros a aparecer são aqueles que querem aceder ao poder municipal para os seus jogos de influência e que só avançam se virem que estão ao lado do cavalo ganhador, ou pelo menos, daquele que, sendo mais fraco, é o único que se apresta a dar-lhes guarida, porque actuam por ressaibo ou têm uma velha ambição que vem de pequeninos.

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Vantagens e desvantagens do partidarismo

O partidarismo tem vantagens e desvantagens que são notadas por todos, mas de que os que aceitam as suas regras têm obrigação de estarem mais conscientes. Entre as desvantagens destaquemos o facto de nós não “podermos” mostrar agrado por uma medida que achamos consistente mas não foi tomada pelo partido do nosso coração, nem desagrado por atitudes não fundamentadas que este possa tomar.
Uns aceitarão fácil e alegremente este coarctar da sua própria liberdade. De entre estes podemos destacar aqueles que o fazem pelo seu próprio interesse, mas também aqueles que, não tendo, nem esperando vantagens, o fazem pela fidelidade assumida à posição política abraçada, cujo âmbito é pessoal.
Outros acharão que isso é constrangedor e dispõem-se a formular o seu desacordo em relação às posições que teoricamente lhe estariam mais próximas. De entre estes destacaremos os que prezam sobremodo a sua liberdade e acham que a sua fidelidade não justifica que se apague a sua discordância, mas também aqueles que acham que são os outros que não estão a ser fiéis aos seus compromissos.
Esta desvantagem do partidarismo é tão incómoda que só conhecendo muito particularmente uma pessoa chegaremos alguma vez a saber se está a ser hipócrita ou convicta ao dizer bem das medidas dos correligionários e mal das medidas dos adversários, visando com isso agradar aos primeiros e chatear os segundos.
Em relação àqueles que não partilham esta aceitação das regras do partidarismo, mas também não formulam juízos de valor acerca dos seus intervenientes, a nossa curiosidade não vai a esse ponto de dúvida. Resta-nos acreditar na coerência e honestidade do seu comportamento pessoal.
As fidelidades partidárias impõem-nos que não sejamos tão claros na aceitação de um julgamento tão linear. A realidade tem que ser mais aprofundada, tem que haver mais rigor para que o julgamento seja mais adequado à dificuldade que se apresenta àqueles que querem intervir politicamente utilizando os aparelhos partidários e aceitando a sua lógica.
Em verdade nós transportamos para dentro dos partidos a idiossincrasia de cada um e, nuns mais que noutros, mas sempre, a índole de um povo. E que muitos vêm aí a origem de todos os erros e de todas incoerências. No entanto, na verdade, é necessário analisarmos a natureza que as decisões assumidas pelos partidos, através dos órgãos por si dirigidos, podem assumir.
Há em Portugal uma falta de rigor em todos os aspectos e em particular na maneira de ver a política. Em primeiro lugar porque associamos o rigor ao totalitarismo e ao autoritarismo dos agentes políticos do passado e ainda baloiçamos entre a falta de rigor que tanto nos agrada e o rigor que até achamos que é legítimo que nos seja imposto.
Mas o rigor, sem ser a nossa melhor característica, é fundamental na análise da aplicação das medidas políticas concretas. Estas podem ser consideradas avulsas ou devidamente planeadas, mas há um princípio que pode ser fundamental para aferir se esta classificação é correcta: A oportunidade. Também esta tem que ser vista com rigor.
Por vezes é preciso tomar atitudes e aceita-se que se tomem, sem que elas estejam programadas, quando se torna imperioso que assim seja. Não podem ser rejeitadas só por esse facto, quando muito pode ser exigível que tenham continuidade a partir daí, passe a haver uma programação adequada.
Mas também é por via duma análise não rigorosa que atribuímos um carácter avulso a todas as medidas em vez de nos preocuparmos em desmontar a globalidade da política em que elas possam estar inseridas, nem apresentamos uma outra visão global, que permitiria provar se determinada medida poderia e deveria ser tomada, suavizada, minimizada, simplesmente abandonada e porque não agravada.
O partidarismo tem como grande vantagem a promoção de um maior rigor analítico. Ele permite a elaboração de visões integradas, coerentes, suficientemente apoiadas e difundidas para que se lhes atribua a plausibilidade de uma implementação eficaz e vantajosa, que nisso não tenhamos dúvidas nem receios, será sempre mais para uns do que para outros.
Não é o posicionamento dos partidos no espaço ideológico da direita à esquerda que determina a razoabilidade das medidas que se tomam ou propõem. Assim como não são as falsas referências a uma hipotética hipocrisia pessoal que podem dar ou retirar credibilidade àqueles que se empenham em assumir projectos colectivos.